Opinião

Apontamentos sobre a Praia Grande XXXIX

Pelos contatos que venho recebendo, estes meus Apontamentos têm suscitado interesse por parte de alguns curiosos, pesquisadores e historiadores, o que me estimula bastante, nesse trabalho evocativo que me propus realizar. O Importante é que cada ligação telefônica ou abordagem pessoal sobre o que escrevo, eu recebo como  imensa colaboração à minha memória, já bem […]

Pelos contatos que venho recebendo, estes meus Apontamentos têm suscitado interesse por parte de alguns curiosos, pesquisadores e historiadores, o que me estimula bastante, nesse trabalho evocativo que me propus realizar. O Importante é que cada ligação telefônica ou abordagem pessoal sobre o que escrevo, eu recebo como  imensa colaboração à minha memória, já bem desgastada pelo tempo.

A propósito, assim como demorei a me despedir da Avenida Maranhense, acho que, além da minha previsão, vou me reter, por mais tempo que imaginava, na Rua da Estrela ou Cândido Mendes. Dia desses foi o meu amigo Fernando Silva a emprestar sua colaboração. Agora é Luiz Mello, pesquisador como poucos, diria mesmo número um, dos tantos que conheço.

Pois bem, andei comentando que existia instalada em um sobrado da Rua da Estrela ou Cândido Mendes, uma oficina de reparos de máquinas de calcular e de escrever, lembrança mais de Fernando Silva do que minha. E que o nome do dono do estabelecimento se chamava Antônio Monroe. Contestei a afirmação alegando que Monroe seria apelido, em razão das máquinas de marca Monroe, de calcular, que ele reparava. Mas agora, após algumas manifestações de leitores, dou as mãos à palmatória, como se dizia antigamente. É que, unanimemente, afirmaram-me que o sobrenome Monroe, usado pelo senhor Antônio, é autêntico, verdadeiro, familiar, vez que era ele descendente de ingleses. Sem querer me desfazer do que eu havia pensado, terminei por concordar com os meus amigos, atentos ao que eu escrevi.

Por último foi o Luiz Mello quem comentou comigo. Primeiro, referiu-se ao sobrado que existiu onde foi erguido o Edifício João Goulart. Disse-me ele, após pesquisar, que nesse imóvel funcionavam apenas os Correios e não Correios e Telégrafos, como dissera eu nos meus Apontamentos XXXVII. As duas repartições tinham suas atividades em separado, isto é, em locais diferentes e só se juntaram no novo prédio, construído na Pça João Lisboa, esquina com a Rua do Sol, onde assim permanecem até hoje. Por último lembrou-se que se denominava Morais o barbeiro que existia nas dependências do dito sobrado.

Continuo na Rua da Estrela ou Cândido Mendes e venço, ao mesmo tempo, dois quarteirões, o da direita e o da esquerda. Restou uma explicação sobre uma firma que aparentemente ficava no final da primeira quadra da esquerda de quem desce a artéria a partir da Av. Pedro II. Era a sociedade em nome coletivo denominada Meireles & Cia., que tinha endereço na Rua Joaquim Távora, ou Rua de Nazaré, porém mais ela parecia se achar fazendo parte do complexo da rua Cândido Mendes. Talvez seja difícil de explicar, mas a intenção é valida e conto com a compreensão do leitor.

Pelos comentários que ouvia, ao meu tempo de Praia Grande, teria existido um sobrado antigo, que desmoronou ou foi desmoronado, situado no dito local onde, em seu lugar, foi construído um moderno prédio de cimento armado, destinado a acomodar a firma Meireles & Cia. E, pelo visto, pelo próprio endereço, era na Rua de Nazaré ou Joaquim Távora que o novo imóvel se situava, embora tivessem abertas portas de atendimento ao público e depósito, pela Rua da Estrela ou Cândido Mendes.

O certo é que, quando dei por ele, já ali se achava instalada uma grande empresa, não apenas em sua atividade, porém na exata comparação com quaisquer outras de gêneros diferentes. Sem dúvida, no ramo de ferragens em geral nenhuma a ela se assemelhava, tanto pela variedade dos produtos que vendia, quanto pelo sempre bom estoque que dispunha para atender a clientela. Para a construção civil em geral, quase nada faltava, pois tinha em oferta desde o cimento, o vergalhão de ferro, chapas de cobre, arames lisos. Louças para banheiros e uma infindável variedade de miudezas para atender a todas as finalidades e a todos os gostos.

Na verdade não sei com precisão quem participava do quadro social, se sócios antigos ou se apenas os mais novos, porém é certo que o principal componente da firma era o senhor Domingos Luiz da Silva, que adotou o sobrenome Meireles, para fins comerciais da citada empresa, vez que esta teria antes pertencido a outrem, um senhor de nome Meireles, e ele, o senhor Domingos, optando por conservar o nome primitivo do negócio, atendendo a preceito legal da época, incluiu o nome Meireles em seu sobrenome. Daí ter sido ele conhecido apenas pelo nome de Domingos Meireles. Português, homem seríssimo, correto, mas, segundo os comentários que eu escutava, muito duro nos negócios e na administração da empresa. Consideravam-no expert nos cálculos financeiros o que o capacitava a imprimir em sua atividade métodos que melhores lucros lhe proporcionariam.

Conheci vários auxiliares e sócios de Meireles & Cia., o mais idoso deles e parece-me o último a falecer foi o senhor Rogério Maia Loureiro, criatura agradável, conversávamos muito,  mas sua predileção era pela caça. Quanto aos outros, que se pareciam bem mais novos, de idades mais próximas da minha, todos meus amigos pessoais,  eram os senhores José Rodrigues da Silva, Manoel Rodrigues da Silva e Roland Coutinho.

Bem, vamos ver o que têm a dizer os nossos próximos Apontamentos, mas, de logo confesso que talvez seja obrigado a ultrapassar os cinquenta capítulos que eu havia previsto.

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