Por que o PIBÃO não empolga?
José Cursino Raposo Moreira – Economista
No final de 2024 e começo de 2025, as indagações comumente dirigidas aos economistas sobre suas “previsões” acerca do comportamento da economia no próximo ciclo, a se iniciar a partir de 1º de janeiro, mudaram do enfoque tradicionalmente adotado em todos os anos anteriores. Então, surgiu no seu lugar uma questão qualitativamente bastante diferente e bem mais pertinente que as anteriores, no que diz respeito à capacidade de a Ciência Econômica poder FALAR DE FUTUTRO. Assim, a nova indagação que se tem feito aos economistas e agentes econômicos é : POR QUE O PIBÃO PREVISTO PARA 2024 não tem empolgado o mercado e, como em poucos momentos da história econômica brasileira, o cenário se apresenta tão incerto e nebuloso para o futuro?
Dado o papel e a importância do PIB como variável-síntese da atividade e perspectivas da economia de um país, estado ou mesmo município, ele termina por ser o FAROL que vai iluminar os caminhos futuros que ela vai trilhar. É intuitivo que um PIB com bom desempenho, em termos de crescimento entre os períodos convencionados de sua aferição, tanto chancela a gestão dos governantes sob as quais tal desempenho aconteceu, quanto sinaliza para os tomadores de decisão na vida econômica daqueles espaços as oportunidades e ameaças, os pontos fortes e fracos sob os quais podem tomar suas decisões em relação ao futuro.
No caso específico do ano de 2024, já está claro que houve um crescimento do PIB do país entre 3 % e 3,5%, tornando-o desse modo o quarto seguido em que crescerá acima de 3% a.a., sendo que nos dois primeiros foi reação às perdas na pandemia. Junto com ele, há também um conjunto de notícias positivas provenientes do mercado de trabalho, cuja taxa de desemprego no mês de outubro de 2024 caiu a 6,2%, o menor nível em mais de uma década. Contudo, não se ouviram ainda prognósticos de um futuro promissor de agora em diante, baseado neste PIBÃO, denominação criada pelo PETISMO para tornar maior a importância do resultado obtido. Qual o motivo deste comportamento?
O Brasil, desde o final da etapa de sua história econômica conhecida como MILAGRE ECONÔMICO BRASILEIRO, ocorrido durante o Regime Militar de 1964-1985, nunca mais repetiu um ciclo de crescimento com taxas de variação anuais do PIB que chegaram até a 11% a.a. semelhante a ele. Por conta da trajetória errática de crescimento do PIB em todo esse longo período, com altas e baixas alternadas, acabou-se por identificá-lo a um VOO DE GALINHA, isto é, de baixa altitude e breve duração, ao qual se segue uma série de quedas, até a chegada de novo VOO DE GALINHA.
O verdadeiro nó da questão, contudo, se encontra na também histórica CRISE FISCAL brasileira, cujos piores consequências consistem na formação de breve e inevitável colapso da dívida pública interna, cuja evolução entre janeiro de 2023 e outubro de 2024 foi de 71,4 % para 78,6% do PIB.
A AMAEAÇA FISCAL se multiplica nas crises cambial, como se assistiu ao final de 2024, o Dólar atingido cotações inéditas e recordes de valores perto R$ 6,30; na elevação da taxa de juros, que poderá até o meio do ano estar em 15% a.a.; ou na queda também desastrosa da Bolsa de Valores, na qual, até novembro de 2024, registrou-se a saída líquida de 25,9 bilhões de Dólares, depois de três anos consecutivos de saldos positivos, cuja soma acumulada chegou a 217,3 bilhões de Dólares.
Portanto, o SEGREDO ESTÁ REVELADO: Não há de verdade PIBÃO, logo não pode haver empolgação. O que mesmo existe é o superdimensionamento de seu real significado, politicamente motivado, para ocultar sob ele as ameaças superlativas e reais da crise fiscal e do endividamento público, do descontrole da inflação, da elevação dos juros, dos baixos investimentos e da fuga de capitais. Neste AMBIENTE DE NEGÓCIOS, qual o sentido e a credibilidade das tradicionais PREVISÕES ANUAIS DOS ECONOMISTAS, muitas vezes expressas em números que chegam ao detalhe de se apresentarem até quarta casa decimal? Nenhuma. Logo, fazem bem em evitar essa “fria”. E, principalmente, como e porque os agentes econômicos privados vão se “empolgar” e planejar investimentos e novos projetos? Não tem “como” e “porquê”.