opinião

Uma vista crítica pelas listas dos best-sellers

Lourival Serejo- Membro da AML

Sempre que abro a revista Veja, busco ver a lista dos dez livros mais vendidos, entre ficção e não-ficção, os chamados best-sellers. Assim como a lista da Veja, procuro em jornais e revistas literárias.

Dessas buscas, tenho observado uma lamentável evidência: a literatura brasileira está abandonada e sufocada pela invasão dos livros estrangeiros, principalmente os americanos. A lista do The New York Times está influenciando a venda dos livros traduzidos no Brasil.

Dos dez relacionados como os mais vendidos, só se encontra – quase sempre – apenas um brasileiro, lá no fim da lista. Ultimamente, só a escritora Carla Madeira tem merecido esse privilégio. A escritora americana Collen Hoover está sempre de posse dos três primeiros lugares entre os livros mais vendidos.

O que podemos concluir dessa análise?

Várias hipóteses podem surgir. Levantarei apenas duas. A primeira aponta a preferência dos leitores por livros do momento, com temas da atualidade ou, mesmo, com a trilogia do sucesso: sexo, crime e poder.

A segunda hipótese é o apelo midiático das editoras estrangeiras aliadas com as brasileiras que traduziram as obras. Então, fazem ampla divulgação da obra, em diversos meios de comunicação e redes sociais.

Nessa linha de influência da mídia, surge a figura dos influenciadores. A recomendação de um influencer tem receptividade imediata. Muitos leitores não têm experiência de lidar com livros e ficam receptivos a qualquer indicação. E querem, também, ficar na onda. Acontecendo esse fenômeno, dependendo do número de seguidores, em poucas horas o livro está esgotado. Imaginem o que aconteceria se Cristiano Ronaldo postasse uma foto com o livro que estava lendo. As editoras do mundo inteiro teriam que trabalhar dia e noite para atender os pedidos. É do conhecimento público que ele tem um bilhão de seguidores.

Mas, o que mais me interessa neste espaço é abordar a situação da literatura brasileira atual.

Temos bons escritores, romancistas, poetas, contistas, todos publicando continuamente. O que está faltando, então, para despertarem interesse dos leitores?

Aqui, no Brasil, se uma edição passa de cinco mil exemplares, já se considera o escritor como felizardo, salvo as exceções que surgem, para comemorarmos, de vez em quando. É o caso de Torto arado, de Itamar Vieira, cuja editora Todavia estará publicando agora uma edição especial para festejar a venda de um milhão desse best-seller, o maior dos últimos anos.

Outra ausência lamentável nessas listas do mais vendidos é a dos livros de poesia. A educação pela poesia pode salvar civilizações de atirar-se na fúria da violência e na insensibilidade de não captar os detalhes do cotidiano. Os poetas que foram considerados como profetas só alcançam uma faixa mínima de interessados.

Estive recentemente na Bienal do Livro, em São Paulo. Ali compareceram 722 mil pessoas, o que representa uma comprovação de que o livro físico não vai acabar e continua despertando interesse, principalmente quando ficou constatado que mais de 50% dos presentes eram jovens. Foi o que vi: muitos jovens abraçados com pencas de livros.

Só a valorização da literatura brasileira pode conter a invasão de títulos estrangeiros. Por exemplo, ultimamente verifica-se a entrada considerável de livros argentinos. Não tenho informação se está havendo reciprocidade com a chegada de nossos títulos por lá. Creio que não.

Em conversa com o autor caboverdiano Joaquim Arenas, recentemente em visita a São Luís, comentou-se também a ausência de livros brasileiros em Portugal.

Alguma política de divulgação dos nossos livros deve ser ativada para que a literatura brasileira, plena de grandes escritores e de grandes obras, espalhe-se pelo Brasil, pelos países vizinhos e pelos países de língua portuguesa.

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