opinião

Sob fortes ameaças

José Cursino Raposo Moreira- Economista

Em poucos finais de anos na história recente da economia brasileira houve um com números dos principais indicadores macroeconômicos tão sugestivos de ameaças aos próximos períodos quanto o de 2024. Mas não se trata, absolutamente, de uma questão numérica. Do que se está falando, na realidade, é de como o estado da economia do país na virada de 2024 para 2025 vai influenciar comportamentos, tendências e oportunidades para o futuro que interessa a todos os brasileiros. Ou seja: que perspectivas de aumento de riquezas, de empregos e de serviços públicos de qualidade podem os cidadãos esperar em troca dos impostos que depositam pontual, obrigatória e periodicamente aos que têm competências de cobrá-los.

A observação dos índices, taxas e indicadores estatísticos relativos ao câmbio, aos juros, ao comportamento da dívida pública, à inflação, à evolução do PIB e às despesas do setor governamental, especialmente as com os encargos do seu endividamento, de fato leva a preocupações com os próximos anos e seria razão para tornar as festas de Réveillon menos alegres.

No que diz respeito ao Dólar, por exemplo, verificou-se uma variação na sua cotação frente ao Real na ordem de 25%, já que a moeda americana variou da cotação de R$4,80, que apresentava em janeiro do último ano, para a casa de R$6,00, atingida em novembro, tendo em alguns momentos alcançado o assustador valor de R$6,30 por dólar. Estas são taxas de câmbio inéditas na economia brasileira até então e podem significar um novo patamar de cotação da moeda nacional. Tal circunstância tem poder de redefinir os padrões de custos de operação de uma série de cadeias produtivas da economia do país, afetar o nível geral de preços interno, o poder de compra do país, a Balança Comercial etc. Ou seja: ameaças reais e de graves consequências por tempo incerto.

A gestão da taxa de juros, por sua vez, em 2024 fez relembrar anteriores e graves crises da economia brasileira, como se deu em 1999 e 2002, momentos em que a Selic atingiu os patamares recordes de 45 % a.a. e de 26% a.a., respectivamente. Tendo sido fixada em 10,50% a.a. em maio do ano passado, fruto de um processo de redução que a rebaixou do patamar de 11,25%, que vigorava já em janeiro, a partir de setembro iniciou-se um processo de alta, que a levou para o nível de 12,25% em dezembro. Este é um aumento cuja velocidade no tempo em que se deu apenas ocorreu em 2021, no choque de preços da pandemia, e na crise cambial de 2002. Mas isso não é tudo. Ocorre, porém, que o Banco Central, na reunião do último mês de 2024, já se comprometeu em promover mais dois reajustes de 1 ponto percentual na Selic, em cada uma das duas primeiras reuniões do Copom, em 2025, fazendo com que em março a taxa já esteja novamente em 14,25% a.a. Este é um nível equivalente ao que vigorou nos anos 2015-2016, durante a crise herdada do Governo de Dilma Rousseff, quando a taxa de inflação atingiu 10% a.a., em uma das poucas vezes, na era do padrão monetário do Real, que ficou na casa dos dois dígitos.

Já a dívida pública ao final de 2024 se elevara da casa de 50%, índice em que se encontrava em 2010, para 80 % do PIB, e continua em processo de crescimento, configurando-se como um dos mais relevantes riscos por que passa a economia brasileira no presente momento. Lembre-se que este nível de endividamento só foi menor que o do auge da pandemia, em 2020. Essa situação ´se torna, então, a mola propulsora de mais gastos com este item de despesa, atualmente situado em 7% do PIB ou correspondentes a R$ 870 bilhões por ano. Neste nível de endividamento, o governo só consegue encontrar financiamento para o seu pagamento a taxas de juros muito altas, o que retroalimenta o processo de endividamento e aumenta as ameaças sobre o porvir da economia nacional. A inflação de 2024, cujo índice alcançou o número de 4,83%, superou o teto da meta que era de 4,50%, fruto da aceitação de uma variação do seu valor central, que fora estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional em 3% a.a.

Todas estas ameaças se retroalimentam e formam o indesejável “círculo vicioso”, em que um fenômeno que é causa de outro em um ciclo, se torna sua consequência no ciclo seguinte: os juros são elevados pois a dívida é muito grande e, como tal, precisa pagar juros mais altos para continuar a ser financiada. Estes pagamentos de juros mais altos fazem crescer as despesas e a dívida novamente, precisando-se assim de novos financiamentos. Os juros e as despesas mais altas são combustíveis da inflação, que para ser combatida precisa de juros em elevação para esfriar a demanda e assim caírem os preços. Mas estes juros mais altos, fazem as despesas se elevarem e assim o processo vai se repetindo, até que haja uma decisão corajosa de interromper a causa primária de seu desenvolvimento. Quem vai tomá-la? Cenas dos próximos capítulos.

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