Maranhão é o quinto estado em exploração infantil
Levantamento mostra que são 147 mil crianças e adolescentes em situação de trabalho no Maranhão. Mais de 37 mil delas estão no trabalho infantil agropecuário
O Maranhão ocupa o 5º lugar do país em exploração do trabalho infantil, segundo análise realizada pelo Ministério Público do Trabalho no Maranhão (MPT-MA) e pelo Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente no Trabalho (Fepetima) sobre a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PnadC/IBGE/2016).
O estado possui 147 mil crianças e adolescentes de 5 a 17 anos de idade em situação de trabalho infantil, o que representa 8,1% da população maranhense nessa faixa etária.
O ranking nacional de meninos e meninas vítimas do trabalho infanto-juvenil é liderado pelo Acre (10,6%). Em seguida vem os estados de Rondônia (10,5%), Pará (9,3%), Piauí (8,8%) e Maranhão (8,1%). Em todo o Brasil, são 2,4 milhões de crianças e adolescentes que trabalham, o que representa 6% da população (40,1 milhões) nesta faixa etária.
Para alertar contra o crescimento da exploração do trabalho infantil está em andamento a campanha nacional contra o trabalho infantil realizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), com a Justiça do Trabalho, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI). A iniciativa alerta para o risco de crescimento da exploração do trabalho infantil motivado pelos impactos da pandemia.
Com o slogan “Covid-19: agora mais do que nunca, protejam crianças e adolescentes do trabalho infantil”, a campanha nacional está alinhada à iniciativa global proposta pela OIT. O objetivo é conscientizar a sociedade e o Estado sobre a necessidade de maior proteção a esta parcela da população, com o aprimoramento de medidas de prevenção e de combate ao trabalho infantil, em especial diante da vulnerabilidade socioeconômica resultante da crise provocada pelo novo coronavírus.
Em São Luís, o início da campanha foi marcada com a realização da 2ª Live do MPT-MA sobre trabalho infantil, que foi transmissão pelo YouTube, com o tema: “Trabalho infantil: o que fazer para evitar”, com as participações do procurador do Trabalho do MPT-MA e diretor-geral do MPT, Luciano Aragão Santos; o secretário de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop), Francisco Gonçalves; a secretária da Criança e Assistência Social de São Luís (Semcas), Andréia Lauande; a chefe do escritório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Maranhão, Ofélia Silva; e a presidente da Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente da OAB/MA, Maria de Jesus Castro Reis.
Outras três transmissões estão programadas para ocorrer em junho, às quintas-feiras, às 17h. Nos encontros, serão discutidas questões ligadas ao trabalho infantil. O dia 12 de junho é Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil.
37 mil vítimas de trabalho infantil agropecuário
Um estudo inédito publicado no dia 25 de maio pelo FNPETI revela que mais de 580 mil crianças e adolescentes de até 13 anos trabalham em atividades ligadas à agricultura e à pecuária, que estão na lista das piores formas de trabalho infantil.
55,8% são meninos
No Maranhão esse número é de 37.549 crianças e adolescentes. Dessas, 55,8% são meninos e 44,2% são meninas, sendo que 85% se encontravam ocupadas em estabelecimentos da agricultura familiar e 14,5% na agricultura não familiar. Desse total, 89,8% das crianças e adolescentes tinham algum grau de parentesco com o proprietário do estabelecimento. Contudo, 10,2% dos trabalhadores precoces não tinham nenhum laço de parentesco com o proprietário, condição que representa maior grau de exposição à exploração mercantil direta.
No estado, o trabalho infantil agropecuário se concentra em duas atividades: produção de lavouras temporárias e pecuária e criação de outros animais, que ocupam, respectivamente, 19.761 e 13.461 crianças e adolescentes de até 14 anos de idade. Somadas, ambas as atividades concentram 88,5% do total de crianças e adolescentes ocupadas nos estabelecimentos investigados pelo Censo Agropecuário 2017.
A pesquisa teve como base o Censo Agropecuário de 2017, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019. Apesar da redução obtida desde 2006, quando o número era de mais de 1 milhão, com a Covid-19, o trabalho infantil agropecuário também pode voltar a crescer.
A modalidade de trabalho infantil agropecuário integra a Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil, ao lado do trabalho infantil doméstico; trabalho Infantil na produção e tráfico de drogas; trabalho infantil informal urbano; trabalho infantil no lixo e com o lixo; e exploração sexual de crianças e adolescentes.
Realidade Nacional
Mesmo proibido no Brasil, o trabalho infantil atinge pelo menos 2,4 milhões de meninos e meninas entre 5 e 17 anos, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua 2016, do IBGE.
Em 2019, das mais de 159 mil denúncias de violações a direitos humanos recebidas pelo Disque 100, cerca de 86,8 mil tinham como vítimas crianças e adolescentes. Desse total, 4.245 eram de trabalho infantil. Os dados são do Ministério da Mulher, da Família e do Direitos Humanos (MMFDH). “Os dados revelam o tratamento negligente que o Estado brasileiro tem dispensado a crianças e adolescentes e o enorme distanciamento entre os preceitos constitucionais e a realidade vivenciada; conduzem à inevitável conclusão de que o Estado não se importa com o valor prospectivo da infância e juventude, como portadoras da continuidade do seu povo”, alerta a procuradora Ana Maria Villa Real, coordenadora nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Coordinfância), do MPT. Os números do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde mostram o quanto o trabalho precoce é nocivo: entre 2007 e 2019, 46.507 crianças e adolescentes sofreram algum tipo de agravo relacionado ao trabalho, entre elas, 279 vítimas fatais notificadas. Entre as atividades mais prejudiciais, está o trabalho infantil agropecuário: foram 15.147 notificações de acidentes com animais peçonhentos e 3.176 casos de intoxicação exógena por agrotóxicos, produtos químicos, plantas e outros.
Os dados revelam o tratamento negligente que o Estado brasileiro tem dispensado a crianças e adolescentes e o enorme distanciamento entre os preceitos constitucionais e a realidade vivenciada
No mundo
De acordo com a OIT, antes da disseminação da Covid-19, quase 100 milhões de crianças haviam sido resgatadas do trabalho infantil até 2016, reduzindo o número de 246 milhões em 2000 para 152 milhões, segundo a última estimativa global divulgada.
A fim de evitar um aumento dessa estatística em 2020 e perseguir a meta de erradicar essa violação até 2025, a campanha mundial faz um chamamento aos países para que incrementem políticas públicas de proteção visando assegurar os direitos fundamentais de crianças e adolescentes, inclusive o direito ao não trabalho.
O diretor do Escritório da OIT no Brasil, Martin Georg Hahn, destaca que a pandemia e a consequente crise econômica e social global têm um grande impacto na vida e nos meios de subsistência das pessoas. “Para muitas crianças, adolescentes e suas famílias, a crise significa uma educação interrompida, doenças, a potencial perda de renda familiar e o trabalho infantil”, explica.