Travessia dolorosa
O Maranhão, por exemplo, tem mais da metade de seus filhos pendurada no Bolsa Família. E o Brasil parece à deriva.
Os empresários olham para suas máquinas ociosas por falta de encomenda, a Construção Civil desanimada por falta de comprador do que constrói, o agronegócio atolado em dívida e, no lamaçal das rodovias federais, os indicadores de crescimento preveem um Produto Interno Bruto ao redor de 1%. O Brasil está embasbacado, com o presidente governando pelo twitter e um astrólogo (Olavo de Carvalho), na condição de “guru”, dando palpite em tudo que ocorre na cúpula do governo, como nunca se viu antes.
A recessão econômica não arreda o pé do setor produtivo e os políticos não sabem o que fazer com a reforma da Previdência, assim como, também, o governo que a mandou para o Congresso. Em ponto morto, a atividade econômica é assustadora para ricos, classe média e pobreza. O Maranhão, por exemplo, tem mais da metade de seus filhos pendurada no Bolsa Família. E o Brasil parece à deriva. Até um guru afoito se torna indócil com o vice-presidente Hamilton Mourão e com os militares em geral: “Depois das obras do Euclides da Cunha, é só cabelo pintado e voz impostada. E cagada, cagada”, diz o guru dos Bolsonaro sobre os militares brasileiros.
Já o governador Flávio Dino, gestor do estado portador dos piores indicadores de pobreza do Brasil, não esconde a desilusão que divide com milhões: “Tudo indica que 2019 será mais um ano de recessão e conflitos sociais no Brasil. Finanças públicas de muitos estados e municípios entrarão ou continuarão em colapso. Mais um deserto a atravessar. Tenhamos fé”. Um deserto, por sinal, encharcado pela maior temporada de chuvas das últimas décadas. Pode até ser comparado ao Rubicão atravessado por Júlio César em 49 a.C., em perseguição a Pompeu. Ele violou a lei e tornou inevitável o conflito armado. Foi quando César teria então proferido a famosa frase Alea jacta est (“a sorte está lançada”).
Se não bastasse todo esse anticlímax, vem Axel Christensen, estrategista-chefe para a América Latina da BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, com sua espantosa avaliação sobre o Brasil de 2019: “Se a agenda de reformas progredir, mas o suficiente para dar conforto a investidores, sobretudo corporativos, pode haver um desapontamento com a falta de investimentos, e isso frearia o crescimento no Brasil”. Ontem, o boletim Focus, do Banco Central, estimou um “pibinho” de 1,71% em 2019. É a oitava redução da projeção do PIB. Aí será a travessia do deserto de Flávio Dino ou do Rubicão de Jair Bolsonaro.