O ano que passou, por Mário Quintana

Hoje, caro leitor, peço-lhe licença para “chupar” o texto do poeta maior, Mário Quintana, sobre o ano que acabou: “Já repararam como é bom dizer ‘o ano passado’? É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem…Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse ‘tudo’ se incluam algumas ilusões, a alma está […]

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Hoje, caro leitor, peço-lhe licença para “chupar” o texto do poeta maior, Mário Quintana, sobre o ano que acabou:

“Já repararam como é bom dizer ‘o ano passado’? É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem…Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse ‘tudo’ se incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraordinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas. Mas no ano passado, como eu ia dizendo, ou mais precisamente, no último dia do ano passado deparei com um despacho da Associeted Press em que, depois de anunciado como se comemoraria nos diversos países da Europa a chegada do Ano Novo, informava-se o seguinte, que bem merece um parágrafo à parte: ‘Na Itália, quando soarem os sinos à meia-noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados”. Ótimo! O meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirarme eu próprio pela janela, tendo apenas no bolso, à guisa de explicação para as autoridades, um recorte do referido despacho. Mas seria levar muito longe uma simples metáfora, aliás praticamente irrealizável, porque resido num andar térreo. E, por outro lado, metáforas a gente não faz para a Polícia, que só quer saber de coisas concretas. Metáforas são para aproveitar em versos… Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado. Morri? Não. Ressuscitei. Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição – morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova’”.

Em São Paulo, digo eu, no dia 31 de dezembro, havia uma chuva de papel picado voando das janelas dos edifícios da Paulista e do centro comercial. Era o descarte do ano velho, como simbolismo de limpeza dos escritórios, para começar o ano novo sem apegos ao que não serve mais.

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