SÃO FRANCISCO

A grande Ilhinha: lugar com história e um presente processo de urbanização

O bairro fica no entorno do São Francisco, possui comércio, minimercados, igrejas, escolas públicas, creche, uma Associação Comunitária.

Foto: Honório Moreira/ O Imparcial

É ali, entre a cidade nova e a cidade velha que fica um grande conglomerado, denominado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de “aglomerado subnormal”. Um conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) dispostas, em geral, de forma desordenada e densa, e apresentando carência em serviços básicos. Estamos falando da Ilhinha, que pode ser considerado um bairro dentro de outro bairro, o São Francisco.

Segundo o IBGE, entre 1991 e 2010, a população residente nesses locais aumentou em mais de 60%, passando de pouco menos de sete milhões para 11,4 milhões de pessoas no Brasil, segundo o Censo Demográfico.

O fica no entorno do São Francisco, possui comércio, minimercados, igrejas, escolas públicas, creche, uma Associação Comunitária. Mas o início do bairro foi difícil. Uma contradição se formos observar que a poucos quilômetros dali, em área nobre, edifícios luxuosos se destacam concentrando uma população com um alto poder aquisitivo.

Foto: Honório Moreira/ O Imparcial

Conversamos com um dos primeiros moradores do lugar, o Juiz de Direito da capital, Osmar Gomes, 56 anos. Há 47 anos ele chegava a São Luís vindo do povoado Enseada Grande, do município de Cajari. De um lugarejo com pelo menos 30 casas de palha onde morava em Enseada Grande, ele passou a viver em uma palafita, em cima da maré. Seu casebre, coberto de palha, com paredes de folha de zinco e assoalho de madeira de construção, significava o início de uma luta que culminou com a presidência da Associação dos Palafitados do São Francisco.

“Quando o meu pai faleceu eu tinha 4 anos de idade. Mamãe trabalhava quebrando coco e vendendo bolo nos finais de semana. Com 4 anos eu também já quebrava coco pra ajudar. Ela fazia pudim e eu saía de manhã para vender. Meu irmão mais velho foi morar em Matinha, na casa da minha avó e depois veio para São Luís morar na casa de um tio. Um tempo depois nós viemos para cá, ocasião em que ele passou um aviso na Rádio Difusora no programa do Jairzinho ‘Debaixo do pé do cajueiro’ dizendo para mamãe vir com toda a família”, conta o juiz, que tem outros 5 irmãos.

Na semana seguinte a que chegou em São Luís, ele começou a trabalhar vendendo jornais da cidade, dentre eles, O Imparcial. Aos finais de semana vendia pão cheio, pela manhã, na praia da Ponta D’areia e depois vigiava carro até as 18h. Ao final, todo o dinheiro era entregue para a mãe para ajudar nas despesas da casa. Com 11 anos conta que foi “promovido” a ajudante de pedreiro.

“Aquelas casas que ficam atrás do antigo Lusitana (supermercado) trabalhei em muitas delas. Mas sempre estudando. Depois do trabalho eu ia e voltava de casa para a escola, no Cema, na Avenida Kennedy, a pé”, conta.

Depois de muita luta, estudo e trabalho para ajudar a mãe com as despesas da casa e para concluir o primário, depois o ginásio e por fim o segundo grau científico, na escola Gonçalves Dias (1981), ele passou no vestibular para o curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão, em 1982.
“Eram 30 vagas e eu era o único proveniente de escola pública. Depois passei a dar aulas em colégios particulares e com isso as coisas foram melhorando”, lembra.

A luta pela moradia digna

Foi nesse período que durante uma reunião na Igreja do São Francisco, liderada pelo pároco Padre Alceu, pároco, quando se discutia sobre a moradia na cidade e nas palafitas, ele, Osmar Gomes, foi indicado e eleito para ser o primeiro presidente da Associação dos Palafitados do bairro do São Francisco.

“Eu morava na palafita, foi logo que começou a ser desbravada a Ilhinha. Sou um dos fundadores. As casas eram erguidas à noite. Durante o dia a polícia, então comandada pelo Sargento Silva, derrubava, e a gente se escondia dentro da igreja. Chegamos a ser presos várias vezes. A comunidade ia para a porta das delegacias e nós conseguíamos ser liberados por conta de estarmos nessa luta pela moradia”, lembra o juiz.

Ele foi presidente da Associação por 4 mandatos (8 anos). Hoje ela foi transformada em Associação São Francisco de Assis e no prédio funciona a Escola São Francisco de Assis. “Lutamos por aquela área levando creche, estádio. Criamos a Ilhinha para que fosse uma opção de moradia digna. É um contingente grande de moradores, mas hoje, a maioria é de pessoas que chegaram depois e não conhecem a história, de como se consolidou o que chamamos de um bairro dentro do bairro São Francisco”, diz o juiz. Segundo ele, hoje há pelo menos 10 mil moradores no local.

“Quando chegamos as palafitas eram atrás da rua 7 onde já começava a maré. Era uma área que havia sido recém invadida. Depois se espalhou, moradores entulhando e a Ilhinha cresceu como é hoje”, lembra.

O Promorar

Financiado pelo Banco Nacional de Habitação, o Promorar tinha a pretensão de ser implementado na Ilhinha com fins de construção de residências populares. Na época do Governo Mauro Fecury as famílias foram cadastradas, mas nunca receberam suas moradias. Segundo Osmar Gomes, o trabalho da Associação foi massificado com moradores de outras palafitas além do São Francisco, como as da Liberdade. “Passamos a congregar o movimento dos palafitados de toda a São Luís e passamos a participar de encontros nacionais em defesa do direito à moradia digna. Houve um cadastramento de todos os moradores das palafitas. Só na Ilhinha eram mais de 4 mil moradias na época. O Programa aconteceu em outros lugares, mas não lá”, lamenta o juiz.

Urbanização

Na gestão do então prefeito Jackson Lago foi construído o Residencial Ana Jansen, que acomodou 256 famílias em terra firme e área nobre. Na Ilhinha foram substituídos mais de 300 barracos por casas de alvenaria e 30 ruas foram reurbanizadas. Perto de lá, o Basa, um bairro de classe média, também foi asfaltado. Hoje, segundo Osmar Gomes, com o processo de urbanização a palafita se resume a uma ponta na área do Morro (cabeceira da ponte), Vila Jumento (que deve ter umas 30 casas) e a Portelinha que possui cerca de 300 famílias, no final da Avenida Ferreira Gullar.
Ainda neste ano deve ser entregue pelo Governo do Estado o Residencial José Chagas que vai abrigar 256 famílias de palafitas da área que compreende o São Francisco, Ilhinha e Vila Jumento.

 

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