SEM SOLUÇÃO

Caso Lucas continua uma incógnita

Mãe de Lucas Silva, jovem assassinado, afirma que não sabia da possível homossexualidade do filho

O caso do rapaz Lucas Silva de Oliveira, de 17 anos, que foi encontrado morto com o pescoço cortado em uma pista de motocross, no bairro da Divineia, na última quinta-feira (1), chocou toda a capital maranhense. Até o momento, a autoria e a motivação permanecem uma incógnita. A polícia alega que a última hipótese a ser trabalhada é a de que o jovem tenha sido morto por homofobia.
O Imparcial realizou uma entrevista exclusiva com a mãe do adolescente, a senhora Lucivânia Silva, de 41 anos, onde ela contou detalhes dos últimos momentos vividos com o filho antes de sua morte.

Dados

Segundo o Conselho Estadual LGBT, 12 homicídios já foram cometidos só este ano em todo o estado maranhense. Segundo Airton Ferreira, presidente do conselho, cobranças vêm sendo feitas diariamente às autoridades pela justiça dessas vítimas. “Temos obtido resultados. Existem apenas dois casos que seguem em investigação, incluindo o mais recente que é o do Lucas. Entre esses 12 estão transexuais e gays. E o conselho está pressionando diariamente as autoridades pela segurança de nossa classe e pela prisão desses autores”, disse o presidente.
Apenas no primeiro quadrimestre deste ano, 117 pessoas foram assassinadas no Brasil devido à discriminação por gênero e orientação sexual, conforme levantou o Grupo Gay da Bahia (GGB). O número subiu 18% em relação ao mesmo período de 2016. De acordo com o relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA), o país ocupa o primeiro lugar na quantidade de homicídios de LGBTs nas Américas, com 340 mortes por motivação homofóbica no ano passado.
Já segundo o último levantamento do Grupo Gay da Bahia, 2016 foi o ano com o maior número de assassinatos da população LGBT desde quando a pesquisa passou a ser feita pelo movimento, há 37 anos.

Pedido de respeito

Lucas foi encontrado na manhã da última quinta-feira (1º) próximo a um posto de gasolina, na Estrada do Araçagi, em São José de Ribamar, a 32 km de São Luís. Ele estava com o pescoço degolado e com várias marcas de perfurações pelo corpo. As fotos da vítima começaram a se espalhar pelas redes sociais e criou um grande desconforto à família.
A mãe do menor pediu à sociedade respeito com a imagem de seu filho. “Você não sabe a dor de saber que meu filho virou um fenômeno da internet por ter sido assassinado. Queria que vocês tivessem respeito e solidariedade conosco. Apaguem essa foto, estamos passando por um momento muito difícil”, pediu Lucivânia Silva.

Conselho LGBT emite nota

“O Conselho Estadual LGBT do Estado do Maranhão dentro de suas atribuições legais repudia qualquer ato de violência à população LGBT em geral. E repudia o fato ocorrido no último dia 1º de junho de 2017, ao jovem Lucas Carvalho, que teve a vida ceifada e interrompida no auto de sua juventude, principalmente por demostrar ser LGBT.
“Afirmamos nosso compromisso com a luta por direitos humanos e proteção, contra a violação de direito e violência a todos e todas, sendo gays, lésbicas, travestis e transexuais. O jovem Lucas era um garoto extrovertido, alegre e cheio de vida, que não merecia ser massacrado e morto da pior forma possível, tirando assim seu direito à vida, uma vida ainda em construção, pois era adolescente, e gozava de total liberdade de seus atos e direitos a viver sua livre orientação sexual. Pensamos na vida do jovem Lucas como mais uma que não virará estatística nos anais da história, e cobramos, assim, do poder público segurança e justiça a este caso e tantos outros.

“Reafirmamos, diante deste Conselho, o dever de cobrar, através da justiça, que sejam pegos, julgados e punidos por tal barbárie os que a cometeram. Somos livres, diferentes, porém, iguais no direito e no dever social. Reiteramos que o direito da vida cabe a todos e todas, independente de cor,  raça, sexo, orientação sexual e identidade de gênero. E expressamos também total solidariedade aos familiares que neste momento lamentam e choram a dor da perda”.

6 perguntas// Lucivânia Silva (mãe de Lucas)

Qual foi a última vez que a senhora viu o Lucas?
Foi na quarta-feira (31), por volta das 18h. Eu cheguei do trabalho e, como de costume, ele cuidava das primas durante a parte da tarde. Quando cheguei, ele falou que ia levar a prima dele pra casa da tia. Ele já fazia isso todo dia, e, como é perto, ele ia a pé. Várias vezes, ele dormia logo por lá. Só que nesse dia, ele saiu e disse que estava voltando pra casa, que ia tomar banho, mas que voltaria pra dormir com ela. E nunca mais voltou.

Mas a senhora não ligou nessa noite pra saber se ele iria dormir lá?
Não! Como disse, já era costume dele dormir por lá. Então, quando ele não vinha, eu já sabia que ele estava na casa da tia. Desde pequeno ele tinha esse hábito.

A polícia alega que possivelmente ele teria envolvimento com o uso de drogas. A senhora confirma essa possibilidade?
De jeito nenhum. Lucas precisava de mim até pra comprar uma balinha. Na manhã daquela quarta-feira, ele me pediu R$ 1,00. Eu perguntei pra quê e ele me disse que era pra comprar balinha.

Você sabia que ele era homossexual?
Ele nunca chegou a me dizer. Porém, tive as minhas suspeitas pelas amizades que tinha, pois todos eram gays. Como sempre, fui muito mente aberta e me dava bem com os amigos dele, isso nunca foi um problema. Cheguei algumas vezes a jogar umas indiretas pra ver se ele falava algo, mas ele nunca me falou. Acredito que o fato dele ser gay junto à crueldade desse homem fez com que ele ou eles fizessem isso com meu filho.

Ele foi à escola naquele dia?
Não. Meus embates com Lucas foram sempre com essa preguiça dele de estudar. Ele estudava à noite, mas tinha uns dias que não frequentava as aulas. Lucas sempre foi bem criança. Tinha 17 anos e cabeça de cinco. O irmão dele de 11 anos zoava muito com ele. Ele falava que Lucas era inocente demais.

Como a senhora soube da notícia?
Através de uma vizinha, amiga de Lucas, que chegou aqui em casa chorando dizendo que recebeu em um grupo de aplicativo de mensagem a foto dele, e ela queria saber se era verdade. Por horas, pensamos que era montagem, mas minutos depois chegou a mãe dessa vizinha falando da notícia e que queria me levar pra ver o corpo. Nessa hora, meu mundo desabou. Eu não sabia se chorava, se gritava. Eu simplesmente não acreditava que meu filho tinha sido assassinado. É uma dor que não desejo pra ninguém.

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