opinião

Direita e esquerda, numa perspectiva brasileira

Aureliano Neto- Membro da AML e AIL aurineto@hotmail.com

Recentemente ouvi uma excelente entrevista dada pelo filósofo e jurista Alysson Mascaro na qual, com argumentos consistentes e científicos, examinava as últimas eleições no Brasil e discorria sobre o possível conflito entre esquerda e direita. Após as eleições municipais, houvera ele dito que “a esquerda sofreu um strike nas eleições municipais”, ressaltando que “a situação atual é resultado de um processo contínuo de enfraquecimento político e ideológico dos movimentos progressistas, que, segundo ele, se deixaram levar pelo liberalismo e perderam a capacidade de mobilização”.

A esquerda não é centro, nem liberalismo ou neoliberalismo. Se quiser ser esquerda tem que adotar um discurso que tenha como finalidade as mudanças sociais que superem o status conservador, que só interessa à burguesia estabelecida nas benesses da casa-grande da sua riqueza. Mascaro, ao se posicionar no campo desse confronto, foi incisivo ao afirmar que “a esquerda sofreu um strike na eleição municipal”, alertando que o movimento progressista tem renunciado a se posicionar de maneira efetiva e clara. “Quando a esquerda renuncia a falar que é de esquerda, aí se dá o strike total”, ressaltou. Para ele, a esquerda atual se contentou com posições de centro, e isso a descaracteriza: “Se a esquerda se contentar com o centro, ela não é esquerda. Ela é o centro.” Descaracteriza-se como esquerda.

O liberalismo ou neoliberalismo, na essência, é tudo o mesmo, tanto que, segundo Mascaro, o problema é que “o que passa por esquerda no mundo é o liberalismo. Liberalismo e neoliberalismo são a mesma coisa”, criticando a incapacidade dos partidos progressistas de se desvincular das práticas liberais e adotar uma postura mais combativa e transformadora. “O PT estava à esquerda do Partido Democrata quando surgiu. Passaram-se 40 anos, e

ele está emparelhado com o Partido Democrata”, afirmou o filósofo, referindo-se ao alinhamento do partido brasileiro com as políticas liberais que, na sua visão, não atendem às demandas reais da população. E esclarece mais esses equívocos que têm descaracterizado a esquerda: essa postura diluída explica por que a direita e a extrema-direita têm conquistado tanto espaço no cenário político brasileiro. “Estamos produzindo de baciada uma sociedade para a extrema-direita”, pontuou. “Na última década, o Brasil trocou o método de fazer política. Até recentemente, a política era guiada pela entrega de resultados práticos. Agora, o brasileiro ganhou consciência política de direita e de extrema-direita.”

Como acentua Mascaro, a esquerda deve com alusão de uma postura moderada, se quiser impor-se com opção transformadora da sociedade, em benefício dos mais carentes, que se encontram capturados pela direita e pela extrema-direita. O povo, na perspectiva de Alysson Mascaro, em qualquer lugar do mundo, odeia as esquerdas e adora a direita. Nesse mundo ilusório, de bem-estar fictício, o povo prefere não ter obras sociais, vacinas (haja vista o que ocorreu no desgoverno Bolsonaro), e ser sofridamente da direita. Ser da direita é ser de bem, ter dinheiro, ser de família, ser religioso e estar salvo, longe de satanás; ser esquerda é o contrário dessas “virtudes”.

A esquerda no Brasil não é esquerda, é centro. Por outra, o povo não aceita discursos mornos. Isso impõe à esquerda um discurso revolucionário, para entrar nas contradições da direita, a qual elege, elege, elege a “pureza social” e sempre quebra a cara.

Fomos educados pelo escravismo do capitalismo, e só nos resta lutar contra essa cultura escravista, que continua vicejando em toda parte do Brasil, desde quando Cabral aqui aportou.

A situação está ficando cada vez pior. Além de enfrentar a força econômica do PIB, com domicílio na Faria Lima, cujo candidato, já sacramentado e escolhido, é o seu Tarcísio, do apagão energético de São Paulo, temos que suportar fatos inusitados patrocinados pela nossa direita messiânica. Conto-lhe um dos ocorridos. Na cidade de Dourado, em Mato Grosso, foi candidata a vereadora uma dono de prostíbulo. A sua publicidade eleitoral não enganava a ninguém, muito menos à samtíssima direita. E ela, a candidata, dizia: Dourado está uma zona, de zona eu entendo, vamos organizar essa zona. Elegeu-se. Foi a candidata a vereadora mais votada, para, como honesta defensora da família e bolsonarista convicta, organizar a zona, uma vez que afirmava nos comícios que se era boa no prostíbulo, seria melhor ainda na câmara como vereadora. E assim tem sido a vocação conservadora da nossa direita, por culpa da esquerda que, num discurso complacente, fantasia-se do velho fraco de Chico Buarque, a ver da janela a banda passar. Ainda assim, apesar de você, de mim e todos nós.

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