Educação e o compromisso com um futuro igualitário
Cricielle Muniz- Diretora-geral do Instituto de Educação do Maranhão (Iema)
O Dia da Consciência Negra é um marco para todos nós, dia importante na história do Brasil que tem a memória de luta, vida e morte do líder Zumbi dos Palmares, data que marca o compromisso de zelar, além de respeitar a história e a justiça, que minimamente foi alcançada quando se vem de um passado em que foi negada a sua existência dentro da formação de um povo como civilização e cultura.
Quando olho para minha trajetória e para o que represento hoje à frente do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA), reconhecida e prestigiada com uma gestora negra, lembro de minha história. Cresci em uma realidade que muitos conhecem bem: a periferia de São Luís, mais precisamente na Ilhinha. Minha infância foi marcada pela luta de meus pais para oferecer uma educação que fosse além das limitações impostas pela sociedade.
Minha mãe sempre repetia uma frase que ecoa em minha mente: “Filho de pobre só vai pra frente de uma forma: pelo estudo.” Para mim, a educação foi o caminho que me mostrou possibilidades e eu depositei minhas forças nessa escolha. Meus pais sabiam que o estudo era a única forma que me faria ampliar meus horizontes e ter um futuro diferente. E assim foi.
Eles não mediam esforços para constantemente me incentivar aos estudos. Enquanto eu estudava e vencia as etapas, se renovavam as minhas forças para lutar contra as adversidades e eu compreendia mais o poder transformador da educação na vida de alguém. Com esse pensamento, me formei em Direito, entendendo que, por meio da educação e das leis, eu poderia ajudar a transformar a realidade de outras pessoas que, como eu, enfrentam diariamente as barreiras da desigualdade.
Eu não tinha um instituto como o IEMA naquela época. Penso como teria sido diferente se eu, enquanto jovem estudante negra, tivesse tido acesso a um espaço onde a educação fosse integrada com a ciência, a tecnologia e a cultura. Onde eu pudesse sonhar mais alto ainda e me enxergar em um futuro promissor, amparada por professores que me incentivassem a explorar meu potencial ao máximo. Esse é o legado que hoje buscamos construir no IEMA, para que jovens negros tenham mais oportunidades de transformação social.
Quando assumi a Diretoria-Geral do IEMA, uma das minhas prioridades era garantir que o corpo docente e as equipes de apoio refletissem a diversidade do Maranhão, de forma que os alunos pudessem se reconhecer nas pessoas que os educam e os inspiram. Eu queria que eles estivessem no IEMA e entendessem que pessoas negras são capazes de liderar, organizar, ensinar e fazer ciência.
A criação da Coordenação de Diversidade e Relações Étnico-Raciais, liderada pela cientista social Maitê Sousa, foi um passo essencial nessa direção. Sob a liderança de Maitê, essa iniciativa tem como objetivo garantir que temas como igualdade racial, respeito às diversidades culturais e combate à discriminação façam parte do cotidiano escolar, com ações que impactem diretamente a formação de uma juventude mais consciente e comprometida.
Promover a 1ª Feira Cultural e Étnico-Racial, um evento que irá destacar a riqueza cultural do nosso estado, reafirma o compromisso do IEMA com a valorização das diferentes etnias e culturas presentes em nossa sociedade. Acreditamos que o conhecimento é construído a partir da pluralidade e que cada jovem tem um lugar de destaque nessa construção.
Também tenho orgulho dos editais que lançamos, como o IEMA no Mundo, que oferece intercâmbios internacionais aos nossos alunos, permitindo que vivam experiências culturais e acadêmicas fora do país, ampliando suas perspectivas de mundo.
Programas como o Pé-de-Meia, voltado para capacitar os estudantes a alcançarem maior estabilidade financeira e segurança no futuro, simbolizam a parceria exitosa entre os Governos Federal e Estadual e reforçam o compromisso do presidente Lula e do governador Carlos Brandão com a juventude maranhense. Essas iniciativas mostram que, com apoio e investimento, é possível mudar realidades e transformar vidas por meio da educação.
O IEMA, com seus projetos inovadores e o compromisso com a inclusão, é um instrumento poderoso para impulsionar os jovens maranhenses, especialmente os negros e negras, para que tomem posse do protagonismo na sociedade. Nós trabalhamos para romper com ciclos de exclusão e oferecer perspectivas de futuro que antes nos eram negadas.
Quero convidá-los a refletir sobre a importância do dia 20 de novembro, de maneira singular, diferente; não apenas como uma data para nos ouvir e nos conectar com a nossa raça, mas, sobretudo, como um dia de celebração, de alegria por tudo que somos, construímos e estamos por construir, pois o IEMA é reflexo de que, quando pautamos raça de maneira estratégica e igualitária, a transformação ocorre. E não é apenas o povo preto que se beneficia; toda a sociedade ganha com isso, promovendo a ampliação de direitos, oportunidades e a realização de sonhos.
O dia 20 de novembro, portanto, nos alerta sobre a consciência de nos manter enquanto povo e não abrir mão da nossa positiva participação na história desse país. Essa data celebra a memória de um líder que simboliza nossa resistência, nossa luta e a fé em um futuro melhor.
Enquanto eu estiver à frente do IEMA, meu compromisso não se abalará com o racismo e nem com qualquer tipo de preconceito, pois permanecerei buscando vias antirracistas e antidiscriminatórias para escrever uma história que produza futuros possíveis para todos!