VIDA

Moradores cuidam das praças em bairros de São Luís

Ludovicenses que cuidam das pracinhas de seus bairros falam sobre o poder da união comunitária, da livre colaboração e da boa vizinhança na conservação dos espaços de lazer

Honório Moreira / O Imparcial

Há o costume de se pensar que as áreas verdes acabaram nas cidades, que as praças já não existem nos bairros, mas é engano. Elas existem, porém malcuidadas, como constatou a reportagem de O Imparcial durante visitas em algumas delas nesta semana.

Mas, em vez de falar de descuido e abandono, que tal mostrar exemplos de pessoas e comunidades que abraçaram suas pracinhas? No bairro do Angelim, o aposentado Pedro Reene Pontes, de 80 anos, tomou para si a responsabilidade de cuidar da Praça dos Ipês, comprometimento que passou também às suas filhas e vizinhos mais antigos. “Fui um dos primeiros moradores daqui, há 20 anos, quando fizeram o conjunto Angelim. Passo 24 horas cuidando da praça. Antes, só tinha piçarra, e ficamos pedindo uma praça para a Prefeitura”, contou.

Segundo o senhor Reene, marginais invadem a praça para usar drogas e quebrar as coisas, e que já chamou a polícia várias vezes, sendo inclusive “ameaçado” por alguns malfeitores

Assunto de família

As filhas de Pedro Reene, Irlene Pontes, técnica em Segurança do Trabalho, e Ione de Jesus Pontes, doméstica, avaliaram que o pai é parte fundamental para a melhoria que o bairro recebeu. “Hoje a praça é arborizada por causa de papai”, disse Irlene. “Precisamos de lugar verde para respirar melhor, e contamos aqui com um rapaz que nos fornece as plantas. Já pagamos pela limpeza esses dias, até”, contou Irlene.

Segundo Ione Pontes, uma congregação religiosa do bairro, próximo à Praça dos Ipês, tentou impedir que a praça fosse feita, pedindo um estacionamento para os carros dos fiéis. “Tivemos de brigar pelas plantas e pela praça, mas
até hoje eles estacionam por cima da grama”, relatou Ione.

Pedro Reene contou que não fazia questão dos brinquedos para crianças e nem dos equipamentos para exercício físico, mas que foi uma condição imposta pela Prefeitura Municipal. A pista de skate da Praça dos Ipês do Angelim, entretanto, ganhou significado na vida de adolescentes de um outro bairro, do Sá Viana. Em uma manhã de sábado, três adolescentes praticavam o esporte, cuidados de perto pelo responsável Matias Cesário, 39, também skatista.

“Fazemos parte do Projeto Resgate da Igreja do Evangelho Quadrangular do Sá Viana. Trago eles no fim de semana
para se divertir, quando não aqui, também vamos para a Lagoa ou para a pista do Castelinho. Mas aqui tem a pracinha, sabe, as árvores, é bom que venham aqui”, contou o esportista.

Memórias de Madalena

No bairro da Cohab, a pracinha da área VP-3 sempre foi o xodó da dona Madalena, que faleceu aos 96 anos, há dois
meses, e hoje é a herança deixada por ela para a comunidade. A dona de casa aposentada Adelaide Pinheiro, 58 anos, é quem organiza as reuniões e projetos para o espaço.

A pracinha foi feita há oito anos, como contou Adelaide, sendo antes disso apenas um terreno sem vida. “Nós compramos as plantas e um vereador nos ajudou a fazer a pracinha. Todo mundo aqui ajuda, somos unidos. Este sábado agora vamos até nos reunir, fazer uma feijoada na praça para os vizinhos e exmoradores aqui da VP-3. Uma
das coisas que vamos discutir é colocar o nome de Dona Madalena na praça. Também queremos pintar os canteiros e pôr um parquinho”, contou Adelaide Pinheiro.

A manicure Cíntia Bessa, 39 anos, também moradora da VP-3, e que estava se preparando para varrer a pracinha após a poda ser concluída, contou sobre os problemas que a comunidade tem enfrentado com a violência e consumo de drogas. “Aqui, cada um tem um canteiro, e todos cuidados, mas se você olhar, esse canteiro está quebrado, foram marginais.

Eles vêm usar drogas e quebrar as coisas. Tem também os assaltantes, que deixam coisas aqui. Esses dias de chuva, a grama e as plantas cresceram, e não deu para limpar, pois achamos duas mochilas e uma faca entre as plantas. É ruim isso, a gente cuida, mas vem pessoas destruir”, lamentou Cíntia.

Mas as boas-novas vão voltar, planejam as vizinhas, já que durante a reunião de sábado será oficializado o desejo de batizar a pracinha, hoje sem nome, de Praça Madalena, em homenagem à vizinha e amiga querida.

Cata-ventos e ação

No conjunto Parque Atenas, no bairro do Cohaserma, são as vizinhas Maria Luiza Costa Roberto e Concita Buna que, junto com o resto da vizinhança, têm um carinho e cuidado especiais com a pracinha em frente às suas casas, feita há quatro anos. “Olha, aqui já foi até mais arrumado, sabe, mas começaram a aparecer umas pessoas pra quebrar e sujar. É ruim. A Concita fez esses cata-ventos, mas está até chateada, e com razão”, contou Maria Luiza, que é
empresária.

Segundo ainda Maria Luiza, a união dos moradores é necessária para conservar as praças dos bairros. “Às vezes você pensa que não tem praças, mas tem muitas nos bairros, as pessoas que não cuidam. Aqui, as ruas estavam esburacadas, mas recolhemos doação com todos os moradores e arrumamos. O dinheiro que sobrou, mandamos fazer uma limpeza.

Para ela, não se pode apenas esperar o poder público. “As pessoas são desunidas e tudo esperam, tudo pedem, votam pedindo as coisas. Parece que esperam que o governo venha e até dê banho nos filhos delas. Não é assim”, explanou. A pracinha não possui nome e o terreno foi cedido pelo poder público para a associação local de moradores.

Concita Buna, que mora há 29 anos no Parque Atenas, contou que quando chegou à casa toda a parte em frente era apenas mato. Então, resolveu que faria pelo menos o pedaço que lhe serve de vista e que o resto da pracinha foi feita no final do mandado da última gestão do Estado. “A área em frente aqui de casa é a maior, porque já estava feita. Há dois anos comecei a fazer os cata-ventos, e tinha mais deles, só que pessoas tiraram”, contou.

É Concita também quem organiza as datas festivas da vizinhança, como São João e Natal. “Olha, não sou muito de vizinhos, sou de ação. A gente aqui tem bastante trabalho e temos que trabalhar juntos. Temos que brigar com o governo, mas também temos de fazer as coisas por nós. Sou muito de lutar pela minha cidade”, enfatizou.

VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Negócios
Mais Notícias