Dano à ciência brasileira
Ao propor aos Estados Unidos a ocupação da Base de Lançamentos de Alcântara, o maior projeto científico do Brasil em mais de 30 anos, o governo Michel Temer mostra a intenção deliberada de desprezo pelo conhecimento científico, sem o qual nenhuma nação chega a lugar nenhum. Parece que há uma política de reassentamento da colonização […]
Ao propor aos Estados Unidos a ocupação da Base de Lançamentos de Alcântara, o maior projeto científico do Brasil em mais de 30 anos, o governo Michel Temer mostra a intenção deliberada de desprezo pelo conhecimento científico, sem o qual nenhuma nação chega a lugar nenhum. Parece que há uma política de reassentamento da colonização ao modo do século 21. E, assim, o país mais importante da América Latina vive eternamente atado a paradoxos que o amarram ao atraso.
Hoje, no Brasil, mais de 40 milhões moram em casa sem água potável, mesmo sendo o país com os maiores estoques de água do planeta. Em cerca de 1.444 municípios do semiárido nordestino, 10% das crianças sofrem de desnutrição. O Maranhão ainda está incluído nesse ambiente de flagelo, obrigando metade da população sobreviver do Bolsa Família
– não por vontade própria, mas para não morrer de fome. Mesmo assim, ainda têm estúpidos achando que os beneficiários são “vagabundos” que não querem trabalhar.
No século 17, o Brasil produzia a maior riqueza conhecida na época: a cana de açúcar, que tornou Recife uma das cidades mais ricas do mundo. Mas aí vieram as tecnologias dos americanos, que nunca foram bobos, por isso são dominadores.
Enquanto o Brasil mergulhava na monocultura, os americanos usavam o ouro das Antilhas para transformar a agricultura, a pecuária e a pesca, num círculo virtuoso de distribuir a riqueza, gerando mais riqueza.
Enquanto no Brasil-colônia o dinheiro do açúcar enriquecia meia dúzia de exploradores do trabalho escravo, nos Estados Unidos, que nem produziam cana, os americanos criaram uma indústria de transformação. Até hoje, o Brasil continua sendo o maior exportador de minério deferro, carne, café e, ainda, açúcar. E compra manufaturados
deles. A nossa ciência de transformação é capenga, enquanto um projeto como o da Base de Alcântara, entre idas e vindas, tragédias e desprezo do governo, poderá ser executado pelos americanos.
A colonização moderna se dá assim: ou por invasão e ocupação pela força, ou por ignorância científica. O governo Temer acaba de receber uma carta assinada por 23 vencedores do Prêmio Nobel, o mais importante da ciência, denunciando como o corte de 40% no Ministério da Ciência e Tecnologia está ameaçando o Brasil. “Isso danificará
o Brasil por muitos anos, com o desmantelamento de grupos de pesquisa internacionalmente reconhecidos e uma fuga de cérebros que afetará os melhores jovens cientistas”, escrevem os pesquisadores. Uma humilhação planetária