As histórias pitorescas de vice-governadores do MA
Raimundo Borges – Bastidores
Desde 1947, no pós-Estado Novo, pelo menos 18 governadores passaram pelo Palácio dos Leões, sede do governo do Maranhão, mas poucos foram os que terminaram o mandato por eleição indireta ou voto popular rompidos com os respectivos vices. Desavenças aqui e acolá sempre aparecem na relação entre mandatários municipais, estaduais ou federais, mas normalmente não passam disso. Alguns desses 18 vice-governadores assumiram a titularidade do mandato e marcaram pontos na política história do Maranhão, como Antônio Jorge Dino, vice de José Sarney; João Alberto, vice de Roseana Sarney; e Carlos Brandão, vice de Flávio Dino nas duas eleições que ganharam.
E agora, exatamente nesse momento tumultuado da vida nacional é que o atual ocupante do Palácio dos Leões sinaliza não pretender deixar o mandato em abril de 2026 para concorrer ao Senado e transferir o poder ao vice Felipe Camarão (PT). Nessa hipótese, o novo governador seria candidato à reeleição e Brandão concorreria a uma das duas vagas disponíveis no Senado Federal. Porém, um acordo que haveria entre Brandão e Flávio Dino, selado em 2022, já estaria com a validade vencida. Os dois vivem sem se suportarem nas sombras, enquanto os aliados se encarregam de fermentar em público as malquerenças inerentes ao poder.
No âmbito do governo estadual, Brandão tirou férias este mês, viajou para o exterior com a família e deixou o vice ocupando o cargo, mas sem ousar avançar além do protocolo legal da interinidade. Ao ser demitido da Secretaria de Educação, onde batia de titular ponto desde a gestão de Flávio Dino, Felipe Camarão perdeu espaço político no governo e permanece apenas na condição de substituto eventual. Para ser candidato a governador terá que substituir em definitivo o titular Carlos Brandão que, após ele renunciar em abril de 2026. Ou então partir para o tudo ou nada, renunciando a função de vice-governador e disputar o governo por sua conta e risco.
Desde o restabelecimento da reeleição no Brasil em 1997 no governo Fernando Henrique Cardoso, a função de vice-governador foi supervalorizada a partir da escolha, em razão da possibilidade de ele concorrer ao governo e o titular sair para o Senado. Antes disso, o vice era uma figura decorativa, de pouca influência política. Mas houve casos curiosos, como o vice do governador Nunes Freire, o médico José Murad, que assumiu o governo antes de o titular, que estava fazendo tratamento cirúrgico das vistas em Minas Gerais. O engenheiro João Rodolfo Ribeiro Gonçalves, vice de Luiz Rocha viveu quatro anos bem longe do Palácio dos Leões, com o gabinete numa sala modesta da Rua do Egito, sem ser chamado para coisa alguma.
Assim como o governador tinha uma mansão de descanso e veraneio à beira-mar, no Alto do Calhau, que Flávio Dino a transformou na Casa de Apoio Ninar para atendimento de crianças com problemas de neurodesenvolvimento, o vice governador, porém, continua com a sua morada oficial no bairro do Turu. O gabinete não funciona no Palácio dos Leões, mas num dos 10 andares do Edifício João Goulart, na mesma Avenida Pedro II, do Palácio dos Leões. Mesmo estando trabalhando em endereços tão próximos, Carlos Brandão e Felipe Camarão não têm hoje a mesma relação de proximidade do tempo em que o vice ocupava o comando da Secretaria de Educação, a maior no organograma do governo.
O vice-governador de Edison Lobão, o juiz aposentado de Imperatriz, José Ribamar Fiquene assumiu o mandato de titular em abril de 1994, quando Lobão renunciou para concorrer ao Senado. Por nove meses ele fez um governo tão popular que, vez por outra, reunia os amigos ao redor da piscina do casarão de veraneio da Praia de São Marcos em animadas noitadas de serestas com ele no violão. Era um bon vivant que sabia descontrair o poder político, então sob absoluto controle do sarneísmo, quando até a oposição era inexpressiva, além do prefeito de São Luís, Jackson Lago (PDT), que nunca contemporizou, até ser eleito governador com o Pastor Luiz Porto na vice, também trazendo de Imperatriz.