Pau que bate em Chico (não) bate em Francisco
A frase basicamente diz que a lei deve ser respeitada por todos, mas nem sempre isso acontece com políticos ou pessoas do alto escalão
No Brasil quando o assunto é fazer cumprir a lei, há malabarismos linguísticos e contorcionismo a torto e a direito de juízes para dar significado ao que está escrito nos manuais do direito e códigos legais. Por exemplo, a expressão “Pau que bate em Chico (não) bate em Francisco” tem sido dita com o sentido travesso. A frase basicamente diz que a lei deve ser respeitada por todos, mas nem sempre isso acontece com políticos ou pessoas do alto escalão. Seria: ninguém está acima da lei. A lei é para todos.
Mas, na prática, o pau que bate em Chico em regra geral não bate em Francisco. É algo que nunca aconteceu verdadeiramente. Desde que o mundo é mundo, a lei é seletiva, assim como os seres humanos que a criaram. Ontem, a 60ª fase da Lava-Jato, que prendeu Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, e o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson de Andrade, quase se aproxima da expressão “Pau que bate em Chico bate em Francisco”, obviamente sem o advérbio de negação entre Chico e Francisco. O procurador federal Roberson Pozzobon afirmou que o “bunker” de dinheiro de Paulo Preto, operador do PSDB, tinha o dobro do valor de propina (R$ 53 milhões), escondido no apartamento usado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima. O operador tinha a montanha de R$ 100 milhões em espécie em dois apartamentos em São Paulo. Ele ainda controlava dinheiro em uma conta na Suíça que também era usado pelo ex-chanceler do Brasil no governo Temer, ministro Aloysio Nunes (PSDB-SP), alvo de mandados de busca e apreensão.
Significa que os Franciscos estão entrando no pau? Pode se dizer que nem tanto. Mas já esbordoa alguns, não como se bate nos Chicos. É sinal de uma mudança de atitude. E tal fato ocorre exatamente quando o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, admitiu que o governo recuou diante das pressões do Congresso sobre a criminalização do caixa 2 nas campanhas eleitorais. Decidiu fatiar em três o pacote anticrime, que altera 14 leis. Os Franciscos, nesse ponto, safaram-se das pauladas que se costumar esbordoar os Chicos.