BASTIDORES

Por que o Maranhão abandona seu patrimônio?

Filhos talentosos, nas Artes e Ciências, na Administração, Música, Literatura, Pintura, Saúde, Direito, Religião etc., filhos que encheriam de orgulho qualquer país, qualquer estado, qualquer cidade, são filhos esquecidos em sua história e sua contribuição de enorme dimensão, quaisquer que sejam os critérios de avaliação. * JOÃO MENDES DE ALMEIDA, advogado, jornalista, líder abolicionista, escritor, […]

Filhos talentosos, nas Artes e Ciências, na Administração, Música, Literatura, Pintura, Saúde, Direito, Religião etc., filhos que encheriam de orgulho qualquer país, qualquer estado, qualquer cidade, são filhos esquecidos em sua história e sua contribuição de enorme dimensão, quaisquer que sejam os critérios de avaliação. *

JOÃO MENDES DE ALMEIDA, advogado, jornalista, líder abolicionista, escritor, nascido em Caxias, foi o maranhense redator da Lei do Ventre Livre e é considerado um dos jornalistas mais completos do Brasil em seu tempo. O Instituto dos Advogados do Brasil relançou sua obra jurídica. João Mendes mereceu busto e praça com seu nome na maior cidade brasileira, São Paulo, além do nome de seu filho, João Mendes de Almeida Júnior, dado ao fórum paulistano, o maior da América Latina… No Maranhão, quem sabe disso?, quem o estuda?, que escola ou rua ou praça recebe seu nome?, que homenagens lhe são creditadas?, que honrarias lhe são, mesmo pós-morte, atribuídas?

ADERSON FERRO, odontólogo, filho de Caxias, formado em Paris, considerado “Glória da Odontologia Nacional”, é autor da primeira obra de Odontologia no Brasil. Quanto ao Maranhão, deixa-nos de boca aberta o desconhecimento e o não esforço para reassumir a maternidade desse ilustre filho, reconhecido e homenageado em outros lugares — mas não aqui.

JOAQUIM GOMES DE SOUSA, o Sousinha, filho de Itapecuru-Mirim, foi matemático, escritor, tradutor, estudou Matemática e Medicina (em que se doutorou) na Europa. É considerado o primeiro físico e matemático brasileiro e, segundo alguns, o maior matemático do Brasil até hoje. Também surpreendeu a Europa com seus vastos conhecimentos nas ciências dos números e cálculos.

HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETTO, caxiense, eleito “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, entre tanta coisa que legou ao Brasil, estão curiosidades como os títulos “Cidade Maravilhosa” para o Rio e “Cidade Verde” para Teresina, além de, desportista e capoeirista que era, ter sido o responsável pela elevação da capoeira no Brasil e pela criação da palavra “torcida” com o sentido de grupo de adeptos de um time de futebol. Seu filho João, apelidado “Preguinho”, foi o autor do primeiro gol da Seleção Brasileira de futebol em Copa do Mundo.

MARIA FIRMINA DOS REIS, de São Luís, é considerada a primeira romancista brasileira. Seu primo, FRANCISCO SOTERO DOS REIS, também de São Luís, é autor de monumental obra de estudos filológicos (Língua Portuguesa), considerada a primeira gramática do Brasil.

ANTÔNIO GONÇALVES DIAS, de Caxias, é introdutor do Indianismo na Literatura brasileira, autor de decantados livros e dos mais declamados e citados versos da Poesia brasileira: “Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá / …”. Quem canta o Hino Nacional Brasileiro também canta Gonçalves Dias e o Maranhão, pois a mais importante composição musical do país tem versos desse maranhense de Caxias.

RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA, de São Luís, magistrado, professor, diplomata, escritor, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, é autor maranhense citado e recitado pela beleza de seus versos e importância dentro do Parnasianismo e Simbolismo brasileiros.

CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES, de Viana, é o maranhense pioneiro no estudo do folclore no Brasil, responsável pelo lançamento das bases metodológicas do folclorismo nacional. Embora voltado mais para a poesia popular, seu trabalho se estendeu também pelo teatro, a poesia, a ficção e a crítica.

HUMBERTO DE CAMPOS VERAS, de Miritiba (hoje Humberto de Campos), escritor, jornalista, político, foi membro da Academia Brasileira de Letras e é autor de volumosa obra, conhecida e reconhecida por muito tempo.

CATULO DA PAIXÃO CEARENSE (seu pai era do Ceará; sua mãe, maranhense) é o poeta e músico autor do que é considerado o “hino nacional sertanejo”, a poesia e música “Luar do Sertão” (quem não lembra de “Não há, ó gente, ó não, / luar como este do sertão (…)”, música gravada por, entre outros, Luiz Gonzaga, Vicente Celestino e Maria Bethânia. Trata-se da primeira música sertaneja gravada no Brasil — e o que o Maranhão faz com esta informação, nestes tempos de proliferação da música dita “sertaneja”? Além disso, Catulo, que nasceu em São Luís e foi relojoeiro no Rio e parceiro de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, é considerado o responsável pela reabilitação do violão nos salões da alta sociedade carioca e pela reforma da “modinha”, uma espécie de canção espirituosa ou amorosa.

E os talentosos irmãos Azevedo, de São Luís? ALUÍSIO TANCREDO BELO GONÇALVES DE AZEVEDO, escritor, diplomata, jornalista, caricaturista, desenhista e pintor, que lançou no Brasil o Naturalismo, com seu romance “O Mulato”, de 1881. ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO, mais velho que Aluísio, dramaturgo, poeta, contista, crítico, jornalista brasileiro, é no Brasil o principal autor do gênero teatral chamado “teatro de revista”, que traz números musicais com sensualidade e comédias com críticas políticas e sociais. Foi o maranhense Artur Azevedo o responsável pela criação da lei que obrigava a construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro — inaugurado, aliás, com uma peça do igualmente maranhense Coelho Netto. Ambos os irmãos moraram no Rio e foram sócios fundadores da Academia Brasileira de Letras.

ADELINO FONTOURA CHAVES, filho de Axixá, jornalista, ator e poeta, maranhense que é o patrono da cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras. Sua obra precisa ser divulgada, conhecida, reconhecida…

ODYLO COSTA FILHO, de São Luís, foi jornalista, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, chefiou redações de publicações importantes no Rio de Janeiro e São Paulo. É responsável pela renovação do jornalismo brasileiro a partir da modernização do “Jornal do Brasil”, hoje extinto. Poucos sabem que Odylo foi primeiro diretor da revista de reportagens “Realidade”, da Editora Abril, empresa da qual também foi membro do Conselho Editorial. (FINAL NA PRÓXIMA TERÇA-FEIRA) (edmilsonsanches@uol.com.br)

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