Com votação secreta, Alema deve reeleger hoje Iracema Vale
Raimundo Borges – Bastidores
Com franco favoritismo no plenário, a deputada Iracema Vale (PSB) pode ser reeleita na manhã desta 4ª feira, presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão para o biênio 2025-26. Ela já estava reeleita desde junho de 2023 em eleição antecipada, depois contestada no Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria Geral da República (PGR), a pedido do partido Solidariedade. Por ter sido realizado com tanta antecedência, aquele pleito foi cancelado por recomendação do ministro Luiz Fux, em acordo com a própria Alema, que ganhou 30 dias para mudar o regimento interno e adequá-lo às novas regras definidas por Fux, a exemplo do que ele fez também em Tocantins.
A caminho de completar 200 anos, a Alema deve reeleger Iracema Vale, primeira mulher a presidir a chamada Casa do Povo, em 187 anos. O fato se deu no dia 1º de fevereiro de 2023. A diferença da eleição desta 5ª feira é a nova regra que determina o voto secreto. Até então, quando havia acordo no plenário com chapa única, todos votavam na chapa. Na hipótese de disputa pelos outros cargos da mesa, a votação era nominal. Agora, o ex-presidente Othelino Neto (SD) será também candidato a presidente contra Iracema. Deve haver candidatos isolados para os demais sete cargo da mesa diretora.
Quem “inventou” a processo de reeleição da Alema foi o ex-deputado Manoel Ribeiro que já vinha de uma experiência parecida como presidente da Câmara Municipal de São Luís. Como deputado estadual, ele foi eleito presidente em 1997 e prosseguiu sendo reeleito por quatro mandatos consecutivos, num período de 10 anos no comando do Poder Legislativo. Foi um caso único no parlamento. O ex-deputado Ivar Saldanha foi presidente da Alema por quatro vezes, porém, em período intercalados entre 1952 e 1981. Mas um dos momentos mais tensos na Casa foi na eleição dos delegados maranhenses à última eleição indireta que elegeu Tancredo Neves para o Planalto e José Sarney como vice.
Como a ditadura já estava aos frangalhos em 1984, mesmo com a derrubada da Emenda Dante de Oliveira que pregava eleição direta, no Maranhão os deputados malufistas, que votariam no candidato Paulo Maluf, foram a Brasília nas véspera da eleição para garantir os votos definidos. O deputado Nagib Haickel (PDS) os levou para acertos com Maluf, e no retorno todos foram resgatados no Aeroporto e levados num ônibus para a mansão do malufista Haickel, no bairro Olho d’Água, onde permaneceram custodiados até o dia e a hora da votação. A sessão da Alema virou pandemônio, sendo invadida por forças federais armadas de metralhadoras e pistolas para “acalmar” os ânimos exaltados dos opositores do regime militar. Deu manchete na imprensa nacional.
Hoje a Alema vive um dos momentos mais tranquilos de sua história que, vez por outra, se confunde com a história do Maranhão. Iracema Vale foi eleita por aclamação a primeira mulher presidente, no primeiro dia de mandato como deputada estadual, em 1º/02/2023. Até a oposição ao governo estadual ficou diminuta. Hoje são menos de cinco deputados. Othelino Neto, que presidiu a Casa ao substituir o presidente Humberto Coutinho em janeiro de 2018 e reeleito até 2021, hoje é o cabeça da oposição. Nos dois mandatos, Flávio Dino tinha mais opositores do que Carlos Brandão tem hoje na Alema.
Desde 2023, Brandão e Iracema Vale têm mantido uma relação de proximidade, parceria e apoios recíprocos. A nome da deputada do PSB, que era do PT até 2022, está no centro do debate sobre a sucessão do governador em 2026, como uma opção. Os dois trabalharam em completa sintonia na eleição municipal, quando os partidos da base governista elegeram 157 prefeitos, o que significa uma folga para a disputa do governo, mas não quer dizer que todos estejam no mesmo barco na disputa do Palácio dos Leões. Até porque a eleição de governador tem tudo a ver com a de presidente da República. Hoje o PSB é alinhado ao governo Lula, mas daqui a dois anos, muitas marés ainda vão subir e descer baixo da Ponte José Sarney.