Nem José Sarney começou assim…
O país que passou às mão de Sarney ficou mergulhado na frustração nacional,
Ao tomar posse com a internação de Tancredo Neves, em 14 de março de 1985, o maranhense José Sarney foi pego de supetão, mas sem enfrentar crise política. O país que passou às mão de Sarney ficou mergulhado na frustração nacional, em razão da Nova República ter escapado de seu benfeitor eterno, Tancredo, o arauto da luta pelo fim do regime militar e pela redemocratização do Brasil. Os militares entregaram o poder de cara amarrada, como fez o general Figueiredo, mas sem provocarem crise institucional com Sarney assumindo o papel mais difícil de sua vida.
Para enfrentar essa nova realidade histórica, o vice-presidente Sarney ganhou a titularidade do cargo, mesmo sem um passado confiável para um país que acabara de sair da ditadura. Na época do regime votou contra o pedido de eleições diretas, sem contar uma simpatia declarada pelo militarismo. Para amenizar o que prenunciava uma encrenca histórica, Sarney cuidou de montar o Plano Cruzado, a fim de remodelar sua imagem. Mudou a moeda para o Cruzado, pôs fim à correção monetária, congelou os preços das mercadorias, virou astro popular e se preparou para convocar a constituinte.
Agora, em 2019, passados 34 anos daquele episódio, o capitão reformado Jair Bolsonaro assume o mesmo posto no Planalto, com o país democratizado, mas mergulhado numa crise institucional, econômica, política e financeira que, já dura 4 anos. Nem a euforia da eleição de Bolsonaro, nem o sentimento de ódio do PT, nem a grandeza do país para se recuperar foi suficiente impedir que os primeiros 45 dias do novo governo virassem uma sucessão de crises que já abalam até a confiança e a esperança no presidente.
Em artigo na Folha, ontem, André Singer dá uma visão curiosa sobre o novo governo: “Na quitanda dos Bolsonaro, um assunto que seria ‘cozido em fogo lento por qualquer administração corriqueira de crises virou um pandemônio em 72 horas’ justamente por conta do esvaziamento em torno do atual líder, o que torna incerto o futuro”. O ex-presidente do PSL, Gustavo Bebianno, secretário geral da Presidência foi chamado de mentiroso pelo caçula e pelo próprio pai, Bolsonaro. Ao sentir que iria cair, ameaçou: “Bolsonaro vai junto”. Sexta-feira, o presidente pagou pra ver se realmente Bebianno era a bomba como imaginava ser. O demitiu e vai esperar o desdobramento, enquanto a crise ganha novos contornos nebulosos.