Mexendo em casa de marimbondos
Caro leitor, você se lembra do candidato presidencial Fernando Collor de Mello, em 1989, carregando a pomposa campanha, alimentada pelo slogan ufanista de caçador de marajás? Governador de Alagoas, rico, jovem e impetuoso e nordestino. Era o antídoto do outro nordestino, José Sarney, que amargava o último dos cinco anos de mandato no Planalto, sitiado […]
Caro leitor, você se lembra do candidato presidencial Fernando Collor de Mello, em 1989, carregando a pomposa campanha, alimentada pelo slogan ufanista de caçador de marajás? Governador de Alagoas, rico, jovem e impetuoso e nordestino. Era o antídoto do outro nordestino, José Sarney, que amargava o último dos cinco anos de mandato no
Planalto, sitiado pela inflação galopante, pressionado pelo baixo crescimento da economia e envolto no clima de descrédito da classe política e a impopularidade nas estrelas.
Estavam criadas as condições excepcionais para a candidatura de um nome visto pelo eleitorado como renovador, ousado, brigão e símbolo de algo novo para o país. Salvador da pátria amada. Era o “Caçador de Marajás”, os altos salários dos funcionários públicos. Tinha o
apoio maciço da mídia, capitaneada pelo sistema Globo e o ímpeto de fazer o país deixar para trás a memória dos 21 anos de ditadura. O ambiente, aliás, não era diferente do atual. Derrotou Lula no 2º turno, e o país emborcou.
Passados 28 anos, o Brasil consolidou a democracia restabelecida, um ano antes de Collor, com a Carta de 88, mas uma coisa não mudou. Os supersalários dos marajás. Hoje, o teto de R$ 33,7 mil é desmoralizado a partir do Judiciário, responsável pelo cumprimento da lei. Com seus
penduricalhos recheados de privilégios, juízes pintam e bordam, junto com MP e outros poderosos do Congresso e do Executivo. O desafio de Collor virou lorota, e os marajás estão firmes, fortes e endinheirados, debochando da população, cuja maioria esmagadora tenta sobreviver com míseros R$ 937 do salário mínimo, que será cortado R$ 4 em 2018, para o governo economizar R$ 1 bilhão.
Agora, no ano pré-eleitoral e com uma situação tão crítica quanto a de 1989, a Câmara dos Deputados, com dezenas de parlamentares enrolados em corrupção, criou uma comissão especial para analisar o projeto que regulamenta o limite salarial dos servidores. Igualzinho a vários outros que por lá transitaram. A proposta embarca na caravela da
ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois (PSDB). Semana passada, ela causou polêmica ao recorrer à Justiça, alegando ser trabalho escravo exercer a função de ministra e não poder acumular o salário com a aposentadoria de desembargadora, que davam R$ 61 mil.