DRAMA DOS VENEZUELANOS

Imigrantes da Venezuela afirmam estar sendo explorados

A maioria que procura de trabalho afirma que está sendo vítima de exploração por parte de quem a contrata.

Reprodução

O drama dos venezuelanos refugiados em São Luís ganhou mais um capítulo. A maioria que procura de trabalho afirma que está sendo vítima de exploração por parte de quem a contrata. A denúncia foi feita à reportagem de O Imparcial por um grupo de dez venezuelanos que estão morando em quitinetes desde o mês de junho, no bairro do Recanto dos Vinhais. Hoje, eles contam com o apoio de um grupo de amigos da Sociedade de Estudos Espíritas Fraternidade (SEEF) que estão tentando recolocá-los no mercado de trabalho para que possam resgatar a sua autoestima que foi subtraída ao saírem de sua terra natal em busca de melhores condições de vida.

Foi vestido com a camisa da seleção da Venezuela que o refugiado Arnoldo Velasquez, de 39 anos, contou todo o seu drama. Em São Luís, há dois meses e meio com a esposa e a filha, ele revelou que saiu do seu país de origem por conta da crise econômica que o país está vivendo. Arnoldo Velasquez disse que quando morava na Venezuela trabalhava como fiscal de obras públicas em construtoras.

Eu vim para o Brasil primeiramente para ajudar a minha família. Meu pai e minha mãe continuam lá na Venezuela. Graças a Deus, eu consegui chegar aqui com a ajuda de amigos. Ando procurando trabalho urgentemente. Há quatro anos, a economia no meu país começou a declinar e os preços começaram a ficar muito elevados. As coisas variavam de preço diariamente. Todos os dias o câmbio sobe. O que dificultava até comprar produtos para se comer. A situação chegou a tal ponto que ficou insustentável. Por isso, resolvi tentar a sorte no Brasil

Revelou  Arnoldo Velasquez que morou por seis meses em Roraima e trabalhando em uma serralheria.

Arnoldo Velasquez disse que a sua primeira decepção foi ter trabalhado nesta serralheria junto com a esposa e não ter recebido o salário combinado. E que foi com muito esforço que conseguiu juntar dinheiro para mandar buscar a sua filha.  Ao chegar aqui na ilha, Armando, após muita procura,  conseguiu um emprego em uma espetaria. Mas ele revelou que saiu de lá porque não havia nenhum tipo de garantia, e, além disso, o horário era complicado, pois chegava por volta das quatro horas da tarde e saia as duas horas da madrugada sem direito a condução para levá-lo com segurança em casa  e o que foi oferecido era muito pouco. Arnoldo Velasquez contou que trabalhou por duas semanas e recebeu apenas R$ 180 e ainda ficou com a sua carteira de trabalho retida.

Em busca de sonhos e oportunidades
Quem também está passando pela mesma situação é o venezuelano Rafael Farias, de 54 anos. Formado em economia, antes de vir para o Brasil, ele trabalhava na Venezuela em um escritório. “A situação na Venezuela está muito difícil. Vim para o Brasil porque aqui as portas se abrem mais fácil do que os outros países da América Latina. Estou há um ano no Brasil. Primeiro morei em Boa Vista, em Roraima onde há muitos venezuelanos assim como eu a procura de trabalhos e oportunidades, mas está tudo saturado. Depois fui para Manaus onde trabalhei de tudo um pouco. Vim para o Maranhão porque estou procurando algo melhor para mim e minha família. Meus filhos estão na Venezuela e eu preciso de dinheiro para mandar para eles”, contou Rafael Farias.

O venezuelano ressaltou que a situação política que está influenciando na economia da Venezuela, também contribuiu para a sua decisão de sair do país. “A Venezuela é muito rica. Temos muitas riquezas minerais, temos um povo que é trabalhador, mais o país entrou em crise. No meu país não há inflação. Há hiperinflação. Você trabalha um mês forte, e quando recebe o seu salário só dá para comprar um frango e um pouco de arroz, e não dá para mais nada. Por isso, a nossa gente está desesperada, fugindo para a Colômbia, Brasil, Equador, Chile, e Argentina. Quem tem um pouco mais de dinheiro também está viajando para a Espanha e outros países da Europa. Essa crise está atingindo mais de 5 milhões de venezuelanos. A situação é muito difícil. Muito complicada. Estamos precisando de trabalho, mas aqui estão oferecendo empregos por pouco dinheiro. O que queremos é uma oportunidade para reerguermos nossas vidas ”, lamentou o refugiado que chegou a trabalhar como vigia em um posto de gasolina no Bairro do São Francisco, mas quando descobriu que ganharia R$ 50 por noite desistiu.

Questionado sobre qual o seu sonho, Rafael Farias disse que sonha ver o país que nasceu e viveu a sua juventude de volta a sua normalidade. “Penso em retornar para minha terra. Mas o momento não permite. Não tem sido fácil para nenhum de nós refazer as nossas vidas em um país que não é seu e não fala a sua língua”, disse Rafael Farias explicando que cerca de 500 pessoas atravessam a fronteira do Brasil pela cidade de Pacaraima.

Mulheres também sofrem com a situação
A venezuelana Gildete Gomez, de 23 anos, foi outra refugiada que abandonou tudo na Venezuela para aventurar uma nova vida no Brasil. Ela que trabalhava em uma loja de confecção, explicou que veio para o Brasil por conta das dificuldades que estava passando. “A situação econômica está muito forte. Não há dinheiro para gente se alimentar. Eu também saí de lá por conta do meu problema de saúde. Eu tomo uma medicação controlada. E lá os hospitais não estão oferecendo este remédio que já se esgotou e não tinha previsão de quando ia chegar. Então resolvi arriscar e vir para o Brasil”, contou ela sem revelar o problema de saúde.

Gildete Gomez contou ainda que o seu maior obstáculo quando atravessou a fronteira para o Brasil, sentiu dificuldade com a língua, pois não entendia e nem falava o português.

Meu maior impacto foi quando eu entrei no Brasil e que era um outro idioma bem diferente do nosso, mas com o tempo aprendi a compreender e falar melhor. Meu sonho é ter um trabalho para que eu tenha uma estabilidade financeira para comprar uma casa e viver com dignidade com a minha família, pois quero dar um futuro para a minha filha de três anos.

Já a venezuelana Auvex Hernandez, 39 anos, disse que também veio para o Brasil por conta da crise econômica no país vizinho. Ela está no Brasil com o marido e seus dois filhos, e deixou um outro de 21 anos com seus familiares. Auvex Hernandez contou que trabalha na área de construção e que também está atrás de uma oportunidade. Ela contou que chegou a trabalhar como diarista em uma casa, mas desistiu porque além do trabalho de limpeza que foi contratada para fazer teve que também lavar, passar, cozinhar e até dá banho no cachorro. Com duas semanas de trabalho, ela resolveu desistir porque se sentiu muito explorada. “Eu sei que estou precisando, mas não preciso ser humilhada pelo fato de estar fora do meu país. O que nós estamos querendo é ter um trabalho digno para que a gente possa ajudar a nossa família que ficou na Venezuela. Espero que as pessoas se sensibilizem com as nossas histórias, pois precisamos de um trabalho para alugamos uma casa e colocar a minha filha de seis anos para estudar, pois ela está fora da escola”, disse ela em tom de tristeza.

A reportagem apurou ainda que o contato com os venezuelanos aconteceu quando os espíritas estavam realizando a distribuição de sopa, e os mesmos se aproximaram para receber o alimento. A partir daí, fez-se o vínculo. O grupo providenciou quitinetes para eles e, com ajuda de doações de amigos e familiares, conseguimos mobiliar com o básico. Hoje estão distribuídos em quatro quitinetes.

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