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A Geração Z e o Admirável Mundo Novo

Aureliano Neto- membro da AML e AIL

A Geração Z e o Admirável Mundo Novo

Sou um leitor de jornais velhos. Claro, não dispenso os novos. Um é decorrência do outro. Muitas vezes os acumulo para, assim que dispuser de um tempo mais folgado, fazer uma leitura dinâmica, e até mesmo mais atenta. Nem sempre é possível, mas, havendo essa possibilidade, aproveito-a. É o que estou fazendo por esses dias de lazer na cidade de Carolina, a epopeia das águas turísticas do Maranhão. Quem quiser ver, sentir e saborear as suas belezas não deixe para amanhã ou depois. Cuidado com os Trumps, Baidens,

Pois bem. Numa dessas leituras, encontro, na p. A10, da Folha de São Paulo, uma entrevista do psicólogo e professor Jonathan Haidt, da Universidade de Nova York – ressalte-se, uma longa entrevista – de substancioso conteúdo analítico, em que é tratado o tema do uso de plataformas por adolescentes e por crianças, comparando-o ao vício da heroína, em reforço ao que pesquisara e escrevera no seu best-seller A Geração Ansiosa. Nessa entrevista, o prof. Johathan Haidt se refere ao acesso e ao uso livre das redes sociais e smartphones, ao ponto de que a maior autoridade de saúde dos EUA, Vivek Murthy, ter se manifestado pedindo que plataformas de mídias sociais, como Instagram, TikTok e YouTube incluam aviso de que o uso pode ser prejudicial à saúde.

A entrevista como um todo me chamou a atenção, Mas a linguagem e as expressões são denotativas desse novo mundo que estamos a viver, sobretudo quando o professor citou a geração Z e os millennials. Em algumas passagens constam essas referências, para dar sustentação à sua tese, que desenvolvera na sua obra A Geração Ansiosa, muito lida e discutida no mundo inteiro e havida como best-seller. Ao responder a seguinte pergunta: “’A Geração Ansiosa’ se preocupa em distinguir as mídias sociais da internet como um todo. Por que fazer essa distinção hoje?”, o prof. Haidt disse: “Um mistério enorme é: por que os millennials estão bem e a geração Z está tão mal se eles também cresceram na internet, com celulares? Até 2010, quase ninguém tinha smartphone. Eram celulares flip ou tijolões. (…) Mas, em 2015, ao menos nos países ricos, todo mundo já tinha um celular com câmera frontal. As meninas estavam no Instagram e a internet rápida era amplamente disponível. (…) Quando o smartphone entra na sua vida, ele vai ficar no centro dela para sempre. Mas, para os millennials, isso não acontece até o fim da puberdade.”

O prof. Jonathan Haidt, nessa entrevista, mostra, a partir do estudo desenvolvido na sua citada obra, as novas e atuais gerações que vêm sendo vitimadas pelo uso livre e constante das mídias sociais, especificamente Instagram, YouTube e TikTok, com destaque para a primeira. E faz esta advertência: “O pior é o Instagram. Mas os shorts [vídeos curtos] do YouTube são horríveis. São viciantes. Não têm benefícios. Esses vídeos de 10 a 15 segundos são pequenas doses de dopamina fácil e barata. Ninguém abaixo dos 18 anos deveria ver isso.” Em razão desses graves perigos a que são submetidos esses jovens, afirma o prof, Haidt que a principal autoridade de saúde dos Estados Unidos (Vivek Marthy) pediu ao Congresso que se pusesse aviso em mídias sociais sobre os riscos desses vídeos para saúde mental desses usuários.

Nada obstante ao conteúdo da entrevista, e por estarmos no mundo em permanente transformação, para melhor ou para pior, busquei informações a respeito dessas gerações, mais sujeitas às intempéries do uso constante dessas mídias, especificamente os vídeos viciantes: com destaque para a geração Z e os millennials. Transcrevo, para isso, essas informações: “A geração Z corresponde aos nascidos a partir de 1995 até aproximadamente 2010, que são a transição do século XX para o século XXI. É caracterizada pelo domínio das novas tecnologias e pela urgência e multiplicidade de interações realizadas num universo particular, individual e, por vezes, alheio ao ambiente e às relações interpessoais de primeira hora, perfil ilustrado na imagem de um jovem trancado num quarto mexendo no celular e conectado a pessoas de vários lugares, recebendo um grande volume de informações e sem uma interação cotidiana profunda com seus pais e vizinhos.” Essa geração é marcada pelo individualismo. Já m Mas o termo também tem sido muito utilizado nos últimos anos (principalmente no plural) para indicar aqueles que nasceram por volta de 1980 a 1990, e que, portanto, iniciaram sua fase jovem/adulta no início do milênio em que estamos. Ou seja, seria a chamada Geração Y.

Feita essa explicação para mim e para quem não tinha esse conhecimento sobre as gerações que são muito influenciadas pelo conteúdo, muitas vezes nefasto, dessas mídias, há de se concordar com as conclusões dos estudos feitos pelo prof.Jonathan Haidt que afirma que os adolescentes e as crianças não só do Brasil mas de todo o mundo estão passando por um momento crítico quanto a sua saúde mental. Diz a parte introdutória da entrevista que “no Brasil, os registros de ansiedade entre adolescentes superaram os de adultos pela primeira vez na história em 2023”. Causa: o livre acessoa a redes sociais e a smartphones. As vítimas são muitas. Tanto que a mesma Folha de São Paulo, na edição do dia 1º de junho deste ano, no Caderno Saúde, p. B1, traz esta assustadora manchete: “Ansiedade entre crianças e jovens supera a de adultos pela 1ª vez no país.” A reportagem sobre esta matéria toma uma página inteira. Os abusos são muitos; e os desvirtuamentos dos conteúdos dos vídeos, com forte exploração sexual, imensos. É o próprio prof. Haidt

que presta esta gravíssima informação: “Vi artigo no [jornal americano] The Wall Street Journal em que a mães de meninas influenciadoras admitiam saber que os seguidores de suas filhas eram homens adultos que se masturbavam para as fotos delas, mas diziam que as meninas precisavam daqueles seguidores. O Instagram está transformando famílias em cafetinas.” E em outra passagem, o prof. Haidt denuncia que “no Reino Unido, um quarto das crianças de 5 a 7 anos tem seu próprio celular. Logo vamos implantar telefone no útero”,

Eis o drama que estamos a viver nesse nosso admirável mundo novo. As famílias perderam o sentido da convivência fraterna e ética entre seus membros. Cada um vive no mundo paralelo do seu smartphone. Até nas igrejas, Deus é posto de lado. Nas refeições caseiras ou em restaurantes, os celulares estão ou nas mãos ou bem do ladinho nas mesas. Como diz o prof. Haidt, “não permitir o uso na aula e pedir que os alunos deixem o aparelho no bolso é como permitir que um viciado em heroína leve a droga para uma clínica de reabilitação, desde que mantenha no bolso”. E conclui enfaticamente: “O vício é tão grave que é necessário trancar os celulares e só devolver na saída.” Como diria o saudoso Stanislaw Ponte Preto: a situação tá mais pra urubu do que pra colibri. Ou as famílias voltam a ser famílias, ou tudo está perdido, como querem aqueles que só pensam naquilo: no mercado e no dinheiro.

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