SÃO LUÍS

ONG registra queda de 80% nas adoções de animais durante a quarentena

Devido a pandemia do novo coronavírus, associações perderam contribuições após início da quarentena na capital maranhense

Foto: Reprodução

Cães e gatos de Organizações Não Governamentais (ONGs) tinham, antes da Covid-19 se alastrar por São Luís, a possibilidade de encontrar um lar em feiras de adoção realizadas a cada 30 ou 60 dias, em lojas de pet shop da capital maranhense. Agora, com os eventos suspensos, não só os peludos sentem o impacto da crise, mas os protetores veem despencar a ajuda para manter os animais. A fundadora e presidente da ONG Dindas Formiguinha, Karina Leda Borges, declarou que as adoções caíram 80% após o início do isolamento social.

Nesse cenário, quem já militava na causa da proteção animal agora se desdobra em campanhas que estimulem a solidariedade. Na cidade, a jornalista Marcia Macieira faz campanha, no seu Instagram pessoal, para pagar cirurgia de um cachorro de rua, sem dono, que está com o olho direito gravemente ferido. Outro exemplo é o da assessora parlamentar Júlia Xavier Souto, que, mesmo em meio à pandemia, adotou a Molly, uma filhote canino.

A O Imparcial, a fundadora e presidente da Dindas Formiguinha – ONG que existe há nove anos -, Karina Leda Borges, informou que, nas feiras de adoção, todos os filhotes de cães e gatos, resgatados de pontos de abandono em São Luís, tinham novos lares como destino. Porém, com as medidas restritivas de combate ao novo coronavírus, Karina afirmou que as instituições sem fins lucrativos localizadas na capital maranhense, como a Dindas Formiguinha, o Lar de Noé, e a própria Amada (Associação Maranhense de Defesa dos Animais) precisam que as adoções continuem, ou, pelo menos que haja doações para que as ONGs continuem cuidando da população de quatro patas. Karina garantiu que, devido à pandemia da Covid-19, a situação financeira se agravou.

Cães que estão na casa da presidente da Dindas Formiguinha, Karina Leda. Foto: Divulgação

“Temos um acúmulo de dificuldades. É como se fosse uma ‘bola de neve’, que cresce com o movimento dos ponteiros de um relógio. As adoções sofreram recessão de 80%. Só na minha casa, que é onde funciona a Dindas Formiguinha, tenho 27 cães adultos, e 22 filhotes. Ou seja, 49 pets. Além disso, as feiras de adoção que estavam agendadas foram canceladas. E somente depois da quarentena é que elas terão chances de acontecer”, informou preocupada Karina Leda.

Cresceu o número de animais abandonados

Além de as contribuições terem diminuído substancialmente, a presidente da Dindas Formiguinha disse que o número de abandono de cães e gatos, em São Luís, aumentou 50%. Só para se ter uma noção da dimensão do problema, Karina lamentou a possibilidade de que os cães e gatos deixados nas ruas da capital morram de fome, pois, os peludos, sem família, sem teto, e vagantes pela cidade, perderam o que, muitas vezes, era a única fonte de alimentos deles, que não seja revirar sacolas de lixo.

“Antes, esses animais muitas vezes eram alimentados por donos ou clientes de restaurantes e lanchonetes. Acontece que esses estabelecimentos estão fechados teoricamente desde o dia 21 de março. Alguns protetores estão saindo de suas casas, em meio à pandemia, na tentativa de alimentar cães e gatos largados à própria sorte. Mas pode ter muito mais ‘bichinhos’ em situação vulnerável, que, talvez, nem nós de ONGs saibamos. É desesperador. Precisamos que isso chegue a quem pode resolver”, ressaltou Karina.

Campanhas para ajudar os pets e felinos

Os animais resgatados das ruas pelas ONGs precisam de ração, medicamentos, cuidados médicos, vacinas, e, às vezes, serem submetidos à castração. São demandas que requerem gastos financeiros, nem sempre ao alcance de recursos próprios dos ativistas dos direitos de cães e gatos. Por isso, o apelo é que a sociedade também se faça presente para garantir a sobrevivência dos animais que aguardam adoção.

“A crise nos atingiu em cheio. As contribuições das ‘madrinhas mensalistas’, nome que demos às associadas à Dindas Formiguinha, também diminuíram demais, já que, de fato, muita gente teve o orçamento familiar impactado. Como sobrevivemos de doações, peço que olhem pelo animais”, apela Karina Leda.

A protetora dos animais contou que tem feito mobilizações nas redes sociais, como o Instagram @dindasformiguinhas, o Facebook da ONG (/dindasformiguinhas), e, em grupos de WhatsApp. Nesses espaços de interação da internet, é possível ver fotos de ações e eventos em que a Dindas Formiguinha participa, visualizar fotografias de cães e gatos adotados e disponíveis para adoção, e há, também, informações sobre os dados bancários da instituição, onde quem quiser ajudar pode fazer transferências ou depósitos de qualquer valor.

Salvando a vida do Dourado

Comovida ao ver o cachorro vira-lata identificado como “Dourado”, com o olho direito machucado, após o animal ter se envolvido em uma briga com outros cães, a jornalista Marcia Macieira decidiu que precisava ajudá-lo. Marcia internou Dourado em uma clínica veterinária, no dia 17 de março, nove dias depois da briga.

Passados quase dois meses, e com a conta no veterinário só aumentando, a jornalista decidiu realizar, no seu perfil do Instagram, uma campanha para arrecadar recursos capazes de pagar o tratamento, e, também, a cirurgia de remoção do olho ferido, sendo que somente o procedimento cirúrgico está avaliado em R$500.

“Dourado mora próximo ao local onde eu trabalho. Eu o conheço há bastante tempo. Sempre levava ração para ele, e o acarinhava. Ele ficou ainda mais de uma semana sofrendo com o olho machucado. Até que o levei para uma clínica particular para cachorros. Dourado era lindo, astuto, seus pelos caramelados brilhavam ao sol. Sofro ao vê-lo tão debilitado, sabendo quem ele foi antes de ficar doente. De domingo a domingo, eu levava água e comida para ele”, declarou Marcia.

sta é uma foto do cão Dourado, antes de ele ser agredido, repassada pela jornalista Marcia Macieira.

A jornalista contou, ainda, que não tem como adotá-lo. Mas que também procura uma família para o cão. Na própria página no Instagram (@marcia.macieira), ela divulga fotos de Dourado, e disponibiliza os seus dados bancários, para eventuais ajudas financeiras. Marcia informou, também, que quem quiser tratar direto com a clínica onde o peludo está internado, o contato é (98) 3246-0482. A jornalista disponibilizou seu contato para quaisquer dúvida. O telefone de Marcia é (98)9 8825-8261.

Doação da Molly

Outra história que merece ser contada é a da cachorrinha Molly, adotada há poucos dias pela assessora parlamentar Júlia Xavier Souto.

Na quarentena imposta pela necessidade de combater a Covid-19, os animais de estimação são, para muita gente, as únicas companhias. Neste momento em que quase todos estão em casa, abrir o lar para acolher um animal resgatado é uma forma de ajudar os animais, os protetores e a si mesmo, já que os bichos de estimação costumam ser ótimas companhias para os seres humanos, independente da idade.

Foi exatamente isso o que a Júlia fez. Ela contou a O Imparcial que morava só há dois anos. Recentemente, mudou-se para uma casa maior, espaço que atualmente a assessora parlamentar divide com o namorado. “Eu estou de quarentena. Digo, os trabalhos foram suspensos devido ao isolamento. Mas meu namorado continua saindo para trabalhar. E eu me sinto solitária, às vezes. Ops! Sentia-me. A Molly agora está aqui comigo”, declarou Júlia, ao revelar que já pensava em criar um pet antes mesmo de tudo isso começar. 

“Procurei a Dindas Formiguinha. A Karina me enviou vários vídeos de animais, em que eles estavam correndo, pulando, latindo e se alimentando. Em meio a tantos, vi a Molly, e foi paixão à primeira vista, por vídeo”, brincou Júlia, ao contar que colocou a máscara, e saiu de casa para buscar a Molly.

“Animal não é coisa”

A advogada Camila Maia, membro da Comissão de Defesa e Proteção dos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MA), informou que existe o Projeto de Lei (PL) federal conhecido como “animal não é coisa”, que mudaria os processos no magistrado, a favor de animais vítimas de maus tratos. “O motivo pelo qual o PL é assim chamado é porque é desta forma, afinal, que a legislação brasileira entende o pet: como um bem móvel, de acordo com o artigo 82 do Código Civil”, comenta Camila Maia.

Divulgação

Apelidado de “Animal não é coisa”, o texto propõe que os bichos sejam entendidos como seres sencientes, ou seja, capazes de sentir dor, prazer e outros sentimentos. Se aprovada a lei, eles passam a ter, inclusive, uma personalidade jurídica, podendo, por exemplo, receber habeas corpus ou outros instrumentos legais úteis para sua proteção. “Já existe comprovação sobre a senciência dos animais. Através dessa comprovação muitos casos tem sido positivos sobre o convencimento do juiz”, comentou a advogada.

Camila Maia informou, ainda, que a aprovação da lei pode abrir caminho para outros projetos — entre eles, o que aumenta a pena por crime de maus tratos. Atualmente prevista na Lei de Crimes Ambientais (de 1998), a punição vai de três meses a um ano. A advogada informou que o PL “Animal não é coisa” foi votado ano passado, pelo Senado, mas houve várias emendas, e o projeto voltou para a Câmara de Deputados.

Camila citou um caso emblemático de maus-tratos ocorrido em São Luís. Em 2018, imagens de uma câmera de segurança instalada em uma residência no bairro Residencial Pinheiros, mostraram o momento em que dois cachorros foram atropelados pela enfermeira Ana Giselly Atan, que, à época, trabalhava na EMSERH (Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares).

No vídeo, a enfermeira acelera o veículo e passa com o carro por cima dos animais. Depois de atropelar os cachorros, Giselly vai embora. Um dos cachorros morreu, e um outro, chamado “Peppe”, sobreviveu, mas teve várias fraturas. “Houve uma transação penal para o caso. Giselly pagou R$20 mil em material para cirurgias ortopédicas para o animal sobrevivente, referentes à composição civil, e mais seis salários mínimos de transação penal”, atualizou Camila.

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