Passividade como ação para transformar
Gandhi era contra a separação, pois acreditava na convivência pacífica entre os cidadãos, dentro da sua concepção de tolerância e igualdade
Mahatma Gandhi foi um indiano notável, um ativista que envidou todos os esforços para que seu país pudesse ser ouvido pelo mundo. É um daqueles casos únicos: um homem de aparência frágil, usando a força da palavra, enfrenta a grande nação inglesa pelo fim do colonialismo e independência de seu povo.
Conseguiu irromper o sistema apenas com suas ideias. Liderou manifestações sempre pacíficas e promoveu um forte movimento de resistência sem violência, que ficou conhecido como “Satyagraha”, termo que Gandhi usou para nomear a filosofia que o tornou conhecido mundialmente.
Gandhi nasceu em 1869, em Porbandar, na Índia. Como era filho do primeiro-ministro do principado onde sua família vivia, pôde ter acesso a uma boa educação e a cultura da não-violência, devido ensinamentos religiosos vindos de sua mãe.
Em 1888 foi enviado para cursar Direito na University College London (UCL) em Londres, acontecimento que mudaria sua vida. Retornando à Índia, em 1891, passou a advogar, oportunidade em que precisou ir para África do Sul a trabalho, passando alguns anos em um país com desigualdades gritantes, o que o fez atentar, também, para os problemas da Índia.
Naquele país, que, assim como Índia, era uma colônia inglesa, se deparou com atrocidades cometidas pelos colonizadores. Os contrastes sociais eram latentes e a segregação era uma prática comum.
Passou ali a exercer sua atuação política de resistência baseada na paz, vindo a fundar uma seção do Partido do Congresso Indiano. Escritor, sintetizou seus ideais de liberdade e resistência pacífica na obra “Autonomia Indiana”, publicada em 1908.
Na Índia, disseminou o “Satyagraha”, uma forma pacífica de protestar, lutar por direitos e debater ideias. Devido esse perfil de atuação, passou a ser chamado de Mahatma, cujo significado para os indianos é “grande alma”.
Apesar de pacifista, era atuante, sempre colocando a frente seu propósito de uma Índia livre e uma nação autônoma. Esteve à frente de diversos levantes, sempre pacíficos, contra a dominação inglesa, sendo igualmente detido diversas vezes por suas ações e preso em duas oportunidades.
Mobilizava a população contra os altos impostos ingleses e um de seus atos de maior repercussão foi o movimento para que indianos não comprassem roupas desses comerciantes, incentivando seus compatriotas a produzirem suas próprias vestimentas, tal como ele próprio fazia. O ato ganhou simbolismo tão grande que até os dias atuais a bandeira nacional utiliza o mesmo material que Gandhi utilizava em suas roupas.
Outra grande mobilização ficou conhecida com a “Marcha do Sal”. Os literalmente salgados impostos sobre este produto fez com que Gandhi reunisse uma multidão e caminhasse centenas de quilômetros rumo ao mar. Mais do que a ideia de extrair o produto diretamente da fonte, estava configurado um dos mais importante atos de protesto do mundo. Além das mobilizações, ele incentivou greves, jejuns, atos religiosos e pregou a simplicidade.
Após décadas de luta, em meados da década de 1940 a Índia alcança sua tão almejada autonomia, mas havia um conflito religioso interno que precisava ser resolvido. As ideias de Gandhi para uma Índia democrática, com igualdade política para todas as raças, religiões e classes infelizmente não conseguiram prosperar frente ao ódio entre hindus e muçulmanos.
A tentativa de unificação se fundava no fato de que as religiões eram apenas caminhos diferentes para alcançar o mesmo ponto Divino. O líder religioso, no entanto, não conseguiu a almejada pacificação e após conflito que deixou seis mil mortos, a solução encontrada foi dividir o país em dois.
De um lado ficou a Índia de maioria hinduísta e do outro o Paquistão com maior parte islâmica. Embora separados, os países continuaram convivendo com conflitos em diversas partes, destacadamente na divisa entre os dois territórios.
Gandhi era contra a separação, pois acreditava na convivência pacífica entre os cidadãos, dentro da sua concepção de tolerância e igualdade. Porém, acabou aceitando a divisão, acreditando ser um passo para a pacificação entre as duas novas nações. Mas a atitude gerou revolta em boa parte dos hinduístas, o que lhe custou a vida.
Em 30 de janeiro de 1948 o líder religioso foi assassinado em Nova Délhi. Seu algoz foi preso e condenado à pena de morte. Já o corpo de Mahatma Gandhi foi cremado e suas cinzas dispersadas nas águas sagradas do Rio Ganges.
O seu legado continua tão grande quanto ele foi. Seu lema de vida, de que a violência, seja sob qualquer pretexto, só aumenta o mal, permanece latente em movimentos pacifistas em todo o mundo. Certamente sua trajetória serviria de exemplo a muitas figuras em nosso cenário nacional.
Tamanha foi sua importância, tanto para o ocidente quanto para o oriente, que na data de 2 de outubro, seu nascimento, é feriado nacional na Índia e comemorado o Dia Internacional da Não-Violência.
Como o próprio Gandhi pregava, não era necessário aderir a esta ou aquela religião ou hábito de vida, desde que a essência do que buscamos esteja fundada na igualdade, no respeito, na simplicidade e na busca da felicidade como objetivo comum. Como afirmava na célebre frase “Felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz, estão em harmonia”.