O que o Brasil deve
Uma cidade há no nosso país que todo brasileiro dela sabe — embora, muitas das vezes, sem saber dela. Trata-se de Caxias, no Maranhão, município com 5.196 quilômetros quadrados e 164 mil habitantes, além de uma economia superior a R$ 1,664 bilhão (2016). Mas não são os números que tornam Caxias grande. Esses números apenas […]
Uma cidade há no nosso país que todo brasileiro dela sabe — embora, muitas das vezes, sem saber dela. Trata-se de Caxias, no Maranhão, município com 5.196 quilômetros quadrados e 164 mil habitantes, além de uma economia superior a R$ 1,664 bilhão (2016). Mas não são os números que tornam Caxias grande. Esses números apenas dizem que Caxias é a 5ª maior cidade do Estado e a de número 170 no país em população. Por sua vez, a economia coloca o município caxiense em 5º lugar no Maranhão e o classifica entre os 500 maiores municípios brasileiros, ou exatamente o de número 477, logo abaixo de Tupã (SP) e acima de nada menos que 5.093 outras cidades, dentre os 5.570 municípios brasileiros.
A grandeza de Caxias vem da quantidade e, em especial, da qualidade dos filhos que nela nasceram. Eles, pelo vigor de seus talentos, pelo destemor com que iniciaram lutas e ideias, pelo entusiasmo com que realizaram sonhos e ideais, tornaram-se pioneiros e referências para toda a História do Brasil. Na Literatura, no Direito, na Política, na Administração Pública, na Música, na Religião, na Pintura e Escultura e outras diversas áreas da Cultura e das atividades humanas, filhos de Caxias legaram uma contribuição tão precursora e consistente que até hoje — e para sempre — o Brasil e os brasileiros lhe são devedores.
Na LITERATURA, mais que escritores de grandes obras, Caxias deu autores de escolas literárias, estudadas em cursos superiores (Letras, por exemplo) e em escolas de Ensino Médio. Com efeito, o Indianismo tem no escritor, advogado e etnólogo caxiense Gonçalves Dias seu maior símbolo. O advogado, jornalista e escritor Teófilo Dias é o introdutor do Parnasianismo no Brasil. O escultor e escritor Celso Menezes introduziu o Modernismo nas Artes Plásticas brasileiras; era professor em universidade do Rio de Janeiro e entre seus admiradores declarados estavam Otto Lara Resende, Manoel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.
No DIREITO, avulta João Mendes de Almeida, que é autor de vasta obra jurídica e linguística e é também autor da Lei do Ventre Livre, que fez nascerem livres os filhos de escravos. Também, Teixeira Mendes, autor da lei que, aprovada no Congresso Nacional, fez a separação Igreja-Estado, estabelecendo a liberdade de fé religiosa e até de não tê-la. O caxiense Teixeira Mendes é mais conhecido por ser o autor da Bandeira Nacional brasileira e suas ideias, vigorosamente manifestadas e defendidas na Imprensa, resultaram na criação da Funai e de leis pioneiras na defesa e estabelecimento de direitos da mulher e do jovem trabalhador.
Na CIÊNCIA registre-se Aderson Ferro, considerado na sua a “Glória da Odontologia Brasileira”, autor da primeira obra científica na especialidade. O caxiense Coelho Netto foi um grande contribuidor da Cultura e do Esporte brasileiros. Além de ter sido eleito “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, Coelho Netto foi indicado nada menos do que três vezes para o Prêmio Nobel de Literatura. Cabe a ele, senão a autoria, a divulgação e fixação do epíteto “Cidade Maravilhosa” à capital do Rio de Janeiro; o nome foi título de crônica, de programa de rádio, de livros e de música popular oficializada hino municipal carioca. Coelho Netto, desportista e capoeirista, foi responsável pela elevação da capoeira no Brasil e foi o introdutor da palavra “torcedor” com significado de adepto de um time de futebol. Seu filho João, o Preguinho, foi autor do primeiro gol da Seleção Brasileira em Copa do Mundo.
Na POLÍTICA e ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, o caxiense Sinval Odorico de Moura foi um raro caso de brasileiro que administrou quatro Estados. Por outro lado, João Christino Cruz, agrônomo e político, foi o criador do Ministério da Agricultura e é o presidente de honra da Sociedade Nacional de Agricultura. O médico, militar e político caxiense Joaquim Antônio Cruz contribuiu para a demarcação de fronteiras do Brasil com a Argentina e votou pela lei que aboliu os castigos corporais nas Forças Armadas.
Na RELIGIÃO, agiganta-se o nome de Andresa Maria de Sousa Ramos, a Mãe Andresa, sacerdotisa de culto afro-brasileiro de renome internacional, última princesa da linhagem direta “fon”, estudada por escritores, sociólogos e antropólogos do Brasil e do Exterior. No TEATRO, além de Gonçalves Dias e Coelho Netto, também dramaturgos, Caxias entra com Ubirajara Fidalgo da Silva, o primeiro dramaturgo negro do país, criador do Teatro Profissional do Negro, reconhecido e homenageado em grandes centros como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Brasília. A ele o Governo Federal dedicou 2016 como o “Ano Ubirajara Fidalgo da Cultura”. O caxiense José Armando de Almeida Maranhão é considerado “A Pedra Angular do Teatro Paranaense”. Teatrólogo, professor, escultor e caricaturista, Armando Maranhão estudou em países como Inglaterra, França, Itália, Portugal, Espanha, Suíça, Bélgica e Holanda e teve aulas com notáveis do Cinema do porte de Luchino Visconti, Federico Fellini, Roberto Rosselini, Michelangelo Antonioni e Laurence Olivier. Esses alguns dos ilustres conhecidos e desconhecidos caxienses cujos trabalhos contribuíram para a construção e fortalecimento da História, da Cultura e da Identidade brasileira.