Rio Anil agora é cinza
No Dia Mundial da Água, O Imparcial percorreu alguns pontos de um dos rios mais importantes que cortam a Ilha de São Luis: o Rio Anil
No Dia Mundial da Água, O Imparcial percorreu alguns pontos de um dos rios mais importantes que cortam a ilha de São Luís: o Rio Anil. A data que celebra foi instituída em 1992, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ao longo de nossa jornada no bairro da Vila Palmeira e da Camboa, percebemos é que o rio tem sofrido ao longo dos anos com a degradação ambiental, o desmatamento e o excesso de lixo que é evidente em suas margens. Na Vila Palmeira onde “um mar de garrafas pet”, restos de eletrodomésticos e centenas solas de calçados, além de outros incontáveis objetos chamou a nossa atenção por conta do cenário que é cercado por palafitas.
Durante toda uma manhã a equipe de reportagem observou os moradores do local que sem local construíram seus lares em cima da maré. Ressabiados muitos preferiram não dar entrevista com vergonha de sua situação. Crianças descalças, equilibravam-se nas pontes improvisadas que servem de caminho de suas casas até avenida. Urubus sobrevoavam atrás de restos de comida. O garoto M. de 14 anos, carregava o irmão menor por entre as palafitas com medo que o mesmo caísse. O menino revelou que desde criança mora no local. E que muitos acidentes ocorreram por lá. A mãe fazendo o almoçou preferiu o silêncio, fechando a janela para evitar nossa presença.
Para o motorista de aplicativo Giovanio Silva, de 36 anos que mora há 15 anos no bairro da Vila Palmeira esta é uma realidade que acompanha há anos a comunidade. E que já realizaram vários protestos para que fizessem algo pelas pessoas que moram no local. “Moro há 15 anos aqui. Este era um rio onde muitas famílias tiravam seu sustento e hoje está sujo e cheio de lixo. Já pedimos as autoridades para fosse feita uma limpeza, mas até o momento nada foi realizado”, dizendo o problema também está relacionado a falta de consciência da população que descarta o lixo nas margens do rio.
Já no bairro da Camboa, O Imparcial constatou que o Rio Anil é também fonte de sobrevivência. Entre os muitos que tiram o sustento do local, encontramos o pescador Walter França, 59 anos, pai de três filhos, que tem um barco que fica ancorado na Ponte de Bandeira Tribuzzi. Ele contou que desde criança pesca no Rio Anil e que o rio se transformou ao longo do tempo. “Eu fui criado em embarcação por meus avós desde os cinco anos de idade. Nem ler eu sei porque eu não tive oportunidade de estudar. Fui sempre dedicado a esta vida aqui de pescaria. O Rio Anil para mim é um meio de sustentar minha família. Daqui eu tiro o caranguejo, o siri, o camarão e o peixe. Antigamente era um rio mais profundo. Era um rio mais peixeiro, que até navio vinha aqui na capitania. Era um rio mais respeitado. Não se atravessava a nado. Hoje a gente atravessa. Tem atalho que nem chega ao calção”, contou o pescador explicando que uma das causas para a atual situação do Rio Anil pode ter sido o aterramento de suas margens. No local a equipe de reportagem encontrou além de lixo, pontos de esgoto.
Conscientização: a arma para preservação
O professor Antonio Carlos Leal do curso de Oceanografia da Universidade do Maranhão ressaltou que a celebração do Dia Mundial da Água é uma data importante, pois serve como uma reflexão para a preservação da água não só em São Luís, no Brasil assim como o mundo todo. Antonio Carlos Leal pontuou que a água certamente será neste século o grande problema para a sobrevivência das populações das cidades dos países. “A água precisa ter qualidade, e hoje o que se percebe apesar da abundancia relativa que existe aqui no estado do Maranhão, a água de qualidade tem tornado-se cada vez mais escassa. Isso levou a disponibilidade, a demanda e o nível de degradação da água, fazendo com que algumas comunidades e organizações internacionais identificassem a escassez da água como um fator controlador do desenvolvimento da humanidade nesse século”, disse ele.
O estudioso afirmou ainda que a grande relação direta com esta situação de alerta, é que o suprimento de água dos rios está associado à sobrevivência humana. “Nós sabemos que grande parte do abastecimento da água potável no nosso estado, é decorrente dos rios. Uma parte do Rio Paciência e uma outra parte do Rio Itapecuru. Mas fazendo um recorte sobre a situação dos rios da ilha que eu tive a oportunidade de vivenciar por meio de estudos, o Rio Anil, o Rio Pimenta, o Rio Cururuca, Rio Maracanã que são rios que tinha um fluxo de água relativamente caudalosos e que abrigavam uma fauna bem específica, esses rios todos fora suprimidos pela degradação, ocupação irregular, pela falta de fiscalização do poder público e pela falta de conscientização da população que joga lixo, garrafas pet comprometendo seriamente a qualidade da água e seus corpos hídricos”, analisou Antonio Carlos Leal explicando que a consciência é a maior arma para que os nossos rios sejam preservados.