Os bondes fazem falta em São Luís
Em 1966, o último bonde elétrico circulou pela capital maranhense.
Já se vão quase 56 anos que um pouco do romantismo da cidade de São Luí foi morto. Foi em 1966 que o último dos bondes elétricos circulou pela cidade.
Cumpriram seu papel, servindo a população na condução para o trabalho e nos fins de semana, nos passeios românticos pelas ruas históricas e, quase sempre, levando os casais de namorados para o Largo dos Remédios ou Largo dos Amores que depois virou Praça Gonçalves Dias, onde era o ponto final da linha.
Os bondes foram considerados um estorvo que estava criando problemas para o trânsito e por isso foram desativados e esquecidos, Mas, um exemplar ainda foi, por muito tempo, utilizado para o transporte de estudantes, no campus da Universidade Estadual do Maranhão, até sucumbir diante da força da modernidade. Dos bondes nada restou. Só a lembrança e a saudade dos que conheceram, e a curiosidade dos mais novos que só ouviram falar.
Para o escritor Braz Mello, os bondes era parte da vida dos ludovicenses. Romântico, ele lembra da importância deste meio de transporte para o trabalhador de baixa renda e para a sociedade em geral, em uma época, em que possuir um automóvel era privilégio de poucos. Em sua obra biográfica “ Reminiscências de Penalva”, Braz Mello lembra as linhas dos bondes que circulavam pela cidade, citando-os como um meio de transporte barato e bom para passear.
Outro saudosista que lembra da utilidade dos bondes é o sapateiro Carlos Alberto Cardoso, especialista em sapatos ortopédicos. Ainda criança, morava no Bairro do Lira e estudava no Grupo Escolar Sotero dos Reis, localizado em frente à igreja de São Pantaleão, na rua do mesmo nome.
Mesmo sendo curta a distância entre sua residência e o colégio, conforme disse, pegava o bonde na Praça da Saudade, percorria todo o trajeto pelo centro da cidade, para descer na Rua das Cajazeiras e chegar ao grupo escolar.
Beto Cardoso, como é conhecido, disse que sempre fazia esta viagem, driblando o cobrador do bonde, uma prática comum entre os meninos da época, como mera diversão. As linhas dos bondes eram São Pantaleão, Gonçalves Dias, Estrada de Ferro, Filipinho e Anil. Todos os bondes circulavam pelo Centro Histórico.
Os bondes e sua história
Foi no dia primeiro de maio de 1872, que no Largo do Palácio, que depois recebeu a denominação de Avenida Maranhense e atualmente Praça Dom Pedro Segundo, se iniciou a saga dos bondes na capital maranhense, com a inauguração da primeira rota de bondes da cidade. Primeiramente. os de tração animal, puxados por parelhas de equinos, sendo a primeira ferrovia da província do Maranhão e uma das primeiras de rua do País.
Consta que o serviço de bondes na capital, foi instalado pela Companhia Ferro-Carril, que abriu linhas contemplando o Largo dos Remédios, Rua Grande e uma terceira ligando o Largo do Palácio ao Largo do Cemitério, hoje Praça da Saudade, assim como instalada uma linha suburbana com onze quilômetros de extensão, inaugurada em 5 de abril de 1873, que percorria toda Rua Grande até o Cutim, na Vila do Anil.
Este sistema de transporte logo deixou de ser interessante para a população que reclamava da inconstância dos horários e outros problemas que causavam muitos transtornos.
Então, em 1911, o engenheiro Antonio Lavendeyra apresentou a proposta de uma usina para produzir energia elétrica e um sistema de bondes elétricos, o que aconteceu somente em 1922 através da empesa norte americana Ulen & Company, que iniciou a construção. As linhas de bondes elétricos foram abertas em 15 de setembro de 1924.
Por decreto, o presidente da República Eurico Gaspar Dutra encerrou, em 1946, as atividades da Ulen & Company, no Brasil. Em 1947, foi criado o Serviço de Àgua, Esgoto, Luz, Tração e Prensagem de Algodão – SAELTPA, que operacionalizou os serviços dos bondes até o final dos anos 1950. Então foi criado o Departamento de Transportes de São Luís, que assumiu as responsabilidades do setor, inclusive a gestão dos bondes.
Na década de 1960, quando o Estado do Maranhão era governado por José Sarney, foi contratada uma empresa denominada Fontec, para organizar o trânsito da cidade, tendo seus gestores declarado que os bondes eram os maiores causadores de transtornos no tráfego e proibiu o trânsito de bondes em boa parte da cidade. Logo, a seguir, todas as linhas foram desativadas e o último bonde circulou em 1966.
Uma destinação para o VLT
Em 5 de setembro de 2012, chegou a São Luís o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que seria a redenção da população diante dos problemas, até hoje existentes e cada vez mais graves, no que se relaciona a mobilidade urbana.
Este veículo foi adquirido, custando aos cofres do município a importância de 7 milhões de reais, pelo então prefeito João Castelo (já falecido), candidato à reeleição, pagos à empresa cearence Bom Sinal Indústria e Comércio Ltda.
O VLT com capacidade de 20 mil passageiros/hora e com velocidade média de 100 km/h, iria interligar o Bairro São Cristóvão ao Terminal de Transportes da Praia Grande, não avançou em nada. Alguns metros da rede ferroviária (trilhos), do terminal não foi além do Mercado do Peixe. O veículo foi confinado aos fundos do terminal e ali ficou por mais um ano, exposto às intempéries e sendo usado por pessoas em situação de rua e até e para encontros íntimos.
Diante das denúncias pelos meios de Comunicação, o VLT foi retirado do Terminal da Praia Grande e confinado em um depósito da Companhia Ferroviária do Nordeste, no Tirirical, onde permanece desde 2013, sem que qualquer destinação lhe tenha sido dada.
O aposentado Manoel da Silva, disse que lamenta o descaso dos gestores, que não dão importância ao dinheiro do povo e deixam um veículo de tamanha importância, se acabar com o tempo, quando bem poderia estar sendo utilizado na condução da população.
Igual pensamento tem o comerciário João Batista Santos. Ele disse que já faz parte da nossa história, gestores que sucedem outros, não darem continuidade às obras deixadas pelo antecessor.
Com relação ao VLT, ele disse que um destino viável para aquele veículo, seria botá-lo em operação para servir as comunidades do eixo Itaqui-Bacanga, com uma linha que ligasse a Vila Nova, na região da Ponta do Bomfim, à Fonte do Bispo, no Desterro.
Segundo João Batista, em toda extensão, pela margem direita da Avenida dos Portuguêses, a partir do Anjo da Guarda, passando pela barragem do Bacanga, até chegar à Fonte do Bispo, tem área livre para receber os trilhos, sem ter que indenizar imóveis, etc.