410 ANOS

A inclusão do ensino feminino em São Luís

A primeira instituição de ensino voltada para mulheres fundada no Maranhão foi o Colégio das Abranches.

A educação feminina começou em 1844, na capital do estado. (Foto: Reprodução)

Foi somente em 1844, no século XIX, mais de dois séculos depois da fundação de São Luís, que foi criada a primeira escola particular para mulheres. A iniciativa foi de Dona Marta Alonso Veado Alvarez de Castro Abranches, a Dona Martinha, espanhola radicada em São Luís do Maranhão.

Em uma época em que 85% da população não era escolarizada (SALDANHA, 1992), mas que a atividade do magistério era considerada conveniente para as mulheres, Dona Martinha, fundou, contra a vontade de seu esposo, Garcia de Abranches, o Colégio Nossa Senhora da Glória.

O trabalho de pesquisa Instituição da Escola Primária Privada na Província do Maranhão (1834-1854), apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, por Joseilma Lima Coelho Castelo Branco traça um panorama da chegada da escola primária no estado.

Em 1821, Dom João VI assinou um decreto, datado de 30 de junho, permitindo “a qualquer cidadão o ensino, e a abertura de escola de primeiras letras, independente de exame ou licença”.

“Em 1854, o Regulamento da Instrução pública da província do Maranhão, datado de dois de fevereiro, no capítulo VII, Art. 60, decretou que ‘Ninguém poderá abrir escola ou outro qualquer estabelecimento particular de ensino primário e secundário sem previa autorização do Presidente da Província, precedendo informação do inspetor da instrução pública’ (Regulamento, 1854)”, diz a pesquisa.

Antes disso, porém, o caminho traçado para que as mulheres tivessem direito à educação formal foi longo. Aos homens se instruía para desenvolver a inteligência e às mulheres se educava para desenvolver o caráter.

Em São Luís, a instrução feminina era feita através das poucas aulas públicas de primeiras letras e aulas particulares realizadas nas casas dos professores ou das alunas. “As mulheres da elite maranhense eram consideradas bem prendadas naqueles conhecimentos úteis à boa dona de casa, tais como bordados, costuras e demais afazeres domésticos, no entanto, o índice de analfabetismo entre as mesmas era elevado” (Joseilma Lima Coelho Castelo Branco).

(Foto: Reprodução)

No estudo “A Educação Feminina em São Luís no Século XIX”, a Profa. Ms. Elizabeth Sousa Abrantes, escreveu que em São Luís, capital e principal centro urbano da Província do Maranhão, a condição feminina não era muito diferente do restante do país, prevalecendo a mentalidade conservadora que destinava às mulheres uma educação meramente doméstica.

“Através dos jornais da primeira metade do século XIX, observam-se discursos com apelos por mais instrução para as mulheres. Nos artigos do jornalista José Cândido, publicados no jornal “Farol Maranhense” entre 1828 e 1830, as mulheres das camadas média e alta eram retratadas como sendo bem prendadas, mas de péssima conversação, faltando-lhes uma instrução escolar que lhes dessem os conhecimentos mínimos exigidos para uma conversa mais intelectual”.

Famílias tradicionais tiveram suas filhas educadas

Fato é que, também conhecido como o Colégio das Abranches, o Colégio Nossa Senhora da Glória caracterizou-se como o primeiro colégio direcionado ao público feminino fundado no Maranhão. Funcionava em um prédio na rua do Sol, esquina com a Rua do Ribeirão. Em 1850, o colégio se mudou para a Rua do Giz, 31, palacete da família.

Essa escola, segundo pesquisadores foi  a única direcionada para meninas em São Luís. Só depois começaram a ser fundados outros, como o Nossa Senhora de Nazaré, da educadora Rosa Nina e sua filha; o de Sant’ Ana, de D. Luna Freire; e o das irmãs Carmini. (ABRANCHES, 1992, p.98).

Nos livros de matrícula do Colégio Nossa Senhora da Glória encontram-se numerosos nomes de famílias tradicionais que tiveram suas filhas educadas neste Instituto de ensino. Entre elas, Tavares Belfort, Marques Rodrigues, Pinto de Magalhães, Serra Lima, Colares Moreira, Vieira da Silva, Almeida Braga, Henriques Leal, Costa Ferreira, Muniz, Sousa Reis, Barros Vasconcelos, Silva Porto, Gama Lobo, Costa Rodrigues, etc. Antônio Roxo Rodrigues, dentre outros. (ABRANCHES, 1992, p. 99).

Segundo o estudo de Elizabeth Sousa Abrantes, muitas outras escolas particulares para o ensino primário e secundário feminino foram criadas na segunda metade do século XIX, o que indicava uma maior suscetibilidade da sociedade maranhense no tocante ao ensino formal das mulheres.

“Os colégios de Nossa Senhora da Soledade, de Santa Ana, Nossa Senhora de Nazaré, Santa Isabel, Sagrada Família, São Sebastião, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora do Rosário, Santa Luzia e Nossa Senhora da Conceição destinavam-se à “educação e instrução” das meninas, pretendendo desenvolver nas suas alunas as faculdades morais e intelectuais por meio do ensino dos preceitos morais e religiosos, das letras, artes e boas maneiras”.

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