Bonaparte togado
Quase tudo de bom e de ruim já se disse do ministro Gilmar Mendes, nomeado, em 2002, para o Supremo Tribunal Federal pela caneta do então presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. Nas redes sociais, ele é xingado, assim como foi num voo para Portugal, por antipetistas desaforados, que adorariam ter sangue escorrendo nas ruas, se […]
Quase tudo de bom e de ruim já se disse do ministro Gilmar Mendes, nomeado, em 2002, para o Supremo Tribunal Federal pela caneta do então presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. Nas redes sociais, ele é xingado, assim como foi num voo para Portugal, por antipetistas desaforados, que adorariam ter sangue escorrendo nas ruas, se Lula for candidato a presidente da República. Mas uma coisa
ninguém pode acusar Gilmar: de ser covarde.
Foi brigão do Joaquim Barbosa, no mensalão, e na atual temporada do STF, já bateu boca com vários colegas de toga.Gilmar está apenas fazendo o que sempre fez.Dizer o que pensa, sem temer as consequências.Dizem que ele protege os “seus”, mas ele, porém, abre espaço dentro e fora do STF para polêmica.Chamou, ontem, a Globo e a mídia que apoiou o golpe de 2016 de chantagistas.Portanto,fazer uma
leitura sobre a postura de Gilmar Mendes não é tarefa fácil.
Ao destoar de parte do STF, Gilmar, no entanto, mostra que não faz aberrações jurídicas. Transita com desenvoltura pelas brechas da Constituição, como, aliás, é o exercício mais recorrente na Corte suprema. Mas não dá para se iludir, desta vez, foi sorte de Lula. Gilmar tornou-se conhecido por protagonizar embates nada ritualísticos com colegas no plenário, dar opiniões polêmicas e – muitas vezes – tomar
decisões impopulares. Ele diz claramente que não decide de forma incoerente. Faz o que as circunstâncias permitem. E, claro, sem atropelar a carta magna. E ponto final.
“Gilmar pode ter mil defeitos, mas frouxo ele não é”, disse, ontem, um internauta no site Tijolaço. Nem aí para a Globo, que armou para ferrar Lula, ou para os saudosistas dos coturnos de 64. Ele é PSDB? Pode ser até mais que simpatizante. Mas petista já disse no plenário do STF que não. Nenhuma simpatia pelo PT. É de direita? É. Mas por mais que não se goste de como ele decide, Gilmar está dentro da Constituição. Assim como seus colegas. A Bíblia também permite inúmeras interpretações pelas diferentes religiões e seus pressupostos. Gilmar é um Bonaparte togado.