Polêmica espacial
Desde o distante ano de 1983, logo após a retomada das eleições de governador, mas ainda na ditadura, quando foi criado, o Centro de Lançamento de Alcântara virou uma polêmica alcantarense, maranhense, brasileira e internacional. Em Alcântara, as escaramuças começaram com a desapropriação de grande parte do território do município, englobando territórios de comunidades quilombolas […]
Desde o distante ano de 1983, logo após a retomada das eleições de governador, mas ainda na ditadura, quando foi criado, o Centro de Lançamento de Alcântara virou uma polêmica alcantarense, maranhense, brasileira e internacional. Em Alcântara, as escaramuças começaram com a desapropriação de grande parte do território do município, englobando territórios de comunidades quilombolas e de pescadores artesanais, que se organizaram para enfrentar a nova
realidade. No Maranhão, a polêmica foi o tamanho da área objeto do decreto do governo João Castelo. Muita discussão que se arrasta até hoje.
De lá até hoje, passaram-se 34 anos, o país saiu da ditadura conquistou a democracia no governo José Sarney, construiu-se a “Constituição Cidadã” de 88, nove presidentes governaram o Brasil, e o Nucla (era núcleo de lançamento de Alcântara), que depois foi transformado em CLA (Centro), continua rendendo discussão. Pouco resultado científico e, agora, em via de passar ao comando dos americanos. Os lançamentos ali realizados até agora não renderam nada ao país. Mas deu uma
tragédia de dimensão internacional, com a explosão da base em 2003, carbonizando 21 engenheiros, cientistas e técnicos.
Agora, o senador Alvaro Dias (Pode-PR) propôs uma auditoria sobre a aplicação dos recursos orçamentários alocados na implantação do lançamento do foguete Cyclone-4, na Base de Alcântara. Segundo ele, foram gastos R$ 464 milhões no projeto em parceria com a Ucrânia, que o VLS-1, explodido em 2003. Mas o deputado maranhense Pedro Fernandes (PTB), um dos que acompanharam o presidente Michel Temer na visita de surpresa ao CLA, semana passada, discursou
na Câmara e classificou o evento de “muito importante”.
Disse que os militares da Aeronáutica pediram a Temer que centralize todas as ações relativas ao CLA, como investimentos na Agência Especial Brasileira. Lembrou que o mercado mundial do setor movimenta 36 bilhões anuais. Afirmou ser mito dizer que o Brasil, ao fazer um acordo secreto com os Estados Unidos, em dezembro de 2016, refirmado há poucos dias, está entregando a base de Alcântara aos americanos.
“É apenas um acordo de salvaguarda de tecnologia que todo país usa”, explicou o deputado. Mas o acordo diz que nenhum brasileiro terá acesso às instalações do CLA. Também o Brasil não pode aplicar tecnologia nacional (que não tem), muito menos pode ceder a base a outro país para lançamentos.