Mulheres que inspiram

Os desafios de ser cineasta e mulher

Inspire-se em Maria Theresa Soares, uma bem-sucedida cineasta maranhense que luta contra o sexismo no mercado de trabalho

Reprodução

Elas estão em todos os lugares: em reuniões de negócios, dirigindo caminhões, em redações de jornais, negociando com clientes e em muitas outras funções. No meio de tudo isso, elas também se fazem persentes no mercado cinematográfico, que, apesar de não parecer, traz muitos desafios para a mulher cineasta.

Sabendo isso, O Imparcial conversou com Maria Theresa Soares, cineasta maranhense, nascida em São Luís, fotógrafa, funcionária pública, mestranda do Programa de Cultura e Sociedade na UFMA, organizadora da Associação Brasileira das Mulheres da Imagem e, claro, mulher (bem-sucedida).

“Ainda no segundo grau, optei por prestar vestibular para Cinema, mas como, na época, só haviam três universidades públicas deste curso (UFF, USP e UnB), envolviam custos e dificuldades no processo. No primeiro momento, entrei para o curso de Rádio e Tv, na UFMA. Não saberia precisar o momento que escolhi fazer cinema; possivelmente tem a ver com memórias afetivas, sobretudo ter vivenciado as visitas à casa de minha avó”, explica.

Após estudar fotografia em São Luís, Maria Theresa foi ao Rio para participar de uma curta temporada de cursos, em que foi aluna do cineasta Walter Lima Junior. “Ao retornar à São Luís, fui eleita presidente da Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas, aos 19 anos. Cursei 4 períodos na UFMA, porém prestei a prova e ingressei definitivamente na UFF”, completa.

O mundo do cinema é um mundo encantador para muita gente, e imaginar, que nos bastidores das produções, atrizes, produtoras e diretoras são vítimas de preconceito, parece uma realidade distante desse mundo cheio de brilho. Mas, definitivamente, não é.

“O dia a dia, para quem trabalha em set de filmagem, é bastante exaustivo, para mulheres é ainda pior, pois o sexismo é evidente.  Às vezes, parece extremamente “natural” mulheres no cinema, o que não é. Existe assédio moral e sexual na carreira cinematográfica, como também é recorrente em outras carreiras, infelizmente”, revela Maria.

De acordo com dados das Associações de Cinematografia, as mulheres correspondem, apenas, entre 4% e 7% dos associados. “Ouvi, recentemente, uma pessoa me perguntando se eu sabia dirigir um filme após receber o certificado do Edital de Audiovisual. Também ouvi, de um aluno, o quanto ele havia ficado impressionado por eu ensinar sobre cálculos de Física Ótica. Uma terceira situação, foi mais constrangedora, pois envolvia a objetificação sexual. Todas as três situações foram conversas com homens”, disse a cineasta, ressaltando que demorou alguns anos para perceber que havia optado por uma das carreiras mais difíceis dentro do cinema, a fotografia.

Atualmente, atrizes de Hollywood como Emma Watson e Natalie Portman lutam publicamente contra o sexismo no cinema hollywoodiano. “Depois de muitos anos, os Oscars (que, para muitos, é a grande vitrine do cinema mundial) premiou mulheres negras e isso ainda é visto como algo inusitado, o que não faz o menor sentido. São várias as camadas de preconceitos, sem dúvida. Na história do cinema maranhense, são raros os nomes femininos. O grande eixo continua sendo Rio e São Paulo, mas com políticas de fomento em nível nacional auxiliam as possibilidades de realizações cinematográficas, inclusive para mulheres”, avaliou.

“Acredito que o Brasil, de modo geral, é bastante sexista, e no nordeste é mais evidente isso. Todas as situações mencionadas anteriormente aconteceram aqui em São Luís”, completa, ressaltando que o preconceito existe em todos os aspectos, de identidade de gênero, seja cis-gênero ou não, racial, de classe econômica até orientação sexual. E isso não é só no cinema. “Se eu perguntasse o nome de uma cineasta negra possivelmente não ouviria respostas”, alerta.

Avaliando a ausência de mulheres no mercado cinematográfico, Maria afirma que muitas profissionais se sentem intimidadas pela maioria masculina neste meio. “Não há uma grande representação feminina. O empoderamento feminino se faz bastante necessário, não só para esta, assim como para outras carreiras que são, majoritariamente, “masculinas” ainda. Creio que o campo está se abrindo mais às possibilidades para as mulheres nas diversas funções”, afirma.

Além de um dia de muito carinho, o Dia da Mulher é, acima de tudo, um dia de reflexão. “O dia da Mulher é um dia fundamental para relembrar que “parece tudo equilibrado” entre os gêneros, o que não é. Aos poucos, as lutas feministas ganham conquistas, desde o direito a ir à escola, ao voto, a escolha do marido – direitos básicos. A lei Maria da Penha e do Feminicídio são marcos importantes no combate à violência contra a mulher, que ainda registra números aterrorizantes. A mulher ainda é penalizada simplesmente por ser mulher. O Feminismo se faz muito necessário na conscientização de todos, para que haja, de fato, um equilíbrio social entre os gêneros”, alerta.

 

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