opinião

1950 e as elites do Estado Novo

Aureliano Neto – Membro da AML, AMLJ e AIL · aurineto@hotmail.com

Em 3 de outubro de 1950, Getúlio é eleito presidente da República; e retorna ao poder pela vontade do povo, obtendo nas urnas 49% dos votos O seu governo vai até 1954, quando, em agosto, no dia 24 deste fatídico mês, acossado pelas aves de rapina (assim por ele denominados, na carta-testamento, os grupos econômicos internacionais e nacionais), em ato de resistência, desfere um tiro no peito, entregando em holocausto a sua vida e dando o passo em definitivo para eternizar-se na história. Embora tendo sido um governante autoritário no período de 1930 a 1945 – o Estado Novo -, os anos 50 foram marcados por grandes avanços que feriram interesses econômicos dos EUA. A Petrobrás foi criada (conquanto se afirmasse que o Brasil não tinha petróleo), foi instituída a Lei de Remessa de Lucros e dados os primeiros passos para criação da Eletrobrás. Getúlio cimentou o alicerce sobre o qual Juscelino Kubitschek iniciou a retirada do país da condição agrária e desse andamento, de forma concreta, ao processo de sua industrialização. Nessa onda de mudanças, vieram os movimentos culturais como a bossa nova, o cinema novo, a poesia concreta, e, em 1958, a vitória da seleção na copa do mundo na Suécia. Brasília foi construída em três anos. Juscelino realizava, para modernizar a economia do país e eliminar as desigualdades, o plano de metas, centrado na ideia-chave de 50 anos em 5.

Deve ser ressaltado que o Estado Novo, caracterizado pelo autoritarismo, era sustentado politicamente por um pacto de elites, firmado, em face das vantagens auferidas, entre as Forças Armadas, a burguesia agrária e a burguesia industrial. Mas ao povo quase nada. Nesse quase nada, que foi muito, a legislação trabalhista, sem estendê-la ao ruralista.

A burguesia agrária se beneficiou com a preservação da ordem fundiária (na ausência de uma política de reforma agrária),bem como a não extensão das leis trabalhistas para o campo e a criação de políticas e incentivos aos cultivos locais. Enquanto todos os governos anteriores só realizavam políticas que beneficiavam os cafeicultores, Já a burguesia

industrial, reconhecendo a ausência de recursos e de experiência, admitia valorativamente a importância do Estado ao se colocar este à frente do processo de industrialização. Os trabalhadores também eram uma importante base de apoio do presidente Vargas, que os conquistou com a legislação trabalhista e com a CLT. Uma importante concessão feita aos trabalhadores durante o Estado Novo foi a instituição de um salário mínimo. Esses direitos vinham sempre vinculados a ligação do trabalhador com o sindicato oficial, controlado pelo governo. Portanto, concedia direitos, mas controlava os movimentos operários.

No início dos anos 50, era eu bem criança. Mas a história diz que o Brasil vivia momentos de euforia. Época de ouro do rádio, que alimentava os sonhos dos brasileiros através das rádio-novelas, além de ditar o comportamento daquela época. No entretenimento, tinha-se Marlene, Emilinha Borba, Francisco Alves, César de Alencar, Rádio Nacional, Garrincha, Pelé, Didi, Nilton Santos, Vavá, Maracanã, as chanchadas da Atlântida. O Brasil estava se construindo, buscando o seu destino, como ainda o faz até esses nossos dias. Elvira Pagã era a grande vedete, com o mesmo prestígio das atuais, porquanto ficara famosa por ter posado nua, fazendo da foto cartão natalino. Foi a primeira rainha do carnaval carioca. No futebol, o Vasco da Gama, que atualmente anda bem ruim das pernas, era o Expresso da Vitória, No dia 7 de setembro de 1952, no Maracanã, goleia o Bangu por 6 a 2, e o time, que os torcedores sabiam de cor e salteado, era Barbosa, Augusto e Haroldo; Ely, Danilo e Jorge; Edmur, Maneca, Ademir, Ipojucan e Chico. Contava o Bangu com o grande mestre Ziza, o professor Zizinho.

Por essa época e ainda um pouquinho hoje, o Maracanã era o palco das grandes disputas. Nessa passarela, desfilaram astros de primeiríssima grandeza: Garrincha, Pelé, Gerson, Castilho, Pompeia, Gilmar, Nilton Santos, Zózimo (campeão do mundo no Chile, em 1962, formando dupla de área com Mauro Ramos, que tomou a vaga de Belini, o grande capitão de 1058, na Suécia), Zico, Roberto Dinamite, Telê, como jogador e técnico, e treinadores como Flávio Costa, Aymoré Moreira, que dirigiram a seleção brasileira,

além do folclórico Gentil Cardoso. E todos iam para o Maraca, enquanto nós por aqui ficávamos ao pé do rádio, ouvindo as transmissões feitas pelo narrador Oduvaldo Cozzi, que, para alertar que o jogo estava chegando ao fim, referia-se à última volta dos ponteiros.

É verdade, nem poderia ser de outra forma, que o mundo é outro, embora nada tenha mudado com referência às nossas elites. Os costumes são outros, a vida é outra, o Brasil é outro, na sua luta para sobreviver à ditadura Trump, uma vez que superamos, com grandes avanços sociais, a ditadura Vargas, apoiada esta, como dito, pelas elites burguesas agrária, industrial e militar, em que pesem algumas conquistas as conquistas da classe trabalhadora. Como costuma dizer um amigo meu: vamos que vamos. E acrescento: o futuro vem na frente, lutemos por ele, antes que seja tarde.

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