Oito décadas de muita história ameaçadas de desabar em São Luís
Com mais de 80 anos, a construção foi hotel, sorveteria, terraço panorâmicos, e agora deve passar por uma obra de reforma e restauro, ainda sem data prevista.
Quem passa apressadamente pelas ruas e calçadas da Praça Benedito Leite, pode não prestar atenção para o alto, ou se prestar atenção, pode não mensurar a importância que o Palácio do Comércio teve para o desenvolvimento econômico de São Luís e da sociedade como um todo.
Quem viveu aqueles anos de funcionamento pleno do Hotel Central bem lembra o que aquilo significou. A relação do Hotel Central, importante empreendimento hoteleiro, levou para o Centro Histórico de São Luís padrões arquitetônicos modernos, que se traduziam na criação de novos hábitos para a população de São Luís.
Hotel com bar, sorveteria e terraço panorâmico
O novo hotel supriria uma lacuna na atividade de hospedagem na capital, tendo o bar e a sorveteria, instalados no térreo, e o terraço panorâmico convertidos em pontos de encontro e de conversa para frequentadores e famílias.
Dizia-se que lá tinha o melhor sorvete de coco da Ilha. “E tinha mesmo. Era nosso programa preferido dos domingos à tarde, tomar sorvete no Hotel Central”, conta Raimundo José Fontes, aposentado, ex-morador do Centro Histórico, e que lembra que era muito comum os ludovicenses frequentarem as matinês e encontros sociais, muitos deles realizados nos salões, no bar e restaurante do Hotel Central.
A própria jornalista que vos escreve pode atestar isso. Embora não fizesse parte da sociedade abastada da época, residi por muitos anos no Centro Histórico, era criança e pude presenciar o quão grandioso e glamoroso era o Hotel, nos corriqueiros passeios de criança, e o quanto saborosas eram as sobremesas do restaurante (em especial o sorvete de coco servido em taças de inox). De hoje, ficam a saudade de quem viveu a época e a tristeza pelo estado em que o Palácio se encontra, com alguns de seus espaços trancafiados. Trancas que isolam mais do que lugares, mas também histórias.
Agora, o Palácio do Comércio vai entrar em obra de reforma e restauro, em data ainda a ser revelada. Após uma notificação da Defesa Civil, que concluiu o risco na estrutura do edifício-sede, o mesmo será interditado até que todo o processo de restauro seja concluído. Um dos mais belos exemplares da arquitetura Art Décor de São Luís, o Palácio do Comércio tem sua construção datada entre os anos 1941 e 1943, e marca o contexto social e de crescimento urbano da cidade. São oitenta anos de história.
Prédio imponente situado entre as praças Benedito Leite e Dom Pedro II, hoje o Palácio do Comércio seria facilmente chamado de Complexo. No primeiro andar havia lojas e bares, no segundo, à sede da Associação Comercial do Maranhão e o Museu Comercial, Industrial e Agrícola do estado. Todo o restante do Palácio faziam parte do Hotel Central, inaugurado em 1953. Hoje, o prédio abriga várias lojinhas de alimentação, artesanato, turismo, órgãos de turismo, além da Associação Comercial.
Símbolo para ser lembrado
O Palácio do Comércio é símbolo de um momento histórico de mudanças, reformas e efervescência cultural em São Luís. A capital maranhense, na época sob a liderança do interventor Paulo Ramos, expandia-se a partir da abertura de novas avenidas e vias de acesso e com o surgimento de novos bairros.
Propriedade do português Oliveira Maia, o prédio nasceu encravado no coração do Centro Histórico de São Luís. De acordo com matéria publicada neste mesmo jornal, em 2017, antes mesmo do Palácio do Comércio ser construído, já havia uma hospedaria no mesmo local e de mesmo nome do hotel que a partir dos anos 1940 fez parte de uma mudança de estilo de vida do ludovicense.
A primeira “versão” do Hotel Central tem registros que datam do início do século XX e, na época, era gerida por Alfredo Champoudry, francês radicado no Maranhão que explorou o ramo hoteleiro do estado. “O hotel entrou em declínio após a morte do francês e foi demolido junto ao prédio ao lado – o Palácio dos Holandeses – por conta de uma política higienista implantada na época, para dar lugar ao Palácio do Comércio, construído com influências do Art Déco e financiado pelo Tesouro Estadual. O Hotel Central foi construído também para suprir uma carência sentida até mesmo pelo Presidente Getúlio Vargas, que notou o déficit em visita ao estado em 1934, pouco menos de uma década antes da inauguração do espaço”, diz a matéria.
O Hotel Central funcionou até meados dos anos 1980, para, a partir daí abrigar serviços da Prefeitura de São Luís. Já em 1996, o prédio recebeu diagnóstico que dizia que a estrutura de sustentação do edifício estava comprometida. Quase uma década depois, o prédio teve sua fachada restaurada, nova iluminação e reparos no subsolo, térreo e segundo piso. Até então, o edifício não havia sofrido grandes alterações.
Sobre a mais recente notícia de interdição do local, a Associação Comercial do Maranhão (ACM) informou que a medida implica na transferência, por tempo indeterminado, da sede e dos serviços administrativos da entidade para um local a ser definido e a intensificação de alternativas para a recuperação, projeto encampado pela atual gestão, em curso há três anos. As providências de desocupação seguirão orientações técnicas dos órgãos competentes, de modo a garantir a segurança necessária de usuários, inquilinos e de pessoas que circulam pela área.
Apesar do esquecimento e abandono atual, ainda é um imponente personagem silencioso, que testemunhou boa parte da história da sociedade ludovicense.
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