Mergulho

A dúvida das praias: impróprias?

Segundo uma pesquisa do jornal Folha de São Paulo, divulgada no último domingo (5), todas as praias monitoradas em São Luís estão impróprias para banho. O Governo do Maranhão contesta. A dúvida fica

Reprodução

Em outubro do ano passado, Marina soltou um grito que a assustou a todos em sua casa ao abrir o Facebook e ver uma notícia do Governo do Maranhão sobre um laudo de balneabilidade divulgado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais. “Olha aí. Não disse!”, regozijou. A notícia era didática, distribuía bandeirolas verdes por uma ilustração da orla de São Luís, e tinha um título vaidoso: “Novo laudo atesta praias 100% próprias para banho”.

Nascida na única capital nordestina sem praia, Teresina, Marina mudou-se para São Luís em setembro de 2016, logo após ser aprovada no ENEM para Universidade Federal do Maranhão. A escolha da cidade não foi aleatória. Além da oportunidade de frequentar o curso de graduação que sempre desejou, ela tem um grande apreço pela ilha. “A cidade é linda, né? O Centro Histórico, as pessoas são muito receptivas. E tem praia. Adoro praia. Quer dizer… Tinha, né”, hesitou.

Filha de uma hipocondríaca-mãe-coruja, desde que chegou à nova cidade, Marina ainda não conseguiu sequer por os pés na areia fofa da Praia de São Marcos, Calhau ou Ponta d’Areia. “Da última vez que fomos à praia, só fiquei no calçadão, olhando as ondas de longe.” Uma cena pejorativa mudou o fim de semana. “Minha mãe viu um esgoto que escorria para o mar e disse que eu não entraria ali ‘de jeito nenhum’”. Restou a Marina guardar o biquíni, a canga e aguardar uma epifania surfista que atestasse a limpidez da maré espumante. “É mãe, né, cara. Tem que obedecer. Pelo menos, quando vamos, dá para sentir a brisa no rosto”.

No último domingo (5), foi a vez da mãe de Marina dizer “Olha aí. Não disse!”, ao mostrar com o dedo indicador tocando a tela do computador uma pesquisa o jornal Folha de São Paulo, que monitorou 1.180 pontos de praias em 14 estados do país. Todos os 16 pontos analisados no litoral de São Luís foram classificados como péssimos. Segundo a pesquisa, “O banho de mar em áreas impróprias pode resultar em problemas de saúde, sobretudo doenças gastrointestinais ou de pele, como micoses”, parágrafo que a mãe de Marina fez questão de ler em voz alta.

Com o semblante atônito de quem se livrou de uma enrascada e uma leve coçada na cabeça como quem assiste um filme e não sabe quem é o vilão, Marina agradeceu à mãe pelo livramento. “Na dúvida, melhor não entrar na água”, disse, resignada. Perguntei a ela se as praias fazem muita falta. Ela confessou que “até que não”. Disse que começou a namorar um rapaz que tem dotes culinários e passa os fins de semana cozinhando. “Como ainda não conheço muito a cidade, ele compra os ingredientes, frutas e legumes na feira do… É…  João Paulo! Onde disse que é mais barato. Ele traz e a gente prepara aqui”. Marina diz ficar triste com a situação das praias, mas que conseguiu superar. “Não posso ir à praia pois está suja, mas pelo menos as feiras de São Luís são limpas e podemos nos deliciar”. Ela repara meu olhar de descrédito. “Meu Deus! As feiras também? Não deixa minha mãe ouvir isso”, sussurrou.

Em nota, o Governo do Maranhão disse que os dados da pesquisa da Folha são desatualizados e relativos ao início de 2016, quando obras importantes ainda estavam tendo início. Marina continua namorando e feliz, mesmo sem ir à praia.

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