REFORMA

Feira da Praia Grande se prepara para reabrir para o público

Os feirantes que passaram mais de 1 ano nas transversais em frente à feira, aguardando a reforma, agora começam a retornar

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O clima é de arrumação. Desencaixota daqui, tira dali, arruma daqui, prende ali, pendura acolá… o trabalho é grande, mas feirantes da Feira da Praia Grande aguardam com a maior das expectativas, o pleno funcionamento do local para que possam, além de trabalhar com mais estrutura e conforto, receber clientes e amigos em seus estabelecimentos. A Feira possui cerca de 73 quiosques. Os feirantes que passaram mais de 1 ano nas transversais em frente à feira, aguardando a reforma, agora começam a retornar.

“Logo, logo a gente estará com tudo arrumado para receber amigos, clientes, turistas. E estamos mais despreocupados também, porque logo, logo chegarão as chuvas e agora, creio que não cairá mais água aqui dentro, porque era tudo aberto”, conta o feirante Josuel Cruz, há 10 anos no local. “Trabalhar aqui é bom, conhecemos gente nova todo tempo”, disse.

Ansioso como ele, está Elinaldo dos Santos, feirante no lugar há 25 anos.

“Já vivemos muitas coisas aqui, tristes, alegres, de festa, de velório, muito tempo, essa feira tem muita história. E na hora que a gente terminar de arrumar aqui estamos prontos para continuar fazendo parte dessa história”, disse ele.

A Feira da Praia Grande, construção datada do século 19, fica bem no centro do bairro de mesmo nome ocupando uma edificação retangular. O chamado Complexo Casa das Tulhas engloba a principal quadra do comércio da Praia Grande. Para acesso à feira é possível fazê-lo por quatro entradas de acesso: pelas ruas da Estrela e Portugal, e outras duas com laterais para o Centro de Criatividade Odylo Costa Filho e Câmara Municipal de São Luís.

No seu entorno, dezenas de lojistas instalados em quiosques comercializam produtos típicos da região, como doces, licores, cachaças, tiquira, temperos, panelas de ferro e de alumínio, artesanatos. Lojas de artesanato, restaurantes, bares, ateliê de pintura, tudo se encontra ali (ressalva para o período de pandemia e que alguns estabelecimentos ainda não reabriram).

No centro da edificação está a feira. E quem está de fora não imagina o mundo de coisas que se encontra lá dentro. De camarão, passando pela tiquira, vestuário, até um sebo de livros, tudo se acha lá. Dentre os produtos comercializados no mercado destacam-se: camarões secos, peixes secos, aguardente de mandioca (tiquira), castanhas, remédios para todos os males, da gripe à impotência, geleias de pimenta, farinhas de mandioca (em especial do tipo biriba), doces regionais como o de bacuri, além de artesanatos locais e bares e restaurantes de culinária local maranhense. Especialmente na Feira, o visitante pode ter uma aproximação do cotidiano do povo maranhense, conhecendo seus hábitos e costumes. “Acha também uma boa história e um bom papo”, comenta o vendedor Elinaldo dos Santos.

História se confunde com a da capital

A história do mercado se confunde com a de São Luís, servindo a sua construção de ponto de encontro dos ludovicenses e grande local de visitação dos turistas. Construída no início do século XIX, a Casa das Tulhas era um conjunto de barracas destinadas a celeiro público, local onde o lavrador guardava e vendia os gêneros a serem comercializados. Em 28 de julho de 1855, a Companhia Confiança Maranhense,  com a licença da Câmara de São Luís, demoliu a Casa das Tulhas para erguer em seu lugar o Mercado da Praia Grande.

Nas obras de José Ribamar Sousa dos Reis (Feira da Praia Grande), e Raquel Gomes Noronha (No coração da Praia Grande: representações sobre a noção de patrimônio na Feira da Praia Grande), vamos encontrar referências ao nome do bairro e outras curiosidades sobre a Feira.

O nome Praia Grande se deve pelo fato de que, no século XVII, existia junto ao porto natural de carga e descarga da cidade, uma área denominada Praia Pequena – ela desapareceu com a construção do Cais da Sagração (1841-1844) – que se desdobrava em outras duas praias: a de Trindade e a de Santo Antônio. E foi devido ao seu prolongamento e rápido crescimento que, já em 1757, foi denominada Praia Grande.

A  Feira só passou a existir como tal, na segunda metade do século XIX, no prédio público que era chamado de “Casa da Praça” e “Casa das Tulhas”, cuja entrada principal é voltada para a Rua da Estrela, no Largo do Comércio. O prédio original, que sofreu alterações ao longo do tempo, foi concluído em 1861 pela Companhia Confiança Maranhense, como dissemos acima.

De lá para cá foi palco de muitas histórias. Lá se realiza a festa do padroeiro local,  São José das Laranjeiras. Todos os anos há a comemoração desse Santo no último domingo do mês de outubro, quando são realizadas: alvorada de fogos, romaria até a cidade de São José de Ribamar, ladainha e, na volta, coquetel para os participantes e seresta. Este ano, por motivos óbvios, a festa foi comprometida.

Patrimônio da humanidade

A Feira da Praia Grande e a Casa das Tulhas fazem parte dos bens protegidos pela Unesco, sendo consideradas parte do Patrimônio da Humanidade. No artigo A Casa das Tulhas e a Feira da Praia Grande: Produto Turístico em São Luís, publicado na Revista Rosa dos Ventos-2013), um dos autores diz que “o complexo da Casa das Tulhas abriga não somente aspectos tangíveis da cultura ludovicense retratados na sua arquitetura, mas também aspectos da cultura imaterial ilustrados pela culinária típica lá produzida e comercializada, pelos modos peculiares de viver da população que frequenta o local, pela arte e artesanato lá comercializados, pela religiosidade presente em especial dentro da Feira, pela manifestação do Tambor de Crioula com dia certo para se apresentar, dentre uma série de outros fenômenos pelos quais o ludovicense ali conhece e se reconhece”.

De fato, para o mímico Gilson Cesar, a Feira é o cartão postal dentro de outro, a Praia Grande. “A Feira, mesmo que você não vá consumir nada, é local para fazer amizades, conversar, reencontrar velhos amigos. A Feira da Praia Grande é inexplicável. Tem uma áurea diferente”, disse.

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