O que faz do Coroadinho um bairro tão perigoso?
Estudiosos apontam que duas facções criminosas atuam no bairro e moradores temem sair de casa.
Mais da metade de 2018 já se foi e durante esses seis meses 172 mortes foram registradas na grande ilha e região metropolitana. Delas 154 foram por homicídios dolosos, 10 por roubo seguido de morte e uma por lesão corporal. As demais mortes são advindas de mortes acidentais no trânsito tidas como homicídio culposo, suicídios, mortes durante confronto com a polícia e afins.
Nesse ranking, o bairro do Coroadinho liderou no mês de junho com o maior registro de homicídios na capital maranhense. Ao todo quatro mortes foram registradas. A fama de “bairro perigoso” corre nas rádios corredores da população ludovicense. Mas o que faz o bairro Coroadinho receber esse título? É isso que O Imparcial vem te contar hoje.
“Sair de casa sem dúvidas é uma batalha”
Para quem não sabe o bairro Coroadinho é formado por subdivisões, como: Coroadinho bom Jesus, Coroadinho Conceição, Vila Sebastião, Vila dos Frades, mas todos ligados ao Coroadinho.
Segundo Carla Batista, moradora do bairro, na região existem algumas regras: “quem mora na Vila Sebastião, não pode descer para o Coradinho e vice-versa. Essas regras existem justamente pelo os conflitos de facções, já que cada área é dominada por uma diferente.
Por isso, cada um tem sua feira, suas lojas, suas delegacias… Tudo para não haver esse tráfego de pessoas e acidentalmente alguém ser vítima desse conflito urbano”, relata à moradora.
Morador da Vila Sebastião há 20 anos o jovem William Damasso, de 52 anos, conta que no bairro não há toque de recolher: “mas, pela nossa segurança já sabendo como funciona o sistema de segurança no meu bairro eu evito chegar tarde ou em horários que sei que vai estar tudo deserto.
O perigo aqui é tão grande que mesmo nós que moramos aqui, não deixamos de ser vítimas da criminalidade”, ele ainda relata que sair de casa é contar com a sorte: “e claro com a segurança de Deus, porque nunca sabemos se voltamos vivo… Sair de casa sem dúvidas é sair pra uma batalha.
Vivi boa parte da minha vida aqui, mas hoje pela minha segurança pretendo vender minha casa e ir embora pra outro bairro. O problema é que ninguém quer comprar uma casa num bairro que tem a fama de perigoso”, conclui.
Estudante de farmácia, a jovem Karina Silva, moradora do bairro Vinhais teve que largar o emprego depois de dois assaltos: “Fui aprovada pra dar aula em um reforço escolar no bairro Coroadinho.
Estava muito feliz, porque os gastos da faculdade estavam altíssimos e emprego está cada vez mais difícil. Era por volta de 17h10min. Eu estava voltando pra casa quando dois homens armados em uma motocicleta tomaram meu celular e minha bolsa”, mas o terror não parou por aí.
Ela ainda conta: “mesmo com o psicológico abalado eu continuei no emprego. Passam-se duas semanas e estou com uma bolsa nova e desço no ônibus.
Até o reforço eu caminho uns sete minutos, era por volta de 13h40min, quando um carro quase me atropela e outro homem desce armado e toma minha bolsa. O pior que tentei reagir e peguei um soco na cabeça.
Foi o ápice pra em menos de um mês eu desistir de um emprego, porque eu via que era uma escolha – o emprego ou a vida”, concluiu.
Traçando as histórias
O nome dos três personagens anteriormente citados são nomes fictícios por motivos de segurança física dos entrevistados. São por casos como esses que muitas pessoas temem em dar a cara a tapa e denunciar as inseguranças registradas.
Mas, para esclarecer o porquê desse bairro ser tão perigoso nós entrevistamos dois pesquisadores da área que detalham o surgimento até o atual cenário que se encontra o bairro.
Segundo o jornalista e pesquisador de criminalidade urbana, Nelson Melo, a ocupação das terras do Coroadinho aconteceu em março de 1977, porém, bem antes de chegarem os primeiros ocupantes na área até então chamada de Sitio Caboclo. “Sua ocupação foi feita por pessoas vindas de outras regiões como o interior do estado em busca de uma vida melhor.
Como acontece na maioria das áreas ocupadas, a disputa pela posse da terra é certa, sempre surge um suposto dono. E por essas bandas não foi diferente”, disse.
De acordo com Nelson Melo o fato da falta de assistência do poder público na época permitiu que a situação se agravasse: “ e a partir dessa ocupação surgiram as vilas que juntas formam o bairro coroadinho. Em 2005 um estudo feito pelo Marcio Aleandro Teixeira foi encontrada nove gangues no bairro como Queimadores da Vila dos Frades, Galera da Vila dos Frades, Comando Negro, Organizadores da Mente, Mensageiros Satânicos, Detentores da Área entre outros.
E a partir de 2013 essas gangues cederam lugar para a facção criminosa conhecida como Bonde dos 40 (B40) e Primeiro Comando do Maranhão (PCM), onde começou a disputa por espaços. O morro do Zé Bombom, por exemplo, essa é uma área que ficou sob o comando do B40.
São Sebastião e Vila Conceição que estava sob o comando do (PCM) está agora sob as regras do Comando Vermelho (CV), facção essa que dominou a área após a extinção do PCM”, ele ainda diz que a falta de infraestrutura é um ponto positivo para essas facções: “quanto mais precária uma área, melhor para uma atuação criminosa atuar”, conclui.
Segundo o Centro de Controle de Zoonozes da Secretaria Municipal de Saúde (CCZ/SEMUS, 2004), toma-o como uma localidade específica, classificando-o como um bairro, que está localizado na Zona Urbana de São Luís e possui 5.665 prédios e 16.001 habitantes. Este mesmo Centro também classifica o Coroadinho como sendo um Distrito Sanitário, totalizando 47 localidades, nomeadas como bairro ou sítio.
Em nota a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA) informou que mantém diálogo estratégico com os comandos da Polícia Militar e Civil, no sentido de elaborar um planejamento operacional de segurança para reforçar o combate à criminalidade em todo o Polo do Coroadinho.
Segundo eles, a localidade já é coberta com ações desenvolvidas pela 2ª Unidade de Segurança Comunitária (USC) e que o policiamento no bairro é ininterrupto, sendo realizado por policiais em viaturas e motocicletas, que abordam e revistam pedestres e veículos em atitudes suspeitas.