Opinião

21×21 – o que aconteceu na Assembleia Legislativa ?

Hesaú Rômulo – Cientista político. Doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília e professor de Teoria Política na Universidade Federal do Norte do Tocantins.

A eleição para a mesa diretora da Assembleia Legislativa do Maranhão, ocorrida no último dia 13 de novembro, marcou o fim da gestão municipalista e pacificadora de Carlos Brandão no Maranhão. Até então, o governo tocava a música sob a batuta “continuidade e de união”, evocando sempre que possível uma sequência do que ocorreu com seu antecessor, Flávio Dino, defendendo que sua maior qualidade política era possuir uma maioria absoluta e harmoniosa, além de ter um parlamento paroquial.

Tudo mudou a partir do momento em que a contagem dos votos anunciou vinte e um votos para Iracema Vale e Othelino Neto. Em uma eleição repleta de reviravoltas, mistérios e imprevisibilidade, algo se manteve intacto: os números que foram dados a cada um dos deputados.

Não apenas um, mas dois empates, de resultados idênticos, carimbaram a articulação política de Brandão, da Casa Civil, da liderança do governo na Assembleia e de todos aqueles que imaginavam (me incluo entre eles) que Iracema venceria com ampla margem. Houve um movimento silencioso de Othelino, capitaneado pela modalidade secreta da votação, que surpreendeu a todos.

Mas o primeiro empate foi menos surpreendente do que o segundo, haja vista que Iracema, atual presidente da casa, reuniu no intervalo das votações, 33 deputados em uma sala para entender o cenário. Sem saída. O 21×21 prevaleceu novamente; número que entra para história como o anúncio do fim da concertação política brandonista, pelo menos no seu projeto inicial.

Iracema foi reeleita pelo critério de idade; mais velha que seu oponente, as primeiras entrevistas pós-resultado foram surpreendentes, isto porque se tentou falar em maioria, em consenso, em unificação, em pacificação, quando o resultado do plenário escancarava justamente o contrário. Não só Iracema, mas o governo vai precisar ajustar o curso do diálogo com o parlamento, isto porque o executivo estadual esteve a um voto de distância de perder o controle da assembleia, inaugurando o que poderia ser uma segunda perna de mandato turbulenta e conflituosa.

O final dramático não foi bom para nenhum dos lados, a despeito dos discursos vitoriosos de Vale e Neto. O lado governista baixou a guarda e tenta agora encontrar os erros, monitorar os votos que escaparam e inventar uma nova metodologia de condução. O núcleo político de Brandão e o de Iracema não é tão sólido quanto se imaginava e as habilidades de negociação foram superestimadas; enquanto isso o lado oposicionista foi exposto de antemão a um projeto ousado que, se tivesse sido bem-sucedido, traria uma virada de mesa sem precedentes.

Não se deve esperar nada menos que uma retaliação aos expoentes da insurreição mal sucedida, seja de forma ostensiva ou a conta-gotas. Nos corredores, se falava que Othelino contava com 24 votos, o que significa que nenhuma das duas cartelas manteve sua palavra até o final. Agora, Othelino terá que se esforçar, junto ao grupo dos 8 deputados oposicionistas (não incluo Wellington do Curso hoje como oposição), em aguentar a pressão esmagadora que Brandão fará sobre seus adversários, a conhecida “pata dos Leões” vai pesar, e também não seria por menos.

A lavagem de roupa suja no parlamento maranhense aconteceu uma semana depois, neste último dia 21 de novembro, em que a maioria da casa aprovou (por 23 votos a 9) o aumento da alíquota do ICMS. Foi o balão de ensaio do que acontecerá nos próximos meses: ânimos acirrados, questões de ordem, obstruções e muitas acusações. Mas algo salta aos olhos: a liderança do governo que não conseguiu ainda compreender a dinâmica nova da casa. Há uma dificuldade de conduzir os processos de maneira consensual e isto favorece os interesses de Othelino e seu novo bloco, que pode ganhar novos adeptos.

O vinte um a vinte um expõe os atores políticos a uma profunda reflexão e antecipa movimentos que estavam em uma incubadora. Imaginava-se que a ressaca política das eleições municipais geraria suas reverberações no legislativo, mas não nesta temperatura e intensidade. O projeto político de Brandão segue firme, mas já não é nem de longe a unanimidade profetizada, muito menos um bloco homogêneo.

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