“Julho das Pretas”: Reconhecendo a Contribuição das Mulheres Negras na Sociedade Brasileira
Cricielle Muniz- Diretora Geral do IEMA
O Julho das Pretas é um mês de celebração, reflexão e luta para as mulheres negras na América Latina e no Caribe. Criado em 2013 pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, essa data é uma extensão do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho. Esse é um período dedicado a honrar e destacar a importância das mulheres negras na história, cultura e sociedade brasileira. Essa celebração não apenas reconhece suas contribuições, muitas vezes negligenciadas, mas também busca promover a igualdade racial e de gênero em um país marcado por profundas desigualdades.
Como mulher negra, sinto uma responsabilidade particular em destacar a importância desse mês. O Julho das Pretas é uma ação de existência política e afirmativa, realizada em conjunto com organizações e movimentos de mulheres negras do Brasil. Esse mês surge como uma iniciativa para ampliar a visibilidade das lutas e conquistas das mulheres negras. Em um contexto histórico de opressão e marginalização, essas mulheres desempenharam papéis fundamentais em diversos aspectos da sociedade, desde a resistência contra a escravidão até os movimentos contemporâneos por direitos civis e igualdade.
Atualmente, ocupando o cargo de Diretora-Geral do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA), celebramos e fortalecemos o nosso compromisso, que vai além do ensino médio profissional e tecnológico. Estamos empenhados em implementar projetos que fortaleçam a igualdade racial e de gênero e que celebrem a riqueza cultural do nosso estado para todos os nossos alunos, principalmente para que se sintam representados.
Dentro do IEMA, formalizamos a primeira Coordenação de Diversidade Étnico-Racial, a qual promove a prática de inclusão e respeito às diferenças. Esse núcleo pioneiro é responsável por desenvolver e coordenar iniciativas que visam combater o racismo e a discriminação, ao mesmo tempo em que promove a equidade e a justiça social. Na atual gestão, sabemos da importância de ter uma mulher negra em um cargo de tomada de decisões e reafirmamos o compromisso com a diversidade e a representatividade feminina.
O Governo do Maranhão, sob governadoria de Carlos Brandão, tem enfrentado de maneira responsável e transformadora para que nosso Estado garanta o bem viver para os negros maranhenses. Assim, em 2020, a criação do Estatuto da Igualdade Racial e, em 2023, a instauração de uma secretaria própria para combater o racismo em nosso estado. Educacionalmente, nosso secretário Felipe Camarão vem acrescentando políticas e diretrizes para uma educação antirracista dentro do sistema educacional maranhense, promovendo, para além de debates e incentivos ao conhecimento da história negra, uma Política Educacional Antirracista.
Temos a seriedade de realizar projetos étnico-raciais, com atividades educativas, palestras, seminários e eventos culturais para garantir o direito de igualdade e respeito entre nossos alunos e alunas. Buscamos não apenas educar, mas também transformar a sociedade maranhense, tornando-a mais inclusiva e consciente de sua diversidade cultural.
Entre muitas referências de mulheres negras, destaco uma fala muito importante de Lélia Gonzalez: “O racismo brasileiro se expressa através de um discurso universalista que mascara as desigualdades”. Esse mês é uma oportunidade de maior visibilidade para enfrentar essa exclusão e construir um futuro mais justo e igualitário para todas as mulheres negras do Brasil.
Simbolicamente, julho é um chamado à ação, que deve ser mantido de forma contínua. É uma oportunidade para todos refletirem sobre o papel que desempenham na perpetuação das desigualdades e o que podemos fazer para combatê-las. Para nós, mulheres negras, é um mês de reafirmação de nossa identidade e de nossa força coletiva.
Para a sociedade como um todo, é um momento de aprendizado e de comprometimento com a construção de um mundo mais justo e igualitário. Vejo o Julho das Pretas como uma oportunidade para celebrar, honrar e aprender com as mulheres negras que contribuíram e continuam contribuindo significativamente para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. É um período essencial para amplificar vozes que frequentemente são silenciadas e para lembrar a todos que a luta por justiça racial e de gênero é, em última análise, uma luta por um futuro melhor para todos. A responsabilidade de contar essas histórias e de manter viva a memória de nossas conquistas e lutas é um dever profissional e pessoal. Tudo isso fomenta nossa resistência.