FELIS 2019

Quem foi Aluísio Azevedo, patrono da Feira do Livro de São Luís?

Escritor maranhense deixou obras marcantes para a literatura brasileira e mundial. Ele é patrono da 13ª edição da Feira do Livro de São Luís, que começa no dia 11

Reprodução

O ano de 2019 marca o centenário do translado dos restos mortais do escritor maranhense Aluísio Azevedo (1857- 1913), de Buenos Aires para o Maranhão. Então, nada mais emblemático, pela importância da obra do escritor para o Brasil, e pela data marcante, que este ano ele tenha sido escolhido o patrono da 13ª edição da Feira do Livro de São Luís (FeliS).

Para os organizadores da FeliS, a escolha, mais do que justa, se dá pela relevância do autor dentro da literatura brasileira. “Escritores da atualidade irão trabalhar a sua temática, mostrando que ele foi um escritor atemporal e que a leitura deve ser vivenciada na contemporaneidade. Um dos convidados é o poeta, ficcionista, tradutor e crítico literário brasileiro, Carlos Nejar, que ocupa a cadeira de Aluísio na Academia Brasileira de Letras e é membro da Academia Brasileira de Filosofia, já foi indicado ao Prêmio Nobel e é um dos principais tradutores de Pablo Neruda”, explicou a coordenadora da 13ª FeliS, Rita Oliveira.

O evento começa no próximo dia 11 e vai até o dia 20,  no Multicenter Sebrae, com o tema O Brasil Atemporal na Obra de Aluísio. O escritor, introdutor do Naturalismo na literatura brasileira vivia suas histórias, retratava o realismo e causou furor ao mostrar uma São Luís bucólica, preconceituosa, racista, machista com uma impiedosa crítica social à sociedade da época e à igreja, a corrupção dos padres.

Mas você sabe quem foi Aluísio Azevedo? Você sabe por exemplo, que ele era irmão de Artur Azevedo, que dá nome ao mais antigo teatro do estado? E que ele morou em uma casa na Rua do Sol, onde escreveu O Mulato (1881)?

Começamos a falar de O Mulato (quem nunca associou o nome do escritor a essa obra?). O livro consagrou a escrita naturalista de Aluísio Azevedo, situando o autor como o maior representante deste estilo no Brasil. No livro que antecedeu Casa de Pensão (1884) e O Cortiço (1890), é tanta a riqueza de detalhes que pode-se sentir a dor desesperada de um homem cujo único desvio de caráter foi ter nascido mulato. Raimundo, homem culto e rico, formado na Europa e acostumado às liberdades e refinamentos que somente a vida instruída pode trazer, descobre, ao retornar à pátria, a impossibilidade de realizar uma paixão pelo simples fato de suas origens: ele era filho de uma escrava! O livro tocava questões muito polêmicas. Isso bastou para que alguns setores da sociedade maranhense se sentissem ofendidos e desencadeassem seu ódio contra o escritor.

Para além das críticas, Aluísio Azevedo mostrou em sua obra mais marcante o bucolismo da São Luís do século dezenove e a transição do colorido do romance para a realidade do cotidiano.

A casa é tombada pelo estado do Maranhão

Foi no mirante de uma moradia na Rua do Sol, esquina com a Rua da Mangueira, no Centro Histórico, que o maranhense escreveu O Mulato. Depois de ter a estrutura toda modificada para quase abrigar um estacionamento, a reforma do casarão do século XIX, de propriedade privada, foi parar na justiça. O imóvel é tombado pelo Departamento Histórico Artístico e Paisagístico do Estado e a proprietária queria transformá-lo em estacionamento, mas foi impedida pela justiça depois de denúncia do IHGM.

Segundo o Departamento Histórico Artístico e Paisagístico do Estado, a proprietária apresentou um projeto arquitetônico, que foi aprovado. Na hora da execução, teriam sido realizadas modificações que não estavam previstas. Um laudo de vistoria foi constatado demolições ilegais, o que colocava o imóvel em risco. Desde o ano passado a casa está sofrendo intervenções pela proprietária, conforme as adequações exigidas pelo Ministério Público. No ano passado a fachada foi restaurada.

“Em 2014 esse imóvel se encontrava em estado de abandono, de deterioração e com ameaça de se tornar estacionamento. Na época eu era presidente do IHGM e a gente liderou um movimento para impedir que a casa onde ele morou com sua família, inclusive o mirante onde ele escreveu suas principais obras, fosse demolido. Felizmente surtiu efeito muito grande, e aí o Ministério Público, a Justiça se manifestou, se pronunciou, no sentido de evitar esse crime contra o patrimônio cultural e histórico. Infelizmente todo o interior do imóvel foi demolido restando apenas a fachada original do imóvel. No ano passado tivemos a informação de que houve um processo de restauração da fachada’, conta Euges Lima. A destinação para a casa ainda não foi definida.

O escritor
Aluísio Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão, em 1857. Contrariando a vontade paterna, que era vê-lo comerciante, viajou aos 17 anos para o Rio de Janeiro e começa a estudar pintura na Academia Imperial de Belas Artes. Logo passou a colaborar, com caricaturas e poesias, em jornais e revistas. Com a morte do pai em 1878, é obrigado a retornar a São Luís, onde, em 1879, lança o romance Uma Lágrima de Mulher, exageradamente sentimental, em estilo romântico. Fortemente influenciado pelas leituras de Eça de Queiroz e de Émile Zola, que lhe apontam um novo caminho, publica em 1881 O Mulato, obra que inaugura o Naturalismo na literatura brasileira. Por tratar-se de um libelo contra a vida e os costumes maranhenses no período abolicionista, o romance provoca violenta reação da sociedade provinciana e do clero, coagindo-o a voltar para o Rio de Janeiro, onde passa a viver da literatura, publicando romances, escrevendo folhetins e contos em jornais e redigindo peças teatrais. 

Em 1895, ao ingressar na carreira diplomática, abandona a literatura. Esteve, a serviço do Brasil, na Espanha, no Japão, no Uruguai, na Inglaterra, na Itália. Passou a  viver em companhia de D. Pastora Luquez, de nacionalidade argentina, junto com os dois filhos, Pastor e Zulema, por ele adotados. Em 1910, foi nomeado cônsul de 1ª. classe, sendo removido para Assunção. Buenos Aires foi seu último posto. Ali faleceu, em 1913. Foi enterrado naquela cidade. Seis anos depois, por uma iniciativa de Coelho Neto, a urna funerária de Aluísio Azevedo chegou a São Luís, onde o escritor foi sepultado no Cemitério do Gavião.

A dura realidade

“Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes; as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças de água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho. ”

A descrição nada elogiosa a São Luís é a abertura do romance O Mulato. É nesse clima que o autor vai apresentando os personagens e seus lugares, como: a Praça da Alegria, Praça de Santo Antônio, Praia Grande, Rua da Estrela, Anjo da Guarda, Rua Grande, Rua de São Pantaleão que hoje em nada se parecem com o que foi retratado outrora.

Para o historiador e pesquisador Euges Lima, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) Aluísio Azevedo merece realmente todas as homenagens. “Merece ser reverenciado e lembrado. O Aluísio foi um grande escritor brasileiro. Na verdade, ele foi o primeiro escritor profissional do Brasil, ou seja, primeiro escritor a viver profissionalmente da escrita. O primeiro livro dele foi o romance Uma Lágrima de Mulher (1879), e segundo foi O Mulato (1881), que é tão importante e que marca a introdução de um estilo literário no brasil que é o Naturalismo, também chamado de Realismo. Depois ele publica várias outras obras que são considerados clássicos da literatura brasileira, como O Cortiço, Casa de Pensão, enfim, inúmeras obras, até que se torna diplomata e a partir daí, deixa a produção literária, nessa fase da vida”, comenta.

Para Lourival Serejo, imortal da Academia Maranhense de Letras, ocupante da cadeira nº 35 e um apaixonado pela obra de Aluísio Azevedo, destaca a inovação que ele trouxe para a literatura, de retratar os problemas sociais em suas obras e a técnica dele em escrever. “Quando ele estava escrevendo O Cortiço, ele se infiltrou em uma dessas moradias como se fosse um morador de lá para ver e viver de perto como aquelas pessoas moravam. Tanto que quando descobriram que ele não era de fato um morador dali quiseram expulsá-lo. Ele desenhava seus personagens, colocava-os na mesa e imaginava a história deles. Ele vivia cada romance que fazia”, contou.

São Luís no tempo de Aluísio Azevedo

Retratadas em suas obras, as ruas do Centro eram adjetivadas como preguiçosas. “Um ou outro branco, levado pela necessidade de sair, atravessava a rua, suado vermelho afogueado, à sombra de um enorme chapéu-de-sol. Os cães, estendidos pelas calcadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos, movimentos irascíveis, mordiam o ar querendo morder os mosquitos”, diz um trecho inicial do livro mostrando que o sol fazia as pessoas serem mais reclusas tal o bucolismo e tranquilidade da cidade.

Praia Grande e Rua da Estrela 

“A Praia Grande e a Rua da Estrela contrastavam, todavia com o resto da cidade, porque era aquela hora justamente a de maior movimento comercial. Em todas as direções cruzavam-se homens esbofados e rubros cruzavam-se os negros no carreto e os caixeiros que estavam em serviço na rua”. Os locais que formam o conjunto do Centro Histórico hoje abrigam em sua maioria bares e lojas de artesanato. Antes locais de grande comercialização de negros e escravos, hoje reduto preferido de turistas.

Rua de São Pantaleão 

“Ao longe, para as bandas de São Pantaleão, ouvia-se apregoar: “Arroz de Veneza! Mangas! Macajubas!” Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente”. A Rua de São Pantaleão também é um dos principais corredores do comércio do Centro com lojas principalmente de artigos importados.

Praça da Alegria 

“A Praça da Alegria apresentava um ar fúnebre”. Hoje o local é reduto de vários comércios e onde se concentra grande parte do trânsito do Centro por estar localizado próximo à Rua Grande.

Rua Grande 

“Nesse tempo moravam no Caminho Grande, numa casinha térrea para onde a moléstia de Mariana os levara em busca de ares mais benignos”. Hoje chamada de Rua Grande o local abriga comércios e loja é o considerado um grande shopping a céu aberto.

Anjo da Guarda 

“Lá defronte, nas margens apostas do Rio Bacanga a silenciosa vegetação do Anjo da Guarda estava a provocar boas sestas sobre o capim, debaixo das mangueiras; as árvores pareciam abrir de longe os braços…”. O Anjo da Guarda é um dos principais bairros da área Itaqui Bacanga. Somente no ano de 1982 com a construção da Estrada de Ferro Carajás e com a instalação da Vale o bairro passou a receber alguns serviços, como a criação da Avenida dos Portugueses.

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