Centro Histórico é o espaço plural e pulsante de São Luís
Cerca de 30 mil pessoas habitam o Centro Histórico. Além das residências, uma infinidade de empreendimentos e atividades completam e formam a vida no local
Com uma população residente chegando aos 30 mil habitantes, o Centro Histórico de São Luís é um estojo de joias, como bem descreve o arquiteto urbanista Ronald de Almeida Silva: “Um escrínio que guarda muito mais do que solenes casarões, sobrados altaneiros, becos e escadarias, simpáticas praças e singelas casinhas de porta e janela. O que diferencia esse Centro Histórico de uma maquete gigante e inerte são as pessoas que nele residem ou trabalham”, pontua.
E é nesse Centro Histórico, tombado pelo Iphan em 1974, que fica um dos locais mais visitados por turistas internacionais, nacionais e pelos próprios maranhenses, a Praia Grande.
Lojas de artesanato, repartições públicas, prédios-sedes dos governos estadual e municipal, instituições bancárias, faculdades, farmácias, bares, restaurantes, centros tecnológicos, escolas, museus, igrejas, hotéis, pousadas, centros culturais, casas e gente… muita gente. Todo tipo de gente. Tudo isso compõe a cena do local.
Cotidianamente uma diversidade de pessoas e interesses povoam o local. Uma povoação de gente que trabalha ali, que mora, que estuda, que passeia, que vai resolver algo, que vai se divertir. Por isso, o local oferece festas, cultura, culinária, gastronomia, arte, história e uma vida diurna e noturna movimentada
A Socióloga Ivanilde da Conceição Silva (mestranda do Programa de Pós-graduação em Cultura e Sociedade-PGCult/UFMA), tem no Centro Histórico não apenas um lugar em que convive e frequenta, mas seu objeto de trabalho. “Representações sobre o patrimônio: participação popular nas políticas habitacionais de interesse social no Centro Histórico de São Luís-MA” é o título da pesquisa de mestrado dela. Como quem estuda e pesquisa o local e seus movimentos, a socióloga considera o local um espaço democrático que atende aos interesses diversos de pessoas diversas.
“Por essência, o Centro Histórico é um espaço plural. Em um mesmo espaço você tem um público diferente que busca e encontra interesses diversos. Vejo isso como algo positivo. Um lugar extremamente democrático, que, mesmo com interesses diferentes, todo mundo se sente bem. Atende desde o turista que vem em busca de conhecer a história do Maranhão, seus prédios, a arquitetura, como os ludovicenses de outros bairros, os universitários que estão por ali e usufruem da vida do local”, define a socióloga.
O arquiteto urbanista Ronald de Almeida Silva disse que com o contínuo crescimento da cidade, que passa de 1 milhão de habitantes, o Centro Histórico resistiu bem ao aumento populacional. “Esse tsunami demográfico e as crises de gestão urbana e sequelas econômicas provocaram muitas perdas definitivas: imóveis que se arruinaram ou foram demolidos e dos quais somente resta hoje o chão vazio, como a Capela do Convento das Mercês e o Palácio dos Holandeses, onde hoje está o Hotel Central”, exemplifica.
Para manter um local pulsante, como a Praia Grande, é preciso que haja uma movimento de ocupação dos espaços que estão ali obsoletos e que poderiam ser usados para atividades culturais, esportivas, diversas. Além da iniciativa pública, na Praia Grande, especificamente, espaços como a Praça do Reggae, Praça da Faustina, Praça Nauro Machado, tem sido ocupadas com iniciativas independentes, como sebos e feira da criatividade, roda de tambor de crioula e atividades circenses, respectivamente.
Para a socióloga, por ser o local, patrimônio mundial, fica mais em evidência do que os outros bairros, mas observa que a aplicação de políticas públicas deve ser para toda a cidade.
“A beleza do Centro Histórico não passa só pela sua arquitetura, pelo patrimônio material, mas também na vida que acontece lá, pelos moradores e pelas pessoas que frequentam. Uma das lutas da comunidade do Centro Histórico está relacionada a questão da habitação, porque há um déficit habitacional. Uma das saídas seria um projeto de reabilitação de imóveis com finalidade habitacional para famílias de baixa renda da região que moram em locais insalubres. Se não houver um olhar diferenciado, vai ficar um espaço vazio somente para turista”, opina Ivanilde da Conceição.
Ocupar e preservar
Com o Complexo Deodoro inaugurado recentemente, a preocupação que ronda profissionais, especialistas, intelectuais, e população em geral, é sobre a política de preservação da área. O espaço urbanístico e paisagístico, além de iniciativas de projeto de preservação e conscientização da conservação, como em todo espaço público, deve haver uma continuidade do poder público para o local, segundo a socióloga.
“Uma obra que custou, salvo engano 44 milhões e ficou um espaço muito bonito, bacana, porém o poder público precisa desenvolver projetos para que haja uma ocupação mais efetiva por parte da população. Porque que as pessoas voltaram a frequentar a Praça Benedito Leite? Por causa do projeto da Feirinha, então se não houve nada, as pessoas vão deixando de frequentar”, diz
A coisa pública
Ela ainda lembra do sentimento de pertencimento que as pessoas ainda não tem. “A preservação, o cuidado com o que é de todos… O que se observa é que o poder público reforma, mas depois como não há conscientização da população e nem fiscalização, acompanhamento do poder público, acaba havendo depredação”, lamenta a socióloga.