INDEPENDÊNCIA

O Grito do Ipiranga não ecoou no Maranhão

Com 201 anos de Independência do Brasil, no Maranhão, essa data chega a 200 anos, tendo em vista a adesão ocorrer apenas dez meses depois do 7 de setembro de 1822.

Reprodução da pintura "Independência ou Morte" de Pedro Américo. (Foto: Reprodução)

A data era 7 de setembro de 1822. Naquele dia, às margens do riacho Ipiranga em São Paulo, o príncipe D. Pedro dá o famoso “grito” de Independência do Brasil, processo que teve início no Rio de Janeiro e em São Paulo.

No Maranhão, a data não ecoou, pois interesses diversos faziam com que a província, que mantinha um intenso fluxo comercial com Portugal, além de importantes laços políticos, não compartilhasse do processo. Somente dez meses depois, a província adere ao Império, em 28 julho de 1823, data marcada como Adesão da Província do Maranhão à Independência do Brasil.

Há 200 anos, portanto, o Maranhão deixava de pertencer ao Império português e passava a integrar o Império do Brasil. “Em 28 de julho de 1823, a Câmara Geral, reunida na cidade de São Luís, oficializaria a “adesão” da província ao Império do Brasil. Mas não sem Auto de adesão da província do Maranhão ao Império do Brasil, conflitos e disputas políticas, que atravessaram a província nos momentos que antecederam ao 28 de julho e, também, durante a reorganização administrativa no pós-Independência”. (Januária Teive, Historiadora e pesquisadora do Arquivo Nacional).

Estado era comandado por elite portuguesa

De acordo com artigo do historiador, professor, bibliófilo Euges Lima, a Bahia aderiu em 2 de julho de 1823 e o Pará, somente em 15 de agosto de 1823. O processo de Independência começou como um projeto mais do centro-sul do Brasil, do Rio de Janeiro e São Paulo e somente depois foi conseguindo adesões das demais províncias. “Porém, as províncias do Norte não compartilhavam desse projeto e se mantiveram fiéis às Côrtes portuguesas, foi o caso do Maranhão. Não havia então, uma unidade nacional, eram vários brasis com projetos diversos”, disse.

Para o historiador, a adesão do Maranhão, somente 10 meses depois, explica-se porque, assim como as demais províncias do Norte, o Maranhão era comandado por uma elite portuguesa, de militares, políticos e comerciantes que tinham vínculos diretos com a metrópole, que não reconheciam o poder do Rio de Janeiro e tinham seus interesses e privilégios políticos e econômicos vinculados à Portugal, portanto, para esse segmento, não era interessante o projeto político de emancipação que estava se gestando a partir do centro-sul do Brasil. Toda identificação do Maranhão era com Portugal.

Para que a província do Maranhão fosse incorporada ao Império, foi necessária a contratação de Lorde Cochrane. Nas palavras de Euges Lima, ele era uma espécie de celebridade à época e tinha uma enorme lista de feitos e vitórias militares navais no currículo. “D. Pedro I, não queria a fragmentação do território do Brasil e principalmente perder as províncias do Norte, cerca de 40% do território, então, resolveu contratar um mercenário escocês, o lendário Lorde Cochrane para ajudar a organizar a Marinha brasileira e liderar as Guerras de Independência e sufocar a resistência das províncias rebeldes do Norte. Portugal ainda mantinha uma grande força militar estacionada nessas províncias e uma grande esquadra na costa Norte do Brasil, com vista a receber mais reforços; então, a conquista dessas províncias, em que pese as colunas de combatentes independentistas que marcharam do Piauí e Ceará para combater as forças portuguesas no interior do Maranhão; a conquista definitiva, se dava realmente pelo domínio dos mares”, disse o professor.

O fim de uma resistência à independência

No Maranhão, as cidades de São Luís, Alcântara, Guimarães e Caxias resistiam à independência. Depois de expulsar as tropas e a esquadra portuguesa da Bahia, Cochrane, dirige-se até o Maranhão, chegando à baía de São Marcos em 26 de julho de 1823.

Como era de seu costume, usar estratégias ardilosas, sempre procurando ludibriar o adversário, trocou a bandeira da sua navio por uma bandeira portuguesa a fim de gerar uma falsa impressão. Os portugueses em São Luís esperavam reforços por aqueles dias e acharam que era o navio Pérola que eles aguardavam. Nisso, é enviado ao encontro da Pedro I para dar as boas-vindas, o brigue D. Miguel, que rapidamente é capturado por Cochrane. O lobo do mar, como foi apelidado por Napoleão Bonaparte, procurou saber da situação da cidade e tratou de encaminhar um ultimato à Junta Governativa, alertando que estava na baía de São Marcos à espera da esquadra imperial e que se não houvesse a rendição das tropas portuguesas, a cidade de São Luís seria bombardeada por seus canhões”, contou Euges.

“No dia seguinte”, continua Euges, “o presidente da Junta Governativa, D. Frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, diante do cenário de dificuldade que se encontrava, com tropas pro – D. Pedro I marchando para capital e a suposta esquadra imperial comandada pelo Lorde Cochrane, ameaçando bombardear a cidade, acabou vendo-se sem alternativa e foi ter abordo com o Lorde na nau D. Pedro I e acertaram finalmente a adesão da província do Maranhão ao Império do Brasil. Ficou também acertado que no outro dia, 28 de julho, seria assinada a Ata de Adesão do Maranhão ao Império, como foi feito em cerimônia solene no Palácio do Governo, às 11 horas da manhã, sem a presença do Almirante Cochrane, que alegou problemas de saúde. Lembrando que além do ardil da troca de bandeiras na entrada do porto para surpreender os portugueses, Cochrane estava blefando, não havia esquadra alguma chegando, ele estava apenas no comando de um único navio, o Pedro I”.

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