COVID-19

Povos indígenas em estado de alerta com a pandemia do novo coronavírus

Os índios são mais vulneráveis à epidemias em função de condições sociais, econômicas e de saúde mais difíceis do que as dos não índios

População indígena passou de 650 mil para cerca de 755 mil indivíduos nos últimos cinco anos.

om o aumento da curva do Covid-19 no Maranhão, onde já foram registrados 1.205 casos positivos e 48 óbitos, uma das preocupações das autoridades de saúde do Estado são as populações que vivem em Terras Indígenas. Para não serem infectados pelo vírus povos que vivem em diversas aldeias no estado decidiram se refugiar na mata para se proteger do avanço do coronavírus no Brasil.

Os índios são mais vulneráveis à epidemias em função de condições sociais, econômicas e de saúde mais difíceis do que as dos não índios. E o alerta ganhou força por conta da passagem do dia 19 de abril que é comemorado no Brasil e em vários outros países do continente americano. A data tem como propósito a preservação da memória e a reflexão crítica nas universidades, escolas e demais instituições semelhantes sobre a cultura indígena.

De acordo com o Censo 2010, do IBGE, o Maranhão tinha 38.831 índios de diversas etnias, sendo que 76,3% estavam em terras indígenas. Entretanto, 9.210 estavam fora desses territórios, vivendo em cidades ou áreas não demarcadas. Em entrevista a O Imparcial, o cacique da Terra Indígena Turiaçu e presidente da Associação Ka´apor Ta Hury, Iracadju Ka´apor, por meio de um comunicado reinteirou o pedido  de que todos os parentes permaneçam em suas aldeias. “É essencial que os povos tradicionais tomem todos os cuidados, conforme as orientações das equipes epidemiológicas do Ministério da Saúde e das autoridades do estado e município. Fiquem em casa”, ressaltou  cacique Iracadju Ka´apor.

O líder indígena informou que todos os habitantes da aldeia estão evitando sair para as cidades mais próximas e que estão repassando e reforçando as orientações de higiene para as mulheres grávidas, crianças e idosos. E acompanhando as informações sobre a pandemia pelo mundo por meio dos telejornais e da internet “A gente está em isolamento social e vamos continuar nos protegendo. O Covid-19 tem matado muitas pessoas por diversos países. Como nós temos um bom relacionamento com os outros caciques das 22 aldeias que fazem parte da Terra Índigena Turiaçu, ficou combinado que ninguém pode sair para não trazer a doença para nosso povo. Quando a precisamos de atendimento a gente aciona as equipes de saúde indígena para fazer o atendimento”, disse Iracadju Ka´apor acrescentando que até agora não tem nenhum caso registrado.

Outra aldeia, que também determinou isolamento social total, foi a Terra Indígena Caru. De acordo com o cacique Antônio Guajajara,  a decisão foi tomada no final de março após reunião com a maior parte dos índios das aldeias. Segundo Antonio Guajajara, o povo Awá Guajá, que também mora na TI Caru, decidiu ir para dentro da mata assim que soube que o vírus estava se alastrando por todo o país. Em seguida, os Guajajara fizeram uma grande reunião, com a participação de Antônio Guajajara, e também decidiram se afastar da aldeia para dentro da floresta. Segundo o cacique, apenas os índios da aldeia estão autorizados a entrar no local. Até servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) e indígenas de outras aldeias não podem entrar na região neste momento. A etnia Awá Guajá possui três aldeias na Terra Indígena Caru. Já o povo Guajajara possui cinco.

Quem também está preocupada com o aumento do número de casos do Covid-19 no Estado é a líder Cícera Caru da Terra Indígena Caru, que também está em isolamento social. “O coronavírus está preocupando as comunidades indígenas do Maranhão. Estamos muito preocupados com a nossa comunidade, principalmente com as crianças e os mais velhos. A gente está se cuidando e evitando contato com outras comunidades indígenas e orientando os mais jovens para que não saiam lá para fora. E a gente não tem saído para o lado dos brancos. Os nossos parentes saem para caçar e pescar e até o está sendo muito fácil graças a Deus. Mas, até o momento, não recebemos nenhum tipo de apoio por parte de nenhuma autoridade.

Ministério da Saúde faz orientações

Nesse ano, em meio à pandemia do novo coronavírus, os indígenas precisam estar protegidos ainda. Estudos da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz) atestam que os índios são mais vulneráveis a epidemias em função de  condições sociais, econômicas e de saúde mais difíceis do que as dos não índios, o que amplifica o potencial de disseminação de agentes causadores de doenças.

Por conta da atual situação, em março, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria Especial de Saúde Indígena, apresentou aos povos indígenas, aos gestores e colaboradores medidas que podem ajudar a prevenir o contágio com o Novo Coronavírus.  As iniciativas estão previstas no “Plano de Contingência Nacional para Infecção Humana pelo novo Coronavírus (Covid-19) em Povos Indígenas”. Além disso, a Fundação Nacional do Índio (Funai) também se manifestou medidas temporárias de prevenção ao novo coronavírus.

Veja as medidas:

Os casos suspeitos de Covid-19 tem prioridade no atendimento à população de modo a  diminuir o tempo de contato com os indígenas presentes no local de atendimento; O registro do atendimento deve ser feito no prontuário do paciente e também deverá ser inserido no Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI), no menor tempo possível;

Agentes Indígenas de Saúde e Agentes Indígenas de Saneamento devem receber as informações para que possam ajudar na conscientização da comunidade sobre as medidas de prevenção e controle da doença, na identificação precoce de sinais e sintomas de Síndrome Respiratória Aguda Grave; O Acampamento Terra Livre, o maior encontro indígena do país, que ocorreria entre os dias 27 e 30 de abril, em Brasília-Distrito Federal, foi adiado por conta do coronavírus;

Estão suspensas a concessão de novas autorizações de entrada em terras indígenas , com exceção daquelas necessárias à continuidade de serviços essenciais às comunidades, como ações de segurança, atendimento à saúde, entrega de gêneros alimentícios, de medicamentos  e combustível; O contato com agentes bem como a entrada de civis em terras indígenas são restritos; A entrada de agentes públicos de atendimento à saúde e segurança não será dificultada pela fundação.

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