O risco do fator Bolsonaro

Daqui a duas semanas, o povo brasileiro estará a apenas um ano das eleições de 2018. No cenário nacional, a disputa presidencial permanece embolada na liderança disparada de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas, seguido à distância por Bolsonaro. Nem o massacre de todas as mídias conservadoras, nem a repugnância do mercado, nem a […]

Daqui a duas semanas, o povo brasileiro estará a apenas um ano das eleições de 2018. No cenário nacional, a disputa presidencial permanece embolada na liderança disparada de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas, seguido à distância por Bolsonaro. Nem o massacre de todas as mídias conservadoras, nem a repugnância do mercado, nem a Lava-Jato e seu aparato judicial – que resultou em sete denúncias e uma condenação – conseguiram derrubar o petista da dianteira da
preferência eleitoral. Resultado: a mesma elite que tem ojeriza a Lula pariu o ultradireitista Jair Bolsonaro.

A jornalista Helena Chagas fez ontem uma análise equilibrada do cenário atual, comparando-o ao de 1989, quando José Sarney estava no último ano dos cinco de mandato que herdou de Tancredo. Depois do “massacre” contra o presidente maranhense, pipocou um rosário de nomes na disputa presidencial, na primeira das eleições diretas pós-ditadura. Dessa profusão de candidatos, tinham nomes da maior qualidade, com quilates de Ulysses Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola, entre outros. Dividido, o eleitorado enviou ao segundo turno as duas pontas do arco: Fernando Collor e Lula. Todos limpinhos de processos criminais e de corrupção, ao contrário de hoje.

Agora, 28 anos depois, quem aparece na boca do palco, ainda em luz baixa, são nomes como Álvaro Dias, Henrique Meirelles, os dois tucanos que mais se bicam do que se aconchegam– Geraldo Alckmin e João Dória , “e até Marina Silva que deixou de ser de esquerda há muito”. Portanto, o centro corre o risco de repetir 1989. Sem opção viável até agora, a direita se apega à figura de Jair Bolsonaro, e as mídias conservadoras têm que abraçá-lo, para não ter que se haver novamente
com Lula.

O remédio pode ser demasiadamente amargo para o momento conturbado, mas é o que eles têm, até mesmo na hipótese provável de bloqueio do petista pela via judicial. Bolsonaro é o Collor deste começo de século 21. Na outra ponta do arco, tem o Lula, hoje de barbas brancas, atado a uma imensa encrenca judicial, e no Palácio do Planalto, um aliado de longos anos de José Sarney, hoje fora de combate eleitoral.Michel Temer tem um trator à sua espera para desmontá-lo por completo, derrubando-o do Planalto, ou deixando-o “sangrando”
até o fim de 2018. Enquanto isso, os brasileiros estão na encruzilhada política, olhando de esguelho para os 30% de Lula nas pesquisas.

“Muitas águas ainda vão rolar até a eleição e poderão arrastar com elas Lula e Bolsonaro. Ainda assim, há solidez nos 30% que hoje votariam em Lula, mostrando não ter o quesito corrupção como principal referência e ter memória viva dos tempos de pleno emprego e bem-estar social dos governos petistas. O recado é claro, mas dificilmente será assimilado no ambiente de exacerbação que tomou conta da política, trincando projetos, fragmentando partidos e triturando seus protagonistas”, analisa Helena Chagas.

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