AMIGOS DO BONFIM

Humanidade para comunidade

Projeto social Amigos do Bonfim chegou para beneficiar moradores desvalorizados e discriminados por habitarem naquela área, a antiga Colônia do Bonfim

Reprodução

Foi um projeto que começou por acaso, mas que cresceu e se tornou grandioso. Algo que vai além de um evento, de ajuda material, algo que trata de humanidade. A comunidade do Bonfim está sendo beneficiada com o projeto Amigos do Bonfim, que tem entre as atividades o Show Beneficente Amigos do Bonfim, a ser realizado no dia 28 de novembro, às 16h, no MaraVista, na Prainha do Bonfim. O valor arrecadado será revertido em cestas de alimento que serão distribuídos para a comunidade.

O projeto Amigos do Bonfim foi idealizado pela estudante de jornalismo e moradora da Vila Nova, Nelyane Gomes, que viu em uma atividade da disciplina de reportagem, uma oportunidade para retratar a realidade em que vivem os ex-internos da antiga Colônia do Bonfim e ajudá-los. Foi conversando com um dos internos da época do leprosário, Flávio Serafim Lisboa, que surgiu a ideia do show.

Flávio Serafim Lisboa, de 73 anos conseguiu venceu a doença. Segundo Nelyane, ele chegou à Colônia do Bonfim em 1962, com 16 anos, quando saiu da cidade de Anajatuba, no interior do Maranhão. São 57 anos morando no Bonfim, desde que foi diagnosticado com hanseníase. Depois da cura, ele continuou morando lá.  “Se fôssemos recontar a história daquele tempo, são muito grandes as diferenças. Antes as pessoas tinham medo, mas hoje elas têm aprendido que é possível conviver conosco”, disse.

Assim como seu Serafim outros ex-internos, egressos já curados, familiares e ex-funcionários já aposentados habitam nas cerca de 30 casas, chegando a pouco mais de 100 pessoas. Isso além dos pacientes tratados Unidade de Apoio Hospital Aquiles Lisboa, referência no tratamento da doença e que funciona na localidade.

“Na verdade, o projeto já existia, e quem começou foi o Reginaldo que mora na casa do Padre Bráulio, pároco da paróquia de São José do Bonfim.  Me juntei a ele para a gente ajudar, porque é uma comunidade que precisa, que se sente discriminada, mas que gostaria de ser vista. Quando conversei com o Seu Flávio, ele me contou a história dele e a forma como as pessoas tratam o local. Muitos que estão lá foram deixados lá por causa da doença e não tem nem contato com a família. Seu Flávio pediu ajuda para a causa e, a partir daí, surgiu a ideia de reunir os artistas e beneficiar a comunidade com o valor arrecadado”, disse Nelyane.

Como fruto do projeto e apoio da comunidade, já foi feita decoração natalina, a fachada da paróquia já foi pintada, já ocorreu um chá beneficente, o Chá com Prosa, dentre outras atividades. Além do show beneficente, já está sendo preparada uma programação especial para a noite de natal com coral e apresentações musicais, além da entrega das cestas básicas, que serão compradas com recursos obtidos do show beneficente.

Show beneficente com grandes atrações

As pulseiras de acesso para o show estão sendo vendidas a R$ 10. Com o dinheiro arrecadado, a organização vai comprar cestas básicas que serão entregues no dia 24 para os moradores da área. A festa começa às 16h.

São mais de 8 horas de música em dos lugares mais bonitos de São Luís, o Maravista, na Prainha do Bonfim, com a participação de vários artistas e grupos, dentre eles, Sindicato do Samba, Parceiro Paz, Ademar Danilo, Val Show, Marcello Alexandre, 7 Notas, Marquinhos Bill, Celma Marks, Jessica Santos, Junior Maranhão, Ellis Mel, Jobert Oliveira, Faby Love, Leide Tornado, Foguinho do Forró, Orlandinho Andrade e Junior Natchu, Marcos da Maioba e o Dj Júnior Natchu.

A Colônia

A unidade hospitalar foi fundada em 17 de outubro de 1937, com a finalidade de isolar pessoas doentes de hanseníase sendo denominado, “Sanitário Colônia Achilles Lisboa” e ficou conhecido no passado como Colônia do Bonfim, possuindo área de 317.00 metros quadrados de terras, em localização privilegiada pela natureza, porém com limitações de acesso feito por barcos e lanchas que aportavam no Porto do Bonfim hoje chamado “Prainha”.

O primeiro paciente registrado na condição de isolado compulsoriamente na Colônia do Bonfim, em 19 de outubro de 1937, foi A.E.J., proveniente do Cemitério do Gavião. Do sexo feminino, a interna foi registrada como de cor preta, nascida em 1879, natural da Ilha de São Luís, solteira, de profissão lavradora. A ela foi destinada moradia em uma casinha na avenida Getúlio Vargas, número 5, onde viveu até a data de sua morte, em 6 de dezembro de 1955.

Segundo os mais antigos, o nome da Colônia, que depois deu nome ao lugarejo, veio como reverência a Nosso Senhor do Bonfim, outros, porque as pessoas eram internadas lá para ter um bom fim de vida. Segundo historiadores, a verdadeira origem do nome Colônia do Bonfim é porque ela foi construída para “abrigar leprosos”, na Ponta do Bonfim, sendo separada do centro da cidade pelo rio Bacanga.

O local foi escolhido exatamente por ser afastado do centro e de difícil acesso, pois antes a única forma de transporte era pelo mar. Assim, tornou-se ideal para o isolamento de “leprosos” como forma de afastá-los definitivamente do convívio social.

Segundo artigo de José Augusto Leandro, professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa, “no Bonfim existiam vários grupos de moradias que formatavam uma microcidade com 72 casas. Segundo os dados oficiais, era possível abrigar ali trezentos doentes. Além das casas, havia na colônia uma enfermaria com quarenta leitos, cozinha, lavanderia a vapor e refeitório para atender a todos os pacientes. Ainda havia um dispensário geral (com sala de operações, de curativos e farmácia), um posto para enfermeira de plantão, uma capela para doentes e uma casa de detenção (com duas celas). Um pouco além da área ‘infectada’, também pertencia à administração da Colônia um posto policial, uma residência de médico, uma residência de capelão e uma casa de administração, com acomodações para oito irmãs religiosas, com capela, almoxarifado, depósito etc”.

Na década de 1990 a então Unidade Hospitalar Aquiles Lisboa foi regulamentada pela Lei nº 5.643 passando a ser uma unidade, integrante da então Gerência de Qualidade de Vida (GQV), hoje a SES. O prédio fica dentro da antiga Colônia do Bonfim. Alguns indivíduos remanescentes do período do isolamento compulsório ainda habitam os terreno, como seu Flávio Serafim. Atualmente, todo o espaço é chamado de Hospital Aquiles Lisboa, local de referência no tratamento da hanseníase no Maranhão.

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