A eleição de São Luís no cenário do Maranhão para o ano de 2026
Raimundo Borges – Bastidores
Na história de 412 anos de fundação, a cidade de São Luís vai ter no próximo domingo uma das eleições mais emblemáticas, desde o primeiro prefeito eleito pelo voto direto, Afonso Pereira Epitácio Cafeteira, em 1965. Depois daquele pleito, no regime ditatorial de 1964, São Luís voltou ao processo de prefeitos nomeados pelo governador do Estado até 1985, quando a eleição direta foi restabelecida e a cidade elegeu Gardênia Ribeiro Gonçalves. Sem dúvida, um fato histórico para aquele momento político, no ano em que José Sarney tomou posse como presidente da República, o último a chegar ao Planalto por eleição indireta do Colégio Eleitoral que tinha como cabeça de chapa Tancredo Neves.
No próximo domingo será realizada a 12ª eleição na capital maranhense que, ao longo da história já teve intendentes, interventores e prefeitos. Entre 1890 a 1921 os gestores da cidade ludovicense eram chamados de intendentes. A partir de 1922, por uma emenda à Constituição do Maranhão, o cargo ganhou o nome de prefeito e nomeado pelo governador. Durante a Era Vargas, prevaleceram os gestores nomeados pelos governos provisórios ou interventores federais. Depois do Estado Novo em 1945, a política de nomeação de prefeito prosseguiu até 1965, quando foi realizada a primeira eleição pelo voto direto e universal.
Aquela eleição foi possível graças a uma ação articulada pelo então suplente de deputado federal, Epitácio Cafeteira, como interino na Câmara. Em abril de 1965, ele aprovou a PEC n° 12/1965, de sua autoria, pela qual foi restaurada a autonomia política de São Luís e de todas as capitais. Em 3 de outubro de 1965, Cafeteira foi eleito, sob o slogan “Prometeu e Cumpriu”. Em 1969, os militares acabaram as eleições diretas e os prefeitos passaram a ser “biônicos”, com filiação na ARENA, indicação do governador, também “biônico”, e aprovado pela Assembleia Legislativa. O último prefeito indireto foi o empresário Mauro Fecury e o recordista na “bionicidade”, Ivar Saldanha – três vezes prefeito e uma governador.
Não resta dúvida de que a eleição deste domingo em São Luís, a vitrine política para todos os demais 216 municípios do Maranhão, carrega o figurino da esquisitice. É a primeira vez que não tem um cacique apoiando um lado do campo. Não tem Sarney, Lago, Castelo ou Lobão. No vácuo de comando, está nascendo uma história nova. O prefeito Eduardo Braide é o bloco do ‘eu sozinho’. Não se apoiou em Carlos Brandão, ignora Flávio Dino e tem Sarney apenas como referência histórica. Os três senadores Weverton Rocha, Eliziane Gama e Ana Paula vão sair destas eleições fazendo conta de votos e de eleitos, para redesenhar o futuro em 2026, com Brandão comandando a política maranhense.
Se Eduardo Braide (PSD) conquistar o novo mandato já neste domingo, como projetam todas as pesquisas, ele já será considerado um nome forte para 2026. Como Brandão insinua que não vai disputar o Senado e ficará no cargo até o fim, obviamente planeja fazer um sucessor de sua absoluta confiança. Tem como opção a deputada Iracema Vale (PSB), o sobrinho Orleans Brandão (MDB), ou, em uma via transversal, Eduardo Braide. Como prefeito da capital bem avaliado (e se reeleito no 1º turno), Braide nem precisa procurar padrinho. Ele vai protagonizar na boca do palco – principalmente por não ser de esquerda ou carimbado de direita.
O fato de o governador Carlos Brandão está percorrendo o Maranhão, fazendo campanha separado do vice Felipe Camarão (PT) é sinal de que o projeto de sua sucessão não passará pelo mesmo “trâmite” que prevaleceu em 2022, sob o comando do então governador Flávio Dino, hoje um peça fora do baralho no jogo político maranhense. Como a política é um eterno virar e revirar de página, não será nada espantoso se Braide reeleito decidir andar alguns passos rumo ao Palácio dos Leões para o começo de uma gestão compartilhada com o governo do Estado, em nome da civilidade política e dos interesses da capital e com o olhar voltado para 2026. Mais uma esquisitice da política.