Opinião

O centenário de Jango

João Goulart-Jango, o presidente da República, passara a Semana Santa pescando em Mato Grosso, retornando, enfrentou a crise que o levou a deposição.

João Goulart-Jango, o presidente da República, passara a Semana Santa pescando em Mato Grosso, retornando, enfrentou a crise que o levou a deposição. Tinha base parlamentar frágil, ancorada na aliança PSD-PTB.  Era março de 1964, aproximavam-se as eleições para a Presidência da República. Os candidatos eram conhecidos: Carlos Lacerda, Juscelino Kubitscheck, Magalhães Pinto, Leonel Brizola, Miguel Arraes.

Todos temiam que Jango, herdeiro político de Getúlio Vargas, estivesse tramando continuar na Presidência, por meio de golpe de Estado, no melhor estilo varguista. Temerosos, conspiravam para derrubá-lo.

O comício pelas Reformas de Base, na Central do Brasil, lhes pareceu uma senha. Assanharam-se as vivandeiras, como eram chamados. Rondavam os quarteis na tarefa de buscar o apoio das armas para ancorar o seu projeto de poder.

Articularam as associações empresariais, profissionais, as igrejas, nas Marchas com Deus e Pela Liberdade, a pretexto da defesa da Democracia, que estaria sendo solapada pelo Presidente e as entidades que o apoiavam.

O país estava dividido. Jango recebeu telefonema do comandante do II Exército, de São Paulo, o general Amaury Kruel, seu compadre e amigo, o instando a demitir a assessoria, como condição de apoio, diante da negativa, optou pelos rebeldes. Viajou para Porto Alegre, onde o comandante do III Exército, general Ladário Telles, garantiu-lhe condições de resistência.

Tinha informações de que o porta-aviões “Forrestal”, do governo norte-americano, aproximava-se da costa brasileira para respaldar os rebeldes. Ponderou a perda de vidas humanas que resultaria de uma guerra civil, decidiu não resistir, e partiu para o exílio no Uruguai. Da forma como partiu, evidenciou-se, não se preparava para qualquer golpe continuísta.

Golpistas eram os seus adversários, e alguns dos seus apoiadores, se podendo concluir, foi vítima dos que tramavam contra a democracia e suas instituições.

Nascido em São Borja, em 1º de março de 1919, era um rico estancieiro, hábil na criação e comercialização do gado bovino. Sua família vizinha e amiga de Getúlio Vargas. As relações estreitaram-se após a deposição do ditador em 1945. Acompanhava o caudilho que o designou para organizar o Partido Trabalhista Brasileiro-PTB, cujas bases estavam nas organizações sindicais e institutos previdenciários.

Fevereiro de 1953, sob a égide da Constituição de 46, Vargas o nomeou Ministro do Trabalho. Logo após, propôs o aumento de 100% no salário mínimo, em seguida, divulgou-se o “Manifesto dos Coronéis”, obrigando-o a demitir-se do cargo.

Em 1955, candidata-se a vice na chapa de Juscelino Kubitscheck, formando a aliança PSD-PTB que os elegeria.  1960, elege-se vice de Jânio Quadros, que renunciaria em agosto do ano seguinte. 7 de setembro, assume a Presidência no meio de grave crise político-militar, sob o regime parlamentarista. Revogado este em janeiro de 63, deflagra a campanha pelas Reformas de Base.

Em 31 de 1964 inicia-se o ciclo autoritário. Em 1968, inaugura-se a ditadura escancarada, na acepção de Élio Gaspari. O Ato Institucional nº 5, suspende as garantias constitucionais.  Jango e sua família padecem no exilio, onde veio a falecer em 6 de dezembro de 1976, em Mercedes na Argentina.

15 de novembro de 2008, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça anuncia no encerramento da XX Conferência Nacional dos Advogados, da OAB, em Natal, a Anistia post-mortem de Jango, um homem afável e do diálogo. Estive presente naquele momento.

Agora mesmo, recebi o texto do constitucionalista Thiago de Pádua, comentando o livro de Octaviano Nogueira, “A Constituinte de 1946: Getúlio, o sujeito oculto”. Contendo lições: “Democracia é refletir sobre lições do passado, para um presente que ilumine o futuro”. É oportuno fazê-lo no Centenário de Jango. Lembrando que as nossas constituições são gestadas no ventre das ditaduras, e que não há democracia sem povo.

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