COOPERATIVA

Ex-carvoeiros faturam R$ 140 mil produzindo móveis em São Luís

A criação de uma cooperativa foi o ponto de partida para a mudança de vida de dezenas de famílias na Vila Maranhão

Aldeci Venâncio e Sônia Regina (Foto: Arlinda Monteiro/O Imparcial)

Por mais de 10 anos, Sônia Regina Nazazeno, 49 anos, sustentou os quatro filhos com a venda de carvão feito de madeira descartada por indústrias na região do Itaqui, em São Luís. Além do dinheiro pouco que o trabalho rendia, ela e outras 130 pessoas ainda corriam risco de vida ao invadirem propriedades privadas. Somado a isso, a falta de preparo e de equipamentos de segurança tornavam o trabalho ainda mais perigoso.

“Quando os seguranças apareciam, a gente se escondia. Era corrido, mas era o jeito, porque precisava juntar os materiais para sustentar minha família”, lembra Sônia.

O grupo era formado por homens, mulheres, crianças e idosos, que muitas vezes não esperavam nem mesmo os caminhões pararem para recolher os pedaços de madeira. As invasões aconteciam principalmente nos terrenos da Vale, com quem tiveram longos embates. A primeira providência foi retirar as crianças e idosos do grupo.

“Não considerávamos só a invasão de uma propriedade privada, mas principalmente o risco que essas pessoas corriam ao realizarem essa atividade. Nós seguimos protocolos de segurança em todos os espaços da empresa e qualquer coisa que aconteça na área é nossa responsabilidade”, explica Daniel Florenzano, Gerente de Relacionamento com Comunidades da Vale.

Em 2012, a empresa propôs então que aquelas pessoas se organizassem e formassem um cooperativa, que receberia investimentos e capacitações. Daquelas, apenas 12 decidiram seguir no novo projeto, ajudando a construir a COOPVILA – Cooperativa de Trabalho, Coleta e Recuperação de Resíduos da Vila Maranhão.

E o que antes era transformado em carvão, hoje ganha forma e cores. São móveis, painéis, bandejas, caixotes, com preços a partir de R$ 20. Entre os cooperados, nove são mulheres. A maioria se tornou a principal fonte de renda da família. Também são elas que estão no comando por lá.

12 pessoas fazem parte da COOPVILA. (Foto: Arlinda Monteiro/O Imparcial)

A chefe da marcenaria, Maria Raimunda, 48 anos, conta que durante a capacitação, apenas os homens iriam aprender a trabalhar com madeira, mas ela fez questão de participar. “Como sou muito curiosa, eu disse que ia aprender também. Eles diziam que não e eu dizia que sim. Me colocaram para lixar uma peça durante um dia todinho. No outro dia eu estava com meu braço todo dolorido, mas consegui. Depois disso, as outras mulheres me acompanharam e agora somos maioria por aqui”, conta Maria, que foi catadora de materiais e produtora de carvão por quase 18 anos.

Hoje Maria Raimunda se diz satisfeita por ter conseguido trocar o pote de barro por uma geladeira, comprar uma televisão e conseguir construir sua casa. O marido pedreiro está desempregado e é sua renda fixa que garante a despesas da família.

As peças produzidas pela COOPVILA são feitas sob encomenda e o valor total é rateado igualmente entre os 12 cooperados no final do mês. A média de faturamento anual é R$ 140 mil. Para ajudar a atender a demanda, outras pessoas da comunidade são contratadas ou trabalham por diária.

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Marcilene Campos, 27 anos, marceneira. (Foto: Arlinda Monteiro/O Imparcial)

Quando tinha 24 anos, Marcilene Campos, se viu desempregada e com dois filhos para criar. Embora filha de marceneiro e irmã de carpinteiro, ela nunca tinha pego em nenhuma ferramenta e nem mesmo tinha passado pela cabeça ter esse ofício. “Desempregada, não pensei duas vezes. Me qualifiquei aqui, fiz curso de marcenaria e de reaproveitamento de madeira, que me permite fazer as peças pequenas a partir das sobras das encomendas. Já estou aqui há três anos e sou muito feliz, porque já tenho meu terreno, estou levantando minha casa e não dependo mais de ninguém”, conta a marceneira orgulhosa de ser quem é.

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