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O historiador César Marques

Euges Lima – Historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM

“Apaixonado em extremo pelo estudo da nossa História, passou César Marques grande parte da sua vida, […] investigando os arquivos, levantando dados e reconstituindo fatos, e, desta maneira, adquiriu tal soma de conhecimentos, que se tornou, inquestionavelmente, depois de João Francisco Lisboa, o maior historiador do Maranhão,” assim assinala o historiador Jerônimo de Viveiros em 1954.


Dia 12 de dezembro é o aniversário de nascimento desse importante historiador maranhense do século XIX, que também era médico, o Dr. César Augusto Marques. Ele nasceu na cidade de Caxias, Maranhão, no antigo Largo do Poço (hoje Praça Gonçalves Dias), em 1826, há 198 anos, era filho do português Augusto José Marques e da caxiense Maria Feliciana Marques. O pai era boticário, oriundo de Caldas da Rainha, Portugal, que se estabeleceu em Caxias, em 1814. César Marques teve três irmãos, o Comendador Augusto César Marques, Adelaide Maria Marques e Guilhermina Maria Marques.

Em 1844, com dezoito anos, o jovem César Marques, foi para Portugal, fazer Medicina em Coimbra, mas após dois anos, foi obrigado a interromper os estudos e retornar a sua província, pois a Universidade foi fechada em consequência das convulsões políticas que ocorriam em Portugal naquele momento, era a revolução Maria da Fonte. Depois de um período de três anos que estava de volta ao Maranhão, resolve retomar seus estudos, em 1849 vai para Bahia, cursar medicina na Faculdade de Salvador. Conclui o curso em 1854, obtendo o grau de doutor em medicina com a tese “Breve memória sobre clima e moléstias mais frequentes da província do Maranhão”.


Na Bahia, casa-se com Maria Joaquina Regis, dessa união nasceu uma filha, Eugênia Laura Evangelina Marques. Nessa província deu início a sua carreira profissional entrando para o corpo médico do Exército Imperial, assumindo a patente de alferes, em seguida veio servir no Maranhão, sendo transferido em 1856 para Manaus, onde lecionou matemática no Liceu amazonense. No ano seguinte, retorna novamente ao Maranhão, assumindo vários cargos ligados à saúde pública, como Provedor da Saúde do Porto e Secretário da Comissão de Higiene Pública. Com a segunda esposa, Rita de Cássia Marques, teve mais dois filhos, Augusto José Marques e João Batista Augusto Marques.

Em 1858, o Dr. César Marques é transferido novamente, dessa vez para a província do Piauí, a partir daí o vai e vem das transferências e o pouco tempo de permanência pelas várias províncias do norte, por força de sua condição de militar, acaba cansando-o, e ele então pede baixa da corporação militar. É nesse momento, quando de sua saída do Exército Imperial, fixando residência em São Luís, com mais tranquilidade, começa a dedicar-se com mais afinco à pesquisa acerca da história do Maranhão, sempre conciliando as obrigações de médico, professor com o ofício de historiador. Como médico, trabalhou no Seminário das Mercês, na Guarda Nacional e na Casa dos Educandos Artífices. Também foi professor de história no Seminário da Companhia dos Aprendizes de Marinheiros, mordomo da Casa dos Expostos e Delegado Literário da Freguesia de N. S. da Vitória.


Sua produção literária é vasta, começa quando ainda era acadêmico de medicina, em Salvador, lá, publicou em 1852, duas traduções do francês, “Provas da existência do outro mundo, fundadas sobre a natureza, história, filosofia e religião” e “ Conquistas da Religião Cristã”, de M.V. Robert. Em São Luís, sua produção historiográfica começa a tomar corpo a partir de 1861, quando publica o “Almanaque Histórico de Lembranças Brasileiras”, o primeiro de uma série de três, publicando os outros nos anos subsequentes. Em 1862, lança “Breve memória sobre a introdução da vacina no Maranhão”. Dois anos depois, em 1864, já com certa bagagem em termos de pesquisas históricas sobre o Maranhão, César Marques, publica os “Apontamentos para o Dicionário Histórico, Geográfico e Estatístico da Província do Maranhão”, uma espécie de ensaio para sua obra mais importante, o Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão de 1870.


A ideia de se publicar um dicionário histórico-geográfico sobre o Maranhão era algo que acompanhava César Marques desde a época da faculdade de Medicina, em Salvador. Segundo ele, fora sugerido por dois amigos, o Arcebispo da Bahia, D. Romualdo Antônio de Seixas, Marquês de Santa Cruz e o Coronel Inácio Acioli de Cerqueira e Silva, que constantemente insistiam em cobrá-lo tal empreendimento. Sobre isso, assinala Marques (1970): “Dada a palavra, buscamos logo satisfazê-la, e por isso julgamos prudente estudar, e estudar muito a História Pátria.”

A publicação do Dicionário Histórico-Geográfico da província do Maranhão, pela Tipografia do Frias, em 1870 e mesmo sua primeira versão, na forma de apontamentos, 1864, representou algo inovador à época, pela abrangência da obra e totalidade como busca tratar a história do Maranhão. Tivera uma recepção elogiosa na imprensa, rendendo a seu autor muito prestigio como historiador, dentro e fora da província, recebendo importantes condecorações, tais como Cavaleiro da Real Ordem Militar Portuguesa de Nosso Senhor Jesus Cristo, concedida pelo Rei de Portugal e a Imperial Ordem da Rosa, conferida por D. Pedro II.


César Marques publicou ainda: “Aos meus meninos, contos úteis”, 1872; “Discurso que por ocasião de colocação da pedra fundamental para a edificação do prédio, onde deve funcionar a escola pública da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição”, 1873. Traduziu no mesmo ano, 1874, pela primeira vez para o português, os dois livros dos capuchinhos franceses, “História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças de Claude DAbbeville, 1614 e Viagem ao Norte do Brasil feitas no ano de 1613 a 1614 de Yves DEvreux, 1615, além de inúmeros artigos publicados em jornais e revistas.

Foi membro de diversas sociedades literárias e científicas regionais, nacionais e estrangeiras, sócio correspondente de praticamente todos os Institutos Históricos provinciais de sua época, fundados a partir de 1862 e 1863, como o pernambucano e o baiano respectivamente. Participou da fundação do primeiro Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão no século XIX, a exemplo do que ocorria nas demais províncias do país, principalmente as do Norte. Nesse sentido, afirma Nicolau Dino, no seu livro “O Visconde de Vieira da Silva” (1974): “ Em 28 de julho de 1864, Luiz Antônio Vieira da Silva era aclamado presidente do Instituto Histórico e Geográfico que se fundava naquele dia, em casa de Augusto Marques e com a colaboração deste, do Tenente Coronel Ferreira, padre Dr. Cunha, João da Mata, Dr. César Marques, Dr. Tolentino Machado, Tenente Coronel João Vito, Dr. Tolentino Rêgo, Pedro Guimarães e Frei Caetano.


Segundo Raimundo Nonato Cardoso, na apresentação da segunda edição do Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão (1970), César Marques já se encontrava no Rio de Janeiro em 1875, ocupando o cargo de Reitor do Internato do imperial Colégio Pedro II, ficando no cargo até 1880, quando foi sucedido por seu comprovinciano Antônio Henriques Leal. Na capital do Império, publicou “A província do Maranhão, breve memória”, 1876 e “Dicionário histórico, geográfico e estatístico da província do Espírito Santo”, 1878, resultado de uma encomenda feita pelo presidente dessa província. Tendo livre acesso ao rico acervo do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil, o IHGB, do qual era um membro ativo e chegando a ser seu terceiro vice-presidente, assim como aos demais arquivos do Império na Corte, tendo possivelmente, consultado talvez os famosos livros da Câmara de São Luís do período colonial, levados para Corte por Gonçalves Dias em 1851, em missão do governo imperial, César Marques continuo no Rio de Janeiro suas pesquisas sobre o Maranhão e trabalhava numa segunda edição revista e ampliada do seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, cuja publicação estava prevista para 1882 e que acabou não ocorrendo. O Dicionário Histórico-Geográfico só foi ter sua segunda edição, em 1970, patrocinada pela então SUDEMA (Superintendência do Estado do Maranhão). César Marques morreu aos 73 anos, em 5 de outubro de 1900, na casa do filho João Batista Marques, no Rio de Janeiro.

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