opinião

A Valquíria de Treze de Novembro, o Supremo Chefão e a Tentativa de Golpe

Dr. Yglésio – Médico, advogado e deputado estadual

A política e as traições sempre caminharam juntas. A tentativa de assassinato de Hitler durante a Operação Valquíria, em 1944, é um exemplo emblemático de uma conspiração de supostos aliados que, mesmo fracassada, abalou o regime nazista. Recentemente, a eleição para a presidência da Assembleia Legislativa do Maranhão revelou paralelos com esse evento histórico, ainda que inserida em um momento diverso.

Destarte, é imperativo consignar que a disputa na Assembleia não se limitava à presidência da Casa. Representava uma batalha mais ampla pelo controle da agenda política do estado, pelo futuro do espólio político do grupo liderado pelo ex-governador e atual ministro do STF, Flávio Dino, e pela consolidação do atual governador, Carlos Brandão, como figura central do cenário maranhense.

De um lado, Iracema Vale, candidata de Brandão. Do outro, Othelino Neto, respaldado por uma coalizão que incluía Flávio Dino, o ministro das Comunicações Juscelino Filho, a senadora Eliziane Gama, o vice-governador Felipe Camarão e deputados federais com influência significativa no interior do estado.

A eleição, para a imprensa e a maioria da classe política, estava definida para Iracema. Placares elásticos eram esperados. Para além disso, apenas se o impensável e o imponderável se encontrassem juntos… e se encontraram em meio à urna física, no voto secreto.

Iniciaram a apuração: três votos na sequência para Othelino. Pensou-se coletivamente entre os aliados de Iracema: “sorte do ex-presidente, todos os seus votos saíram na sequência”. Já na cabeça do experiente político, a conta estava fechada e a vitória era certa, tão certa que levou familiares e preparou uma festa para a conquista que, em sua mente, já estava desenhada. Os números, entretanto, não bateram. O desafiante foi traído por quatro de seus deputados no primeiro turno (contava 25). Mesmo diante do emocionante empate, que há décadas não era registrado, Othelino manteve-se confiante, na certeza de que seus votos voltariam no segundo turno. Não voltaram.

Do outro lado, o grupo da deputada Iracema Vale foi surpreendido pela articulação sub-reptícia de vários “aliados”; inclusive, suspeita-se fortemente que alguns de seus principais líderes tenham-se vendido para o grupo de Dino e Othelino, com promessas de paga e proteção judiciária. No fim, Iracema conseguiu buscar 21 votos, e o segundo turno de votação virou realidade. Ainda assim, o empate com sabor inicial de derrota deixou todos atônitos do lado de cá.

No intervalo, enquanto era preparado o material para o segundo escrutínio, reuniram-se na presidência, mesmo com apenas 21 votos contados na urna, estranhamente, 33 deputados “iracemistas”. A pergunta que ecoava no ar naquele momento, de maneira tensa e magnética, era: em quem confiar? Alguns traidores eram denunciáveis por seus interesses particulares, ligações políticas ou até mesmo pela linguagem corporal. Até hoje, no dia desta publicação, há a certeza de 17 nomes de traidores; porém, a totalidade nunca será conhecida ao certo. Quanto a Othelino, este tem a certeza de apenas um dos seus quatro desertores.

É de conhecimento geral que os dois turnos da eleição terminaram empatados, com 21 votos para cada lado. A vitória de Iracema Vale foi assegurada pelo regimento interno da Assembleia, que determina, como critério de desempate, a escolha do candidato mais velho, decisão validada inclusive por Othelino durante a sessão e após esta. No entanto, num surto de inconformismo tardio, estimulado pelos deputados Carlos Lula e Rodrigo Lago, Othelino prometeu judicializar o resultado no STF, defendendo a aplicação por simetria da norma do regimento da Câmara dos Deputados, que privilegia o candidato com mais mandatos. 

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