Completam 69 anos desde o acidente com o Maria Celeste em São Luís
As chamas consumiram a embarcação e dessa tragédia foram perdidas 16 vidas.
Já se passaram 69 anos, mas o incêndio que consumiu o navio Maria Celeste ainda é lembrado por quem está ainda entre nós e por outros que ouviram falar. O sinistro aconteceu na foz do Rio Anil, à margem da Avenida Beira-Mar, entre a Pedra da Memória e o coreto da Rampa Campos Melo, em frente ao Palácio dos Leões.
Foi no dia 16 de março de 1954, quando o Maria Celeste, um navio de pequeno porte, pertencente à Companhia de Navegação, construído em 1944 incendiou durante a operação de desembarque de combustíveis. Foi consumido por três dias pelas chamas e afundou. Dezesseis vidas foram perdidas nesta tragédia, que abalou e consternou toda cidade.
O navio foi construído no estaleiro Kane Shipbuilding Corporation, em Galves, Texas, nos Estados Unidos da América. Sua construção terminou na segunda metade e entregue ao Transportation Corps (Corpo de Transporte) do Exército norte-americano, com o nome Y-10.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, foi uma das 76 embarcações que integraram o comboio NY-119, transportando cargas de Nova York para Falmouth entre setembro e outubro de 1944. Após o fim da Guerra Mundial, em 1946, a embarcação foi vendida e no Brasil recebeu o nome de Maria Celeste.
16 de março de 1954: dia do trágico incêndio
Foi na manhã do dia 16 de março de 1954, que irrompeu o incêndio. O Maria Celeste estava ancorado próximo ao cais da Praia Grande e um pouco mais de 500 metros da costa, para a operação de descarga de 2.000 tambores de gasolina, 1.500 tambores de óleo diesel e 850 volumes de carga geral, totalizando 744,5 toneladas. Havia duas alvarengas ao lado do navio recebendo a carga.
Não foi possível definir o que teria causado, exatamente, o sinistro. Na época foi noticiado que o incêndio teria se iniciado quando um tambor de gasolina foi atingido por uma faísca saída de um guindaste que estrava enguiçado. Outra versão deu conta de que uma fagulha originada de uma falha no sistema elétrico do navio. Estivadores que sobreviveram ao desastre afirmaram que a faísca atingiu a gasolina que estava derramada em uma das alvarengas e as chamas se alastraram para o navio. Assim, o fogo se espalhou rapidamente, devido a carga inflamável, que estava disposta no convés do navio. As chamas atingiram também as duas alvarengas.
Diante da situação o comandante Ornildo da Costa Monteiro, determinou que o navio fosse abandonado. Os tripulantes e estivadores foram resgatado por barqueiros voluntários, visto que à época, as autoridades não dispunham de embarcação para efetivar o socorro às vítimas. A aproximação do navio ficou muito difícil, visto que as constantes explosões, lançavam para o alto, os tambores cheios de combustível, que vazavam ao cair na água do mar, formando poças em chamas. As enormes labaredas e a coluna de fumaça atraíram para o cais da Sagração, enorme multidão, que impotente assistiu ao trágico desastre.
O Maria Celeste queimou por três dias e afundou na manhã do dia 19 de março. Foi então contabilizado que 16 morreram, sendo 12 estivadores e quatro tripulantes. Não se tem conhecimento de algum sobrevivente que ainda esteja vivo. Um dos sobreviventes mais conhecidos foi o folclorista Apolônio Melo, cantador do Bumba-boi da Floresta.
Apolônio faleceu em 2015, com a idade bem avançada. Os destroços do navio foram implodidos após o registro de um acidente, em 1961, quando um barco afundou ao colidir com o casco submerso.
Outros incidentes envolvendo o navio Maria Celeste
O Maria Celeste foi protagonista de outros dois acidentes. Na noite de 18 de agosto de 1949, o navio colidiu com uma pedra na Ilha Grande, em Santa Catarina, após zarpar do porto de Florianópolis. O prático havia navegado sem problemas, tendo como referência os faróis de Anhatomirim, Arvoredo e da Ilha de São Pedro, e deveria avistar o farol da Ilha Grande em seguida, mas teve a visibilidade prejudica devido ao surgimento de um nevoeiro e o navio atingiu uma rocha da ilha, danificando casco, ocasionando a entrada de água. Contribuíram para o acidente as fortes correntes marítimas que se registravam na ocasião.
Outro acidente com o Maria Celeste aconteceu em 29 de agosto de 1952, quando por vota das onze horas, o navio colidiu com o navio Atlântico, no canal de Setiá, na Lagoa da Prata. O tempo estava bom e as correntes calmas, mas o canal estreito recomendava manobras precisas. O piloto do Maria Celeste, numa tentativa de ultrapassar o Atlântico, percebeu que o navio Herval navegava no sentido contrário e ao tentar desviar, acabou abalroando o Atlântico por bom bordo, levando este a encalhar.
TJMA recebe processo
Em solenidade no salão nobre do Tribunal de Justiça do Maranhão, o desembargador Lourival Serejo, presidente daquela corte, recebeu, em julho de 2021, do presidente do Tribunal Marítimo, vice-almirante Wilson Lima Filho, cópia do processo referente ao incêndio que destruiu o navio “Maria Celeste”, em 1954, em São Luís. Na abertura do evento, o presidente do TJ-MA, Lourival Serejo fez um relato sobre o fato histórico, que ganhou grande repercussão à época, no Brasil e no mundo, e enfatizou a relevância do momento para a preservação da memória maranhense. “Essa iniciativa é de extrema importância para a preservação da memória do nosso Estado. Afinal, esse acidente, ocorrido com a embarcação Maria Celeste, povoou o imaginário de toda uma geração da sociedade maranhense. O fato ficou registrado em nossas memórias e, a partir de agora, fará parte do nosso acervo histórico”, pontuou.
Na oportunidade, o desembargador Lourival Serejo enfatizou que os autos também seriam incorporados ao acervo do Museu do Tribunal de Justiça do Maranhão.