FÉ EM DEUS

A esperança depois da tragédia

Na tarde do dia 31 de Dezembro, famílias da comunidade Portelinha foram surpreendidas com incêndio que consumiu grande parte da favela. Três dias após a tragédia, as famílias foram marcadas pela solidariedade e a esperança de um recomeço melhor

Momento em que o fogo tomou conta da comunidade Foto: Reprodução

Quatro dias após o incêndio que queimou a sua casa, o pintor Julivan Leal ainda não acredita que isso tenha acontecido. Com o olhar ainda perdido, ele diz que tem esperança que sua vida volte ao normal. Sem ter onde morar, ele divide um barraco com outras duas famílias, no próprio bairro da Fé em Deus. Ele era um dos moradores da comunidade Portelinha. E agora, tudo que ele tem condiz bem com o local que ele vive: é fé em Deus.

“Ainda não caiu a ficha. Ainda não estou acreditando que estamos nessa situação”, comenta, cabisbaixo, Julivan. Ele, a esposa e os dois filhos eram os moradores de um dos 16 barracos que pegaram fogo na tarde do último dia 30, na comunidade da Portelinha, região Fé em Deus.

“Está sendo um início de ano complicado. Fiz muito trabalho no fim do ano, mas agora todo o dinheiro que juntei já se foi, pois temos que reconstruir a vida de novo”, diz Julivan. Além da perda material, ele lamenta que os filhos estejam sobressaltados com tudo que aconteceu. Nícolas, o mais novo, de 7 anos, ainda não dorme direito, e a mais velha, Ana Lia, de 11 anos, ainda está se adaptando. Foi um susto para todo mundo. Julivan conta que estava trabalhando em uma rua próxima quando soube do acontecido. “Quando eu soube do fogo eu vim correndo. Não tinha como entrar mais na casa porque não tinha mais acesso à ponte. Tavam minha esposa e os meus filhos. Tirei eles e joguei pela lama, porque o fogo já estava na casa vizinha. Os barracos são todos perto. Salvamos as nossas vidas, mas meu cachorro morreu. Perdermos tudo também. Eu ainda estava pagando a segunda parcela da televisão e tinha acabado de comprar uma geladeira”, lamenta o pintor.

Momento em que os moradores correm para apagar as chamas. Foto: Reprodução

A família, assim como outras que tiveram suas casas incendiadas, está aguardando o resultado de uma reunião que estava marcada para ontem à tarde, na Capela de Nossa Senhora Aparecida, na Fé em Deus, para saber como ficarão suas situações.

Segundo a voluntária Maria Sá, todos os esforços de várias pessoas, dos mais diversos bairros de São Luís, estão concentrados na ajuda às famílias. No momento em que estávamos no local, várias doações foram chegando, de todas as formas: de automóvel, de carro de mão, a pés… “Toda a cidade se mobilizou para ajudar, graças a Deus. Foi um fim e início de ano muito difícil para a comunidade”, comentou a voluntária.

Dona Rosilene Vieira, outra voluntária e moradora do bairro, conta que pelo menos 50 pessoas passaram o fim de semana na Capela separando e entregando as doações. Rosilene ainda está fazendo o cadastro e organizando a entrega porque muitos dos moradores estão espalhados em casas de amigos e vizinhos.

“Foi uma coisa horrível. Um desespero. O fogo foi muito alto e já estava se alastrando para outras ruas. Resta agora a gente ajudar essas famílias a recomeçar”, lamentou a voluntária.

Tragédia e mobilização

A comunidade da Portelinha ficou quase 100% destruída com o incêndio. Equipes do Corpo de Bombeiro chegaram ao local meia hora depois do início das chamas, às 14h, mas ainda assim não conseguiram contê-las de imediato. O incêndio durou cerca de uma hora e deixou desabrigadas 16 famílias.

Doações Portelinha. Foto: Luis Furtado

Imediatamente, após o ocorrido, uma corrente solidária se formou e alimentos, roupas, calçados, utensílios, móveis, colchões já começaram a ser arrecadados na Capela de Nossa Senhora Aparecida (Rua Joaquim Serra, s/n).

A professora da Universidade Federal do Maranhão, Heridan Guterres, foi uma das que meteram a mão na massa. Ela é também moradora da Fé em Deus. Com uma postagem em uma rede social, rapidamente encontrou quem fizesse várias doações. Quem não podia ir deixar, ela mesmo ia pegar e levar para a Capela.

“Nesse caso, diante das perdas, tudo é muito bem vindo e ainda necessário. Muitos amigos ainda estão vindo trazer doações. Outra coisa, além das residências que foram atingidas pelo incêndio, há outras casas em cima da maré, cujos moradores vivem em situação difícil…com certeza, a depender do que for recebido, caso essas pessoas também podem ser beneficiadas”, contou a professora.

Foto: Luís Furtado

O servente João Francisco, da Rua da Vala, acompanhou toda a situação. Penalizado, ele e moradores do entorno também entraram na campanha. “Todos somos carentes, mas em uma hora dessas todo mundo se ajuda com o pouco que tem. A gente se coloca no lugar do outro”, comentou enquanto empurrava o carrinho de mão com doações. A Capela está de portas abertas esperando as doações.

Assistência institucional

Segundo a Prefeitura de São Luís, as famílias receberam donativos e estão recebendo apoio para emissão de documentos e outras necessidades.

Segundo a titular da Semcas, Andreia Lauande, o trabalho de identificação das famílias atingidas está sendo feito por meio das informações constantes no Cadastro Único (Cadúnico), para que sejam, inclusive, atendidas pelo aluguel social. Os atingidos estão inicialmente abrigados em casa de familiares, mas a Prefeitura, por meio da Semcas, está providenciando para que todas sejam incluídas em aluguel social até que sejam contemplados por moradia, por meio de programas de habitação. As famílias estão sendo orientadas também a procurar o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do território pertencente a Portelinha, para outros atendimentos sociais disponibilizados pelo órgão.

A Defesa Civil já realizou cadastramento das famílias. Segundo​ a superintendente do órgão, Elitânia Barros, ao todo, foram atingidos 16 barracos. Apesar da proporção, não houve vítimas, apenas danos materiais. O laudo que confirmará as causas do incêndio deve sair em 30 dias.

A dona de casa Josiane da Silva foi uma das pessoas que tiveram a casa atingida pelo incêndio. “Foi fundamental o apoio prestado pela Prefeitura, assim que tudo aconteceu. As equipes chegaram e nos atenderam com alguns suprimentos essenciais. Já fiz também meu cadastro para requerer o aluguel social”, disse ela.

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